sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Volkswagen é condenada por trabalho escravo

Por dano moral coletivo a empresa alemã foi condenada a pagar um multa de R$165 milhões

 

Fazenda Cristalino, no sul do Pará. Fonte: redes sociais

Mais de 40 anos após o crime perpetrado na fazenda Cristalino, em Santana do Araguaia, no sul paraense, a empresa alemã é condenada pela prática de trabalho escravo.  A multa estipulada é de R$165 milhões por dano moral coletivo. A ação foi movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) da 8ª região em dezembro de 2024. A decisão foi assinada hoje,  pelo Juiz Otávio Bruno da Silva Pereira. A condenação é de primeira instância. Ela pode ser lida AQUI

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

2ª Bienal das Amazônias abre em Belém com trabalhos de 74 artistas e coletivos de oito países Pan-Amazônicos

A semana de abertura será marcada por uma programação intensa de performances e encontros públicos. Um dos momentos centrais será a homenagem ao artista acreano Roberto Evangelista

Marta Brasil

2ª Bienal das Amazônias abrirá ao público no dia 27 de agosto de 2025 em Belém (PA) com o conceito curatorial Verde-Distância. A mostra, que reúne trabalhos de 74 artistas e coletivos de oito países da Pan-Amazônia e do Caribe, seguirá aberta até 30 de novembro, com entrada gratuita. Esta edição apresenta uma constelação de práticas artísticas que atravessam territórios, sonhos, memórias, linguagens e escutas. A curadoria é de Manuela Moscoso (curadora-chefe), junto com Sara Garzón (curadora adjunta), Jean da Silva (cocurador do programa público), e Mónica Amieva (curadora pedagógica). Leia a íntegra AQUI

Fazenda palco do Massacre de Pau D´arco é desapropriada para fins de reforma agrária.

Decisão foi assinada ontem pelo juiz federal Eneas Dornellas, da subseção de Redenção

Enterro de vítimas de massacre no Pará. Foto: Lunae Parracho/Reuters

A Justiça Federal autorizou a desapropriação por interesse social da Fazenda Santa Lúcia, no sul do Pará, onde em 2017, 10 trabalhadores rurais foram assassinados, no que ficou conhecido como Massacre de Pau D'arco. Lá também uma testemunha do crime, Fernando, foi assassinada 4 anos depois, após sofrer diversas ameaças, e o advogado que defendia os trabalhadores, Vargas, chegou a ser preso, após armação dos latifundiários. Isso inclusive é retratado no documentário Pau D'arco. É uma grande vitória da luta pela terra na Amazônia. Leia a íntegra da decisão  AQUI

FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO: ENTREVISTA COM O POETA E ENSAÍSTA PAULO NUNES

 Tornou-se a Feira mero oba-oba de vitrine??? 

Professor da UEPA e da Unama e poeta Paulo Nunes. Fonte: rede social 

Repercuto aqui a bela entrevista realizada pelo cronista Leal Kostav. Grato pela gentileza em autorizar a publicação neste modesto espaço. 

Na tarde úmida de Belém, entre o rumor das mangueiras e um vento que parece antigo, encontro-me com Paulo Nunes. Professor doutor, poeta, ensaísta: três modos de olhar o mesmo rio. A Pan-Amazônia corre nele como memória e urgência. Não se trata de polêmica, mas de nitidez. À mesa, uma xícara que já esfriou e um caderno com anotações atravessadas por setas — como se o pensamento precisasse de flechas para abrir passagem. O que segue é uma conversa que tenta ouvir o que o livro sussurra quando a feira faz barulho demais.

ENTREVISTA

Leal Kostav: Quando o senhor diz que a Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes “perdeu o foco”, o que exatamente se desfocou: o olhar de quem organiza, o espelho que a feira oferece ao público, ou a luz que deveria incidir sobre a literatura?

Paulo Nunes: Desfocou-se o conjunto. Uma feira não é só vitrine, é instrumento de formação. Quando o espetáculo toma o lugar do debate, a luz vira holofote e cega. O foco deveria estar no livro como experiência estética e crítica, nas multivozes como pluralidade real, não como adereço. Sem eixo curatorial firme, vira oba-oba — e o leitor, que é sujeito, passa a ser tratado como plateia.

Leal Kostav: O senhor reverencia Wanda Monteiro e Mestre Damasceno, “o vigor do não canônico”. O que o não canônico tem que a feira esqueceu? E por que assusta tanto?

aulo Nunes: O não canônico desarruma prateleiras. Ele traz oralidade, fricção, contradição. É a floresta falando no entremeio da página. Assusta porque exige escuta e risco; não se mede em cifras fáceis. Homenagear esses nomes é sinal de vida, mas a homenagem precisa irradiar para a programação: mesas que confrontem paradigmas, editores independentes com espaço real, um público provocando e sendo provocado.

Leal Kostav: “Cadê o intercâmbio Pan-Amazônico e internacional?” Como seria, para o senhor, um intercâmbio que não vire apenas turismo literário?

