O professor da Unifesspa Evandro Medeiros e os ativistas Tiago Cruz, Iara Reis, João Reis, Waldy Gonçalves Neves estão sendo processados pela Vale. O ato de solidariedade aos atingidos pelo crime ambiental da Vale em Mariana ocorreu em novembro do ano passado.
Evandro Medeiros- professor da Unifesspa
No dia 20 novembro do
ano passado, data dedicada ao Dia da Consciência Negra, educadores,
professores, ativistas e população atingida pelos projetos da Vale, realizaram
ato em solidariedade às famílias atingidas pelo crime ambiental da mesma
empresa ocorrido na cidade de Mariana, em Minas Gerais.
A mobilização foi
realizada às margens da Estrada de Ferro de Carajás, na periferia de Marabá, no
sudeste do Pará. Nas terras dos Carajás a Vale extrai minérios há mais de 30
anos. A economia baseada na lógica do enclave não dinamiza o desenvolvimento.
Ao contrário, acentua ainda
mais a condição de miséria por conta da Lei Kandir, que favorece a exportação
de produtos primários com a isenção de recolhimento de impostos. O estado do Pará é duplamente punido.
Numa ponta o BNDES
financia a juros módicos tais iniciativas de grandes corporações, noutro isenta
de impostos, subsidia energia e água, cede território, não monitora ou
fiscaliza as operações, e aprofunda a precarização do trabalho por grosso
volume de empresas terceirizadas. Os péssimos indicadores coroam o triste bolo
dos 30 anos de operação da mineradora na região.
Neste cenário, por
protestarem e solidarizarem aos atingidos pela mineração em Mariana, o educador
e cineasta Evandro Medeiros, professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste
do Pará (Unifesspa) responde a inquérito civil movido pela Vale. Além do professor são arrolados no mesmo
processo Tiago Cruz, Iara Reis, João Reis, Waldy Gonçalves Neves.
A oitiva ocorre no próximo
dia 05. Movimentos sociais, educadores, estudantes e ativistas prometem a
realização de um grande ato em solidariedade aos ativistas criminalizados.
Grandes projetos e seus múltiplos tentáculos
O fim do licenciamento
ambiental para grandes obras é o capítulo mais recente no espetro de agenda de avanço
do grande capital sobre ao terra e o recursos naturais na Amazônia, e em outros
território nacionais.
O processo marcado
pelas formas de acumulação primitiva do grande capital, que engendra todo tipo
de violência contra as populações locais, tem nas grandes empresas o ponta de
lança, que constrangi o Estado a alinhamento a seus interesses.
As reformas dos códigos
florestal e mineral, a criminalização das lutas populares, alçadas à categoria
de terrorismo são materialidades deste processo. Movimentos sociais que amiúde têm sido alvo de
arapongagem das empresas e do Estado, como nos nossos casos dos ativistas do
Xingu Vivo e de Carajás.
A criminalização e a
judicialização das ações dos movimentos populares e ativistas, que fazem
oposição aos grandes projetos passou a ser recurso de coerção. Segundo a Sociedade Paraense de
Defesa dos Direitos Humanos do Pará (SDDH), o estado contabiliza cