sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ver o Peso - Documentário registra vida de trabalhadores da feira de alimentação



Seis narrativas dão vida ao filme, resultado de dissertação em Ciências Sociais da pesquisadora Rosa Rocha



Com duração de 22 minutos, o documentário apresenta elementos de socialização das relações sociais de trabalho, e da identidade dos feirantes da Feira de Alimentação do Ver-o-Peso. O filme assinado pela socióloga Rosa Rocha, resulta de mais de dois anos de pesquisa no Mestrado de Ciências Sociais da UFPA/IFCH/PPGCSA, e conta com patrocínio do Edital do Banco da Amazônia – BASA, 2015. O lançamento ocorre no Sesc Doca Boulevard, no dia 09,  quarta feira, às 18h, seguido de debate com a equipe.   

Do nascer ao pôr do sol, os feirantes dona Carioca, Odília, Josy, João e Vitor são os protagonistas do registro. Falam de suas concepções e vivências, em meio as diversidades de comportamentos, de expectativas e de interesses que costuram as relações econômicas, sociais, políticas e culturais na Feira.

Na fala de um dos feirantes sobre o maior mercado a céu aberto da América Latina “[...]tudo e todos são observados. Não se passa nada na feira sem que ninguém saiba quem você é.[...] Já faz tempo que trabalho aqui [...], daqui tiro o meu sustento e da minha família [...], não sou só feirante, sou cidadão [...] e me reconheço como um trabalhador da feira”.

Entre os cinco personagens que conduzem a narrativa, existem diferenças de geração e de trajetórias pessoais e profissionais. Alguns sempre trabalharam na feira, a exemplo de D. Carioca, outros já tiveram experiência em outros setores da economia, como no comércio e na indústria. Em comum, entre todos existe um forte sentimento de pertencimento ao local de trabalho.

Para Rosa Rocha, “a experiência junto aos trabalhadores e trabalhadoras da feira foi enriquecedora como pesquisadora e ser humano”. Marcelo Rodrigues foi o cinegrafista e editor do documentário que homenageia a feirante Carioca, que por 50 anos trabalhou no Ver O Peso. A festejada operária do mercado faleceu há dois anos.

Serviço:
O que: Lançamento e debate do documentário Todo Dia é Dia de Feira!
Onde: Sesc Doca Bulevar
Dia: 09 de dezembro
Hora: às 19h
Contato - Rosa Rocha
98176 9949    

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Barcarena e a propaganda da responsabilidade social das empresas



Moradora da Praia da Vila do Conde - Barcarena

Em anúncio de meia página no diário dos Barbalhos, neste domingo, 29,  a Associação Brasileira de Exportação de Gado (ABEC) defende a retomada do embarque de boi em pé.  Em longo texto defende as “benesses” que o setor presta ao estado.

Aos moldes de um obtuso burguês elenca números da economia, ao menos os que considera positivo, como o fato da exportação de gado  ser o segundo item da balança comercial do estado. Nada é mais colonial que a imagem do boi abarrotado em navios improvisados.

Até o dia de hoje as empresas envolvidas no crime ambiental e a Companhia Docas do Pará (CDP) não apresentaram um plano de retirada das carcaças do gado e do navio.
 
Os moradores sofrem pela falta de distribuição de água potável e cesta básica, que tão básica não dura mais que um dia.

Omite que a pecuária é o setor, que ao lado da mineração e obras de infraestrutura, respondem pelos indicadores do desmatamento na Amazônia. 

Relega ao fim da fila as péssimas condições de sobrevivência das populações que foram atingidas por um conjunto de acidentes ambientais que a cidade de Barcarena acumula.
E desconsidera as pesquisas do Evandro Chagas e do departamento de Química da UFPA, que alertam sobre as péssimas condições da água do município.

Além da morte de quase 5 mil cabeças de gado, havia ocorrido dispersão da soja em rios e furos da cidade em barcas da empresa Bunge.

Ao longo dos anos os recursos hídricos da cidade estão sendo comprometidos pelos transbordamentos das barragens de rejeitos das empresas Albras e Alunorte, controladas pela norueguesa Norsk Hidro, que controla da cadeia de alumínio.  E pela francesa Ymeris, que extrai caulim.