Paulo Nunes: Troca de método e de imaginário. Convidar autoras indígenas do Peru e da Colômbia não para exotarizar, mas para discutir política linguística, direitos autorais em territórios tradicionais, circulação transfronteiriça. Oficinas bilíngues, traduções em processo abertas ao público, coedições entre pequenas editoras da região, residências de crítico e tradutor. Intercâmbio é ponte por onde passam livros, sim, mas também passam políticas, protocolos, afetos.

Leal Kostav: O senhor cita autoras e autores do Pará — Mônica Malcher, Rosângela Darwich, Airton Souza, Isadora Salazar, Roberta Tavares, Antônio Moura, Giselle Ribeiro, Vasco Cavalcante. Em que medida a curadoria falha com essa casa de força? E como reparar sem cair no “localismo obrigatoriamente ufanista”?

Paulo Nunes: Falha quando transforma a presença local em cota. Esses nomes não pedem concessão, pedem leitura. Reparar é dar centralidade crítica, não apenas estande. É colocar essas obras na mesa mais nobre, em diálogo com outras cenas, e convocar mediação qualificada. O local não é um cercado, é um portal. Ufanismo se desfaz quando a exigência estética é critério — e ela o é.

Leal Kostav: “Literatura não é produto fru-fru.” Porém há planilhas, patrocinadores, metas. O que fazer com o número quando ele fica com ciúmes do sentido?

Paulo Nunes: Ensinar o número a ler. Métrica não precisa ser inimiga do mérito. Avaliar impacto por bibliodiversidade, formação de leitores, permanência de acervos nas escolas, número de traduções iniciadas, contratos assinados por editoras pequenas. O show traz gente? Ótimo. Mas que essa gente encontre pensamento. Caso contrário, a feira vira shopping de brochuras.

Leal Kostav: O senhor fala em “pedir consultoria” quando falta equipe com escuta e projeto. Que consultoria, de quem, e para quê?

Paulo Nunes: Curadores com experiência em feiras de formação, bibliotecárias públicas, professoras da rede, lideranças indígenas, quilombolas, editoras independentes, livreiros de sebo — como o do Gueto —, tradutoras, pesquisadoras de políticas do livro. Um conselho curatorial plural, com mandatos e transparência. Para quê? Para montar eixos temáticos, rever critérios de convite, mapear lacunas, medir efeitos. Humildade institucional não diminui ninguém: amplia.

Leal Kostav: Homenagear, em 2026, um autor de “qualidade duvidosa”, como o senhor disse, é um gesto simbólico. O símbolo pode ser corrigido? Ou será sempre uma mancha?

Paulo Nunes: Símbolo é escolha de linguagem. Dá para corrigir mudando a gramática: estabelecer critérios públicos de homenagem, com pareceres técnicos, consulta à comunidade literária, leitura crítica documentada. Se insistirem no atalho, vira mancha pedagógica: ensina o pior às novas gerações — que prestígio é ruído, não obra.

Leal Kostav: O senhor saúda PakaTatu, sebo do Gueto, editoras universitárias, IHGP, o estande democrático de autores paraenses, a ousadia da IOEPA reeditando Dalcídio, Benedicto, Haroldo. Nessa constelação, o que falta acender?

Paulo Nunes: Falta o circuito. Reedição sem circulação é vela ao vento. Precisamos de clubes de leitura nas periferias com mediação paga, compras públicas inteligentes para bibliotecas, formação continuada de professores, políticas de desconto para livrarias de bairro, laboratórios de leitura em praças, logística para o interior. Dalcídio vivo é Dalcídio lido.

Leal Kostav: Se a SECULT-PA aceitasse hoje o “tempo de repensar”, qual seria seu plano de 100 dias?

Paulo Nunes: Três frentes. Curadoria: conselho plural instituído, eixos temáticos definidos, edital público para mesas e oficinas. Formação: calendário de mediações, parceria com redes de ensino, cota de ingressos e transporte para escolas e bibliotecas, kit de acervo básico. Circulação: convênios com editoras pequenas, política de preço justo, feira satélite no interior. E, sobretudo, transparência radical: publicar orçamento, critérios, avaliações.

Leal Kostav: Por fim, professor: o que é, para o senhor, o silêncio de uma feira de livros depois do último dia?

Paulo Nunes: É um teste. Se o silêncio for vazio, a feira foi ruído. Se o silêncio vibrar nas casas, nas escolas, nas leituras que começam, então o livro ficou. Eu trabalho para esse vibrato — que não é oba-oba, é permanência.


terça-feira, 26 de agosto de 2025

Ufopa eterniza legado de Benedicto Monteiro com título de Doutor Honoris Causa

Escritor paraense é homenageado por sua contribuição à cultura, política e história da Amazônia.

