Somos
mais de 5 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais, ligado à FETAGRI, MST e
FETRAF dos vários municípios das regiões sul e sudeste do nosso Estado. Viemos
de acampamentos e assentamentos e há mais de 30 dias estamos acampados em
frente ao INCRA de Marabá, exigindo a vinda de autoridades do governo federal e
do governo estadual para negociarmos nossa pauta.
Foi
graças a nossa luta nas ultimas décadas que temos hoje na região 500
assentamentos onde estão morando e produzindo mais de 70 mil famílias de
agricultores familiares. Um número de trabalhadores, quase duas vezes o tamanho
da população da cidade de Marabá, espalhados na área rural de nossos
municípios. Imaginem se toda essa população tivesse morando na periferia das
cidades da região. O problema da pobreza e da violência seria ainda mais grave.
É
o trabalho desses camponeses que faz chegar à mesa de grande parte da população
das cidades do sul e sudeste, o arroz, o milho, a farinha, o feijão, o leite, o
queijo, as hortaliças, o peixe, o cupuaçu, o maracujá, o açaí e muitos outros
produtos. Nos latifúndios onde apenas o boi, criado para exportação, pisava e
pastava e onde o trabalhador foi sempre explorado e escravizado, hoje temos
milhares de famílias, plantações e muita produção. De acordo com o ultimo censo
agropecuário do IBGE, a agricultura familiar é responsável pela maioria dos
produtos que vão para a mesa dos brasileiros, ou seja, 34% do arroz, 70% do
feijão, 46% do milho, 58% do leite, 59% dos suínos e 50% das aves, são
produzidos pelos trabalhadores rurais.
Mesmo
produzindo a maioria dos alimentos, ocupamos a menor parte das terras. Quase
50% das propriedades rurais no Brasil possuem menos de 10 hectares e ocupam
apenas 2,36% das terras agricultáveis, por outro lado, menos de 1% das
propriedades rurais no Brasil tem área acima de mil hectares, no entanto,
ocupam 44% das terras agricultáveis. É muito terra nas mãos de poucos
latifundiários que produzem apenas para exportação.
Queremos
continuar no campo e produzir ainda mais, mas, para isso necessitamos de
estradas para escoar a produção, de créditos para os projetos produtivos, de
assessoria técnica para orientar o processo produtivo, de energia elétrica e do
assentamento das famílias que estão nos acampamentos. É POR ESSA RAZÃO QUE
ESTAMOS ACAMPADOS!
O
governo se nega a atender nossas reivindicações. Há dinheiro para construir
hidrelétricas, ferrovias, hidrovias, siderúrgicas, etc mas, dizem que não há recursos
para a reforma agrária e a agricultura familiar. É tempo de prepararmos a terra
para uma nova safra e não podemos voltar para nossos lotes de mãos vazias. Por
isso continuaremos acampados.
Reconhecemos
os transtornos causados à população de Marabá em razão das interdições da BR
230 (Transamazônica), mas, infelizmente, foi a alternativa que nos restou para
chamar a atenção do poder público. Se duas manhãs de interrupção da pista
causou tanta indignação, imaginem vocês, a situação de quem vive isolado ano
após ano nos assentamentos rurais.
Nos
últimos 10 anos, de acordo com o IBGE 4 milhões de pessoas deixaram o campo e
migraram para as cidades. Maioria foi direto para a periferia, vivendo em
situações precárias, sem saneamento básico, sem acesso à saúde e educação de
qualidade e ainda convivendo com a violência, as drogas e a prostituição. A
nossa luta é para que possamos continuar no campo.
Nos
dirigimos à sociedade marabaense para pedir seu apoio e compreensão. É preciso
unirmos as lutas dos trabalhadores do campo e da cidade. UMA SOCIEDADE MAIS
JUSTA DEPENDE DO ESFORÇO DE TODOS NÓS!
EXIGIMOS: Atendimento imediato de nossa pauta; Prisão e punição
para pistoleiros e mandantes dos assassinatos de JOSÉ CLÁUDIO e MARIA e de
outros trabalhadores; O fim da criminalização dos movimentos sociais.
Marabá, 17 de junho de 2011.
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