quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Assassinatos e impunidade no campo do Pará: 1980-2024: obra será lançada no dia 20, em Belém, na Casa COP do Povo

A obra recupera 45 anos de violação de direitos humanos na luta pela terra e pelo território no Pará, considerado o estado mais letal do País

 

Antônia Ferreira dos Santos e Marly Viana Barroso quebradeiras de coco babaçu no município de Novo Repartimento, no sudeste paraense, foram brutalmente assassinadas no dia 03 de novembro. No dia 07, às vésperas da abertura oficial da COP 30, o lavrador Sebastião Orivaldo da Fonseca Lopes foi executado no município de Ipixuna do Pará.  O agricultor do projeto de assentamento Campo de Boi vinha sendo ameaçado de morte.

As jornadas desenvolvimentistas impostas para a Amazônia engendraram e naturalizaram as violências como um componente inerente ao processo de expansão do capital sobre a fronteira amazônica. Nesta geografia de expropriações, mortes, chacinas e trabalho escravo, o estado do Pará possui destaque. 

O número de pessoas na mira na bala é incerto. Todavia, somente do Projeto Agroextrativista Lago Grande, na cidade de Santarém, conta-se 20 pessoas, adverte o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) do município. Na lista, constam os nomes da presidente e do vice do STTR, Ivete Bastos e Edilson Figueira, respectivamente.

É justo sobre este drama que a obra Assassinatos e impunidade no campo no Pará: 1980-2024 lança luzes. O livro é assinado pelo advogado José Batista Afonso e o historiador e professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA), campus de Marabá, Airton dos Reis Pereira.

O livro tem a colaboração de especialistas e representações dos movimentos sociais ligados à luta pela terra, a exemplo do padre e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Ricardo Rezende, do professor da UFPA, Girolamo Treccani, de Luzia Canuto, do Comitê Rio Maria e de Ayala Ferreira (MST/PA).

O lançamento da obra que registra 45 anos de violência no campo ocorre no dia 20, a partir das 10h, na Casa COP do Povo, na Travessa da Piedade, nº 426, Reduto/Centro, em Belém. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Instituo Zé Cláudio e Maria (IZM) são os responsáveis pelo evento.

Sobre o livro – resultado da vivência e registros da CPT, os quais constam nos arquivos em Belém, Xinguara, Marabá e Goiânia. Em suas 800 páginas a obra recupera a morte de anônimos, chacinas e massacres no Pará ao longo de 45 anos. Ao todo, o livro trata de 1.003 assassinatos. O ponto de partida dos casos relatados deu-se com a execução do dirigente sindical e agente da CPT, Raimundo Ferreira Lima, conhecido como “Gringo”, ocorrido no ano de 1980.

Quatro capítulos conferem corpo à obra, que saiu pela editora Dialética/SP. O primeiro trata de casos de camponeses, indígenas e garimpeiros. O segundo trata dos casos das lideranças assassinadas. Enquanto o terceiro aborda chacinas e massacres, o derradeiro sublinha execução de peões mortos em conflitos trabalhistas e em condições análogas à escravidão.

Sobre o mesmo tema, os autores e movimentos sociais do Pará lançaram em 2022, o Luta pela terra na Amazônia: mortos na luta pela terra! Vivos na luta pela terra!, igualmente volumoso. 

Sobre os autores

Airton Pereira e José Batista são migrantes que aportaram pelas barrancas do Araguaia em Conceição do Araguaia no século passado. Foram forjados como pessoas e como profissionais sobre os auspícios da parcela progressista da Igreja Católica.  Nestas lonjuras, o advogado de posseiros e de sem-terra, frei Henri des Roziers serviu de farol. O francês foi um destacado defensor de direitos humanos no Pará.

Pereira, natural do estado de Goiás, chegou a fazer parte do quadro da Comissão da Terra nas dioceses de Conceição Araguaia e Marabá. Em seguida tornou-se professor da UEPA. Suas pesquisas retratam as disputas pela terra no sul e sudeste do Pará. Regiões consideradas as mais letais do país. O professor é autor de inúmeros artigos e livros sobre o assunto. A tese de doutoramento de Pereira, apresentada na Universidade Federal de Pernambuco, foi finalista do Prêmio Nacional da CAPES. 

José Batista Afonso é advogado da CPT em Marabá. Já fez parte da direção da instituição.  Possui mestrado em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia pela Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará).  Milita na região há mais de 30 anos. Entre os inúmeros processos em que participou, consta o conturbado processo do Massacre de Eldorado do Carajás, que ano que vem soma 30 anos.

 

Serviço:

Assassinatos e impunidade no campo do Pará: 1980-2024

Editora Dialética

800 páginas

Preço: 169,90