Reitora da Ufopa, Aldenize Xavier entrega título de Doutor Honoris Causa à filha do homenageado (Benecdito Monteiro), Wanda Monteiro

Na tarde desta terça-feira, 25, a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) realizou sessão solene no auditório da Unidade Tapajós para a entrega do título de Doutor Honoris Causa a Benedicto Monteiro (in memoriam). O título constitui a mais elevada distinção acadêmica outorgada pela Ufopa. Leia a íntegra AQUI


Veja a solenidade AQUI

Neguim


Av Fernando Guilhon/Santarém/PA. Foto: R. Almeida


Neguim é neguinho. É miúdo. É pouquim.  Quase ninguém. Um invisível na fila do pão. A dose de pinga de cada dia ajuda na manutenção do calibre franzino. Assim como enfrentar os aperreios. Nem só de pinga vive Neguim. Vez em quando derruba uma breja. Talvez para engambelar o corpo.

Neguim tem a pele da face tostada pelo sol e marcas de algumas quedas.  Para as batalhas diárias Neguim calça chinelo de dedo, combinando com bermuda jeans e qualquer camiseta ao menos lavada.

Ele já puxou três anos de cadeia. Meteu peixeira em bucho de desafeto pelas bandas de Tucuruí.  Houve um tempo que peixeira e o tresoitão encarnavam os principais argumentos na equação de diferenças de opinião na região.

Ele não deixou claro o motivo da cizânia. E, nem se o cabra foi a óbito. Todavia, esclareceu que também morou em Marabá. Tucuruí e Marabá integram a mesma região sudeste do Pará. Terra de valentia. Terra de saque.  É onde os fracos não têm vez. 

Neguim é cabra de feira. Vende banana onde é possível o comércio em Santarém. Corre a cidade inteira: Cohab, Mercadão 2000 e preferencialmente senta praça na Av. Fernando Guilhon. Território de expansão do município marcado por grilagens, loteamentos, especulação, ocupação e verticalização.

A partir da Guilhon alcança-se o aeroporto e o centro de convenções, recém inaugurado e a PA que leva ao território do povo Borari (Alter do Chão).  Além de dois grandes mercados atacadistas, a avenida é povoada de mercados populares e lojas de material de construção. O fluxo de veículos é intenso. Beira a saturação.

Neguim é econômico nas palavras.Apesar de ter um cantinho em um deposito de frutas, vez em quando, dominado pelo álcool, repousa sobre a primeira banca que encontra desocupada.  Ninguém bole nele.  

O depósito era de um venezuelano encorpado. Neguim conta que ele era canguinha. Não gastava com nada.  Juntou um troco por vários anos e voltou para a terra natal. Diz que juntou mais de meio milhão.

Neguim é amigo de João, igualmente neguinho. João torce pelo Vaskin. Ao contrário de Neguim, João não bebe nada alcoólico, apesar de já ter corrido o trecho em tudo que é tipo de garimpo no Tapajós.

Neguim e João pareiam em idade. Casa dos 40 anos nos costados. João é aposentado. Ao menos diz ser. Ao defender um troco em carpintaria sofreu um acidente que desgrenhou os dedos da mão direita.

Neguim chama João de puxa saco. Faz poucos dias o ex garimpeiro e auxiliar de carpinteiro pegou um pé na bunda da parceira. Neguim diz que era uma mulher enormeeeee. 

Além da aposentadoria, João negocia umas quinquilharias na porta de um comércio. Caixinhas de som, carregador de celular, lanterna, óculos escuros, boias para veraneios e praias. A contrapartida da licença é ele ajudar em algumas tarefas.

Neguim quando carente de um xodó afronta o Mercadão. Paga umas brejas maneiras para a dama.E, alguns croquetes depois,  avança para o quarto. Honra a chave da casa e o prolabore da moça. Ele diz que é mais de cem contos a missão. Mas, ele paga meia.  

Sequim completa o trio ternura. Soma mais de 60 verões. Faz jus ao apelido. É do Maranhão. Defende-se como estivador e negociante de frutas. Raro usar camisa.  Tal Neguim, tem na pinga o socorro de lonjuras, tristezas e alegrias.

Tem, tem, tem três neguins....todos em Santarém...a se defenderem das intempéries do jeito que é possível....esses dias o calor tá de matar.

Governo do Pará usa programa de proteção a defensores para espionar indígenas e outras categorias

Organizações de direitos humanos e movimentos sociais denunciam em nota pública coletiva publicada nesta quarta-feira (20) o uso pelo Governo do Pará do Programa de Proteção a Defensores/as de Direitos Humanos (PPDDH/PA) para fins de vigilância política e espionagem. Segundo reportagens publicadas pela imprensa, durante a ocupação da Secretaria de Educação (SEDUC), no início do ano, indígenas, trabalhadores da educação e até parlamentares foram monitorados indevidamente por meio da estrutura estatal que deveria garantir sua segurança. Lei mais no site da Justiça Global

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Ufopa realiza sessão solene de entrega do título de Doutor Honoris Causa a Benedicto Monteiro