Assim como a Abec, na mesma edição dominical, a Ymeris festejou projetos em caderno especial dedicado à responsabilidade social.  

O transbordamento da bacia de rejeitos da empresa feriu de morte o rio Curuperé, e os moradores do entorno.

Os mesmos estão impedidos de cultivar a terra e usar o rio, e ainda sofrem processo de expropriação para a expansão da fábrica.

Moradores informam que a empresa tem se recusado a pagar pelo serviço ambiental prestado peloso moradores pela manutenção da floresta em pé.


Uma moradora informa que “aqui temos castanheiras e outras árvores seculares e frutíferas, e a empresa não quer pagar por elas, que serão derrubadas. E estão colocando um preço irrisório no metro da nossa terra”.

 
Boi em queda

Nos últimos anos a exportação de gado experimenta uma queda. Segundo nota da Scott Consultoria, com base em indicadores do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), 27,7 mil cabeças de bovinos foram negociadas pelo Brasil até junho de 2015. Na comparação com o mesmo mês de 2014, houve uma queda de 17,2%. O faturamento foi de US$ 28,3 milhões, 13,7% menos em relação ao mesmo mês de 2014.
O Pará foi o único estado exportador de bovinos vivos este ano, porém os dados estaduais também indicaram retrocessos, segundo a Scott Consultoria.  Até a metade de 2015 foram exportadas 123,4 mil cabeças, 69,2% a menos do que na primeira metade de 2014. A queda no faturamento foi de 69,9%. No primeiro semestre de 2014, os ganhos foram em torno de US$ 401,3 milhões.  

 


domingo, 29 de novembro de 2015

Os heróis do Bar da D. Neusa


 

Pitolé tem um metro e meio. O homem magro adota o grisalho cabelo sempre curto. Bebe todo dia. Religiosamente paga com o dinheiro adquirido em sua transportadora uma buchudinha no buteco da D. Neusa.  

Pitolé é um empreendedor do setor de transporte. É um “burro sem rabo”.  Aquele que faz frete em uma carroça de madeira. No caso dele, um carro de mão. Devidamente identificado. Trata-se da Transpitolé.  

O autônomo mora na Rua do Fio, bairro da Guanabara, quebrada de Ananindeua, região metropolitana de Belém. Pitola, como é tratado pelos íntimos, cumpre a rotina em comprar a pinga e apostar no coelho.

Todos na comunidade comentam que ao contrário dos demais papudinhos, Pitolé nunca pede. Defende o troco na estiva sob o céu inclemente ou a chuva torrencial.

Vez em quando o senhor que deve somar umas 50 primaveras aparece com a face em desgraça. Resultado de algum acidente movido pela embriaguez. Louro, que encontra-se na mesma faixa etária, rivaliza no ramo de negócios de Pitolé. 

Ao contrário de Pitolé, sempre que sobra algum troco, Louro toma uma breja e fuma um preto.  Desinibido, pede cigarro e cerva. Não é tão magro como Pitolé. Em comum, os empreendedores da quebrada possuem como hábito exibir o corpo. Quase sempre estão desprovidos de camisa.  

O Bar da Neusa é a referência para encontrar os dois, além de aposentados, desempregados, funcionários públicos, professores, policiais e gente com dívida com a justiça. Alguns com o tornozelo ornado por uma pulseira preta.
 
É o Bar da D. Neusa uma catedral de vencidos? Ali divirto-me com as narrativas de Dicó.  Um senhor de mais de 70 anos. Aporta no lugar sempre de bike cargueira. A magrela é um instrumento usado pelos idosos que trocam um dedo de prosa ali.

Dicó é atravessador no negócio de filé. Já mexeu com rinha de galo, onde cumpria o papel de treinador e negociante, onde orgulha-se em ter feito inúmeras estrelas. Ele é doutor em puteiros da Pedreira. Um dia quero roubar essa história. Vai custar uns litrões de breja, consumo favorito do bem humorado senhor.