Seminário sobre o autor ocorre pela manhã


No próximo dia 25 de agosto, das 14h às 16h, a Ufopa promove a Sessão Solene de entrega do título de Doutor Honoris Causa a Benedicto Monteiro (in memoriam), no auditório da Unidade Tapajós. A cerimônia será presidida pela reitora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), professora doutora Aldenize Xavier, e contará com a presença de familiares do homenageado, entre eles, Wanda Monteiro e Benedicto Filho. Leia mais AQUI

Chão de Exílio, 1º volume da trilogia de Wanda, em memória de Benedicto Monteiro, será lançado hoje, na Ufopa

Livro de Wanda Monteiro, será lançado hoje, a partir das 18, na unidade  Tapajós/Ufopa



Por Giselle Ribeiro*

– para ler quando sentir medo –

Chão de exílio (2021), escrito pela amazônida Wanda Monteiro, é a tradução para a linguagem poética, dos horrores cometidos pela humanidade contra a própria espécie, em tempo de ditadura. Embora seja um livro de ficção, ele mistura as realidades da autora e da sociedade em que vive, num contexto de apagamento, dor e morte da espécie. A autora reacende as imagens do período de 1964, fazendo balançar o pêndulo do passado até o presente, como se visitasse as páginas de um álbum de fotografia das famílias brasileiras massacradas pela intervenção do regime militar da época. Leia a íntegra AQUI

Benedicto Monteiro - doutor honoris - solenidade ocorre hoje, a parir das 18h, na Ufopa

Discurso a ser proferido pela escritora, poeta e advogada Wanda Monteiro 

Wanda Monteiro, escritora, poeta e advogada. Fonte: redes sociais 


A voz indomável

É inverno nesse meridiano. Estou ao pé da serra, à minha frente tenho o mar aberto, ao meu lado uma laguna. Estou bem longe de meu rio Amazonas. Estou em um outro rio que não é rio, mas guarda um nome de santo e chamam de São Sebastião do Rio de Janeiro. É uma madrugada fria e molhada. Vou dormir com a música da chuva. Eu adoro essa cantilena da chuva. Ela caindo no barro da telha, caindo sinuosa, batendo na minha janela.

Não consigo dormir, escuto a voz de Miguel dos Santos Prazeres falando de seu pai:

... Eu sei, eu sei que ele amava a chuva, porque eu via nos seus olhos a alegria de ver a água escor­rendo, banhando as árvores, caindo sobre a mata, crivando o rio de pingos e respingos, descendo as ribanceiras. Ele gostava da chuva, porque ele entendia o barulho da conversa que ela fazia nas barracas de palha. A chuva tem uma cantiga antiga de enganar o sol, de misturar o dia com a noite e de ensinar o pobre adormecer com fome, A chuva tem uma conversa-fiada-tecida-na-palha que até é doce de se escutar.

 

Com a voz de Miguel no pensamento, agora mesmo é que não conseguirei dormir. É tão difícil dormir. Sempre que vou dormir, ocupo muito de mim com esse desassossego de olhar pra vida e dela saber o seu deslimite. Quando a madrugada chega, tenho em mim essa inquietude de escutar a ressonância do tempo, suas claridades, seus escuros, seu grito e seu silêncio.

Preciso muito dormir, soltar o fio do pensamento e descansar pra escrever sobre Benedicto, o Bené como eu gosto de chama-lo. Escrever sobre ele é sempre um desafio.

Acordei ao meio dia com a cantilena da chuva.

Sim. Ainda chove nesse início da tarde. É uma chuva amiúde.

Não resisti. Fui ter com a chuva. Sempre tenho esse gesto atávico de olhar pra chuva, de correr pra dentro da chuva, de olhar de dentro dela, de chover com ela. Bené meu pai, dizia que nisso, eu parecia muito com sua mãe, minha avó Eriberta. Minha avó Berta, assim eu a chamava, gostava de ficar sob a chuva, de olhar pra ela caindo sobre o rio. Em sua casa, na beira do rio, ela sentava na cadeira balanço e fincava seus pés na terra molhada, olhando a chuva fazer seus caminhos para o rio.

Para nós, de vida ribeira, a chuva é o rio suspenso no ar.

A chuva é um talento da natureza.

Nesse quando de chuva, de um inverno ao pé serra, me vejo diante da janela, olhando pra chuva. Pareço escutar a voz de meu pai, a voz de minha avó Berta e a voz de Maria. Sim. Escuto a voz de Maria de todos os rios, ela falando de sua mãe e seu encantamento pela chuva.

... Nas horas que chovia, minha mãe saía pra fora de casa e tomava banho na chuva. Deixava que a água lavasse o seu rosto, virado pro céu, num gesto parado e de súplica.

... Nunca compreendi essa inquietação de minha mãe. Eu pensava que era uma doença. Nem tive capacidade de in­terpretar os seus gestos, como esse de se entregar todinha pras águas da chuva...

      Penso que ao escrever sobre a mãe de Maria, Bené lembrava de sua mãe e de seu estado de maravilhamento ao ver a chuva cair. Minha avó fazia assim como dizia Maria de sua mãe:

... Com olhos fechados ou fitando entre os respingos, nunca imaginei que ela podia estar procurando, muito longe, o firmamento. Era paresque a procura de uma brecha, pra olhar mais longe. Uma janela pro rio, com lei­to largo e águas correntes...

Com essa escuta, me veio um sentimento antigo e só nesse agora, tomo consciência: o de que Miguel e Maria são meus irmãos. Meus irmãos metafísicos, é certo. Mas. São meus irmãos.

Miguel e eu nascemos no mesmo ano. No ano de 1958. Eu nasci à margem esquerda do rio Amazonas, num de seus braços líquidos, o igarapé chamado Surubiú, numa cidade ribeira chamada Aldeia de Alenquer. Miguel, nasceu no anverso de um papel, hoje, um manuscrito amarelado pela travessia do tempo, perdido nos escaninhos de  memórias. O fato é que Miguel dos Santos Prazeres, o Minossauro, foi concebido no campo das ideias. Foi pensado, sonhado e gestado sobre as águas, quando Bené fazia suas viagens rios adentro, em cima de uma canoa gita como ele dizia, ou em cima de suas voadeiras, como eram chamados os barcos movidos a motor. A semente de Miguel foi plantada pela palavra, no Conto O Precipício, escrito 1958 e publicado no mesmo ano, na revista Norte, editada por um outro bendito Benedito, nosso genial Benedito Nunes.

Miguel e eu nascemos sob o signo da liberdade. Nascemos antes do golpe que tomou de assalto a liberdade de Bené. Maria é fruto do exílio. É fruto deste sempre verbo conjugado por Benedicto Monteiro: o verbo resistir. Maria de todos os rios, foi concebida por Bené, em seu longo e doloroso tempo de exílio, cumprido em sua casa, sua ilha dentro da ilha, sua ilha avenida. Foi na solidão das matas, no cárcere e na sua própria ilha que Bené encontrou se encontrou com o espaço, com o tempo, com o homem amazônida. Foi na solidão, que Bené, meu pai, encontrou consigo mesmo e constatou que só poderia exercer sua mais íntima liberdade no ato de escrever. Posso ouvir sua voz dizendo:

Pois foi nas matas de Alenquer e nesse cárcere de quartel que me encontrei comigo mesmo. E também com o tem­po, com o espaço e o homem amazônico. A partir daí, a mi­nha vida íntima se confundia com esse tempo, com esse espaço e com a vida dessa gente que mais tarde se transformariam nas personagens de meus livros. Confirmei, naquele período, que escrever, para mim, era também o único exercício da minha mais íntima liberdade, e de tal forma, que quando me deparei com a liberdade propriamente dita, que tive que enfrentar a sociedade na condição de mar­ginal, proscrito ou vivente do ostracismo, quase não perce­bi que não tinha voltado para a minha mesma cidade. Para a minha mesma casa. Mesmo no convívio com a minha família, ao lado de minha mulher e meus filhos, eu tinha brus­camente caído numa ilha, numa ilha do mundo, numa ilha social, numa ilha da avenida.

Nessa dobra tempo, em que mergulho nesse rio de palavras pra escrever sobre Bené, me vejo em busca de seu gesto inicial, de suas primeiras visões, de sua primeira pulsão pela escrita e na escrita. Mas a memória quando é escavada em suas fundas camadas, corre esse risco de reinvenção. Assim acontece com Bené na escritura de seu transtempo, quando ele tenta falar de sua identidade em suas memórias:

É muito difícil, ainda hoje, separar os meus sentimen­tos religiosos, políticos e sociais neste meu processo per­manente de dúvida e conhecimento. É muito difícil classificar-me, codificar-me, identificar-me.

           Sou escritora, dizem que também sei escrever poemas. Sobre escrever poemas, não tenho muita certeza disso. Mas, sobre meu amor e devoção pelas palavras e pela literatura, sobretudo como leitora voraz que fui. Disso eu não tenho dúvidas. Acho que herdei de meu pai esse amor e devoção pelas palavras. Estou escrevendo um livro de poemas sobre meu encontro com o mar. Nesse momento em que escrevo sobre Bené, tento me depreender das paisagens que componho em meu livro. Não consigo.

 Ouço o barulho do mar. Posso ouvir e sentir o átimo do instante em que a crista da onda quebra e cai com toda força sobre a areia. O mar está em ressaca e sua ressonância pode ser sentida ao compasso de minha respiração. Moro ao pé de um afloramento rochoso. E nessa noite, essa coluna rochosa está à espreita de Urano em fúria. Já é noite. Esse dorso, feito de sal e espuma, inclina-se para ouvir o rumor do tempo.

O mar. Se signo fosse, seria um deus a repetir-se na estranha força de ondular infindo, em e por si, sob pétrea regência suspensa no abismo das equidistâncias. Fosse deus, seria o mar, esse corpo erguido ao vento, a forma viva de uma nave-mãe, nave líquida, mãe movente, face oculta do deserto.

Vou dormir com o mar.

Hoje acordei com essa lembrança. Que um dia, ao ser provocado por mim sobre o começo de sua paixão pela literatura, Bené disse-me que embora essa pulsão pela escrita literária tenha sido deflagrada quando ele ainda era um jovem adolescente de 16 anos, quando arrebatado pela leitura de Chove Nos Campos Da Cachoeira do escritor Dalcídio Jurandir, ela só se consolidou com a escrita de seu Verdevagomundo. Esse livro foi seu primeiro romance e mais tarde, faria parte de sua trilogia amazônica.

Essa conversa aconteceu em plena ditadura militar, portanto, embora o recrudescimento da ditadura militar e de suas forças opressoras tenham sido, de alguma forma, estancados por movimentos políticos de resistência que abririam pra o caminho da redemocratização, meu pai ainda vivia em sua/nossa ilha e sempre afirmava que o ato da escrita, pra ele, era um ato de resistência.

           Esse maravilhamento, experimentado por Bené ao ler o livro Chove Nos Campos Da Cachoeira, o despertou pra uma nova e inquietante visão sobre esse microcosmo chamado Amazônia e ainda, lhe acenou pra novas percepções sobre o viver dos ribeirinhos. Nesse momento, aos 18 anos de sua vida, nascia Bandeira Branca, seu primeiro livro de poesia e nele, o escritor que também nascia, dava os primeiros sinais de que sua escrita estava sendo fundada em uma consciência potencialmente política e de resistência.

          Seu poema Insatisfação dá claros sinais dessa inquietação:

 

Trago no corpo

o frio desfibrilador das endemias

a lama das terras alagadas

e o soturno roncar do Amazonas

quebrando e inundando

verdes matarias!

 

Trago nos olhos

o horizonte verde, sempre verde,

da terra imensa e misteriosa,

a realidade triste, sempre triste,

dos homens que vivem

nas lendas maravilhosas.

 

Desses homens que lutam

a guerra dos fortes;

brigando com a terra,

brigando com a água

e com a ferocidade

das foças desconhecidas.

 

Trago nos olhos

a monotonia das paisagens,

a poesia triste das paragens,

a triste poesia que brota da terra,

transformando em lenda a miséria da vida!

 

Trago na alma

os quadros trágicos e possantes

que guardam ainda a cor

e a impetuosidade

das criações remotas.

 

Trago na alma

a impressão marcada

da gente infeliz e desgraçada

que já enfrentou todas as derrotas!

 

Tudo isto eu trago

no meu coração

para escrever

a minha grande poesia

de insatisfação...

            Após a publicação de Bandeira Branca, Bené fez um longo interlúdio em sua caminhada literária. Continuou escrevendo, aqui e ali, poemas, contos, ensaios. Mas, não publicava. Foi viver uma vida de lutas onde conjugava, com vigor, o verbo resistir. Percorreu uma senda que lhe levou à carreira política, e essa se colocou à frente da carreira literária. Esse percurso político, de lutas por liberdade, igualdade e justiça social o levou pra um lugar potencialmente perigoso diante de um golpe militar que tomou de assalto sua liberdade por longos anos.

           No depois da senda de palavras, até aqui lidas, e escritas por mim e por meu pai Bené, me veio à escuta não de sua voz, mas sim de seu silêncio.

          Se ele estivesse entre nós, aqui e agora, ele me diria sobre o silêncio que sempre me acomete diante das mortes de cada dia. E eu lhe diria do vazio dessa estação chamada saudade.

A saudade de Bené será sempre um silêncio.

Cultivo em mim esse silêncio de revolver a memória deitada no leito mais fundo, sobre seixos de relvas afogada. Esse silêncio de escavar o fundo do tempo. O que me há sempre deságua nele: o rosto silente do pai a me olhar das distâncias, de viver e correr entre uma margem de lembrança e outra margem de espera. Essa espera densa de sílaba a sílaba, concentrada em cristal arenoso. Mas, há uma terceira margem de incontornável geografia: o agora e essa saudade a consumir o pensamento em amplidão de ausências. A saudade essa clareira no peito ancho de ecos. A saudade esse lembrar à exaustão. A saudade. Esse algo a pesar sobre o dorso do tempo partido por uma estação sem nome. E há outra margem. A margem onde busco a palavra: uma palavra que seja rio para assim ser palavra, uma palavra de ter começo, mas, de não ter fim, pois que não ter fim é seu destino.

No dorso desse tempo de guelras abertas, há a voz do pai dizendo das palavras que sustentam o mundo, que suspendem o céu, que inventam a vida e agasalham, na memória, o mistério de todo sentir.

Meu silêncio foi quebrado pela chegada de meus netos, em minha cabana ao pé serra. Os netos são pra mim esse amor em desmesura, um laço inquebrantável. Neles eu posso exercer minha afetuosidade e meu bem-querer livremente. Eles quebram em mim qualquer silêncio.

Só hoje nessa noite fria com ventos soprando à sudoeste. Sob à constelação do Cruzeiro do Sul, em agosto de 2024, eu me dei conta que Miguel dos Santos Prazeres, assim como eu, completou 66 anos de existência. A diferença é que Miguel não envelheceu como eu envelheci. Sobre Miguel não incide nem o peso nem os atravessamentos do tempo. Nas palavras, Miguel vive e revive com o mesmo vigor. 

Bené vive em Miguel.  Ele tem, nas palavras, sua cotidiana ressurreição. Nas palavras, sua voz indomável pode ouvida cotidianamente.

Sobre o tempo, sua travessia, seus efeitos, posso dizer que sinto o seu peso sobre o corpo e sobre a maturidade nos ossos das palavras. No entanto, o tempo me trouxe o que considero uma virtude: já não tenho pressa. No começo desse meu anoitecer, cultivo a contemplação.

Antes de partir, meu pai Benedicto Wilfredo Monteiro anoiteceu. Estive ao seu lado nos últimos meses de sua noite. Ele, adoecido, sem chances de cura, muitas vezes, acordou, olhou sorrindo pra mim, dizendo: Filha! Estou partindo.

Vendo-me revisar seu último romance, dizia: Filha, antes de partir, preciso lançar meu Homem Rio, preciso libertar Miguel.

Hoje, digo pra mim que esse foi mais um de seus atos de resistência.

Ele partiu.

Posso ouvir sua voz:

Tantos anos andei pelo. Sempre transitoriamente. Aprendi que porto, mesmo, é só a maturidade. E chegada, mesmo, é o só ultimo regresso.

 

           Bené, em seus últimos dias, nesse quando e onde vivemos, raramente dizia a palavra morte. Falava sempre em partir. E nesse exato ato de escrevê-lo, lembro de seu sentimento sobre a morte, e sobretudo, lembro de quão era importante ele reafirmar a vida, conjugando o verbo resistir. Esse sentimento é traduzido na voz de seu alter ego Miguel:

Nego as mortes! Nego e renego as mortes, todas as mortes. As mortes de ficar calado, as mortes de ver a água correr, as mortes de ver o rio sempre passar, as mortes gerais dos homens que envelhecem. Eu nego e renego as mortes. Eu só afirmo a vida. Minhas afirmativas, só são de bem-querer, de bem-viver e de bem-lutar.

Sinto que sempre vou lembrar desse dia. O dia em que eu e meu irmão Ben levamos as cinzas de Bené pra se misturar às águas de seu rio Amazonas.

 Saímos de Santarém, numa lancha de um amigo da família, atravessamos as águas azuis do rio Tapajós e cruzamos o encontro das águas. Após cruzar o encontro, a lancha deu defeito. Ficamos à deriva, por várias horas. Eu disse pra meu irmão: Bené está querendo nos dar algum recado. Ele riu. Era um dia de sol inclemente. A situação era bem perigosa. Estávamos com pouca água doce a bordo e sob um céu nu de nuvens, portanto sem sombra alguma que pudesse nos proteger da luz espelhada no ouro das águas barrentas do gigante Amazonas. Pra todo lado que firmávamos a visão, só víamos água. Era um mundão de águas. Todos os horizontes pareciam dar em abismos. Nossos olhos não alcançavam terra firme e nenhuma ilha. Estávamos no topo do mundo. Só havia a água. Ao longe, podíamos ver as ilhas de ninfeias chamadas mururés flutuando sobre as águas. Havia o espaço contido no tempo e o tempo contido no espaço. Havia mil tons de verdes e de azui, mil tons de ouro e de prata.   Nesse momento, eu e meu irmão nos abraçamos, e eu lhe disse: Mano! Estamos dentro do verdevagomundo de Bené.  

O piloto, finalmente consertou a lancha. Mas, perdemos o furo do rio que nos levaria ao igarapé Surubiú. Esse era o recado de Bené. Ele queria ficar no topo do mundo, no alto do rio, em sua correnteza mais revolta, em suas águas mais fundas.

Deixamos nosso pai misturado às águas de seu rio Amazonas.

Naquele exato instante, das cinzas se misturando ao rio, parecia ouvir a voz do meu pai:

Guardo-me em tuas águas. Peço-te! Guardes, na eternidade, os sonhos que sonhoi e os sonhos que não me deixaram sonhar.

Era uma oração. Sua última oração.

Nossa oração, foi a voz do pai, na voz de Miguel:

 

Tudo era espaço e tempo vago. Verde e vago. Verde vagomundo. Foi aí que me perdi na pura claridade. Era paresque claridade do verde, da água, da noite e do silêncio. Pensei que era a morte, que eu estava morto. Pensei que eu estava bem no fundo. Mas nesse mesmo instante, nesse justo e exato momento, foi que a água e o céu se abriram e surgiu uma praia branca. Muito branca. Todos os verdes e todas as cores se resumiram naquela praia. E não tinha princípio nem fim: era uma distância. Era paresque também uma margem. Mas, uma outra margem.

 

Wanda Monteiro

 Nota: os excertos em itálico, foram extraídos (respectivamente) dos livros de Benedicto Monteiro : O Precipício, o Conto; Maria de Todos os Rios; Transtempo; Bandeira Branca: Verdevagomundo e Aquele Um;

 

 

Fortaleza (CE) sediará o maior encontro de afetados pela mineração do Brasil com debates e feira cultural

São esperadas mais de duas mil pessoas na capital cearense para o II Encontro Nacional do MAM no final de agosto

 

O Movimento Pela Soberania Popular na Mineração – MAM, vai realizar seu II Encontro Nacional em Fortaleza (CE), entre os dias 24 e 28 de agosto, na Universidade Federal do Ceará (UFC)- campus Pici, contando com delegações de todas as regiões do Brasil. Serão indígenas, quilombolas, ribeirinhos, assentados rurais, camponeses e moradores de cidades afetadas pela atividade mineral no país.

Com o tema Lutar Pelo Território, Controlar o Subsolo, objetivo do encontro do MAM é organizar dias de debates para lançar luz para um novo modelo mineral para o Brasil, que democratize a renda mineral, possibilite territórios livres de mineração e controle popular sobre o subsolo.

“O modelo mineral, do jeito que é operacionalizado, destrói a natureza, expulsa as pessoas de seus territórios, concentra toda a renda que teria que chegar ao povo brasileiro e nos deixa totalmente sem soberania. Por isso a importância desse segundo encontro nacional do MAM”, diz Karina Martins, da direção nacional do MAM.

O encontro, também contará com representação de trabalhadores do setor mineral e integrantes de outras organizações internacionais que debatem a mineração em seus países, como Peru, Bolívia, Chile, Cuba, Guatemala, México, África do Sul, Moçambique, entre outros

Ao final da atividade o MAM lançará uma carta à sociedade com as premissas firmadas pelos afetados pela mineração no Brasil com propostas que contemplem a atividade mineral como benefício ao povo brasileiro e não apenas como acumulação de lucros para as empresas.

 Feira Cultural da Agrobiodiversidade

Durante as noites do II Encontro Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), que acontece de 24 a 28 de agosto em Fortaleza (CE), será realizada a I Feira Cultural da Agrobiodiversidade, das 18h às 23h, no mesmo local do encontro. A iniciativa integra a programação do evento e tem como objetivo destacar a força produtiva e cultural dos territórios ameaçados e afetados pela mineração.

A feira reunirá alimentos, bebidas e artesanatos típicos de diversas regiões do Brasil, oriundos da agricultura familiar e da agroecologia praticadas por povos indígenas, comunidades tradicionais, assentamentos da reforma agrária, pescadores e pescadoras. “Esses territórios sempre foram produtivos. Antes mesmo da chegada da mineração, já havia vida, diversidade e fartura. São povos que continuam resistindo e produzindo com base em saberes ancestrais, pela força da agricultura familiar que alimenta o povo brasileiro”, explica Ingrid Sousa do coletivo de produção do MAM.

Além da exposição e comercialização de produtos, a programação cultural será marcada por apresentações de artistas locais e nacionais, com ritmos como rap, forró, reggae, samba e outras expressões da música popular brasileira. Os artistas participantes vêm de regiões diretamente impactadas por projetos minerários e suas composições trazem temas ligados à resistência, à identidade e à denúncia das violações.

“A arte é a forma como as pessoas expressam seus sentimentos, seus modos de resistência, sua ancestralidade e demarcam seu posicionamento no mundo, além de elucidar criticamente modelos de sociedade naturalizados da exploração dos povos, trabalhadoras e trabalhadores, por isso, e portanto, a importância dessa feira cultural no II encontro nacional do MAM”, diz Gracinha Donato, da direção nacional do MAM.

O MAM escolheu fazer seu II Encontro Nacional em Fortaleza (CE), pois o nordeste brasileiro é hoje alvo de intensas disputas pelo subsolo, se tornando o centro de um debate nacional sobre soberania, modelo mineral e organização popular.

O estado cearense se tornou, nos últimos anos, uma das principais fronteiras de expansão mineral no Brasil, com mais de 5 mil pesquisas minerais em andamento, disputando cerca de 4 milhões de hectares de território — o equivalente a 36% de toda a extensão do estado, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM)

Serviço

II Encontro Nacional do MAM/ I Feira cultural da Agrobiodiversidade

Quando: 24 a 28 de agosto

Local: Universidade Federal do Ceará (UFC) – Campus Pici.

Horário: Das 8h às 17h (Debates) das 18h às 23h (Feira)

Mais informações: João Victor (88) 98194- 2254 Márcio Zonta (98) 98156- 1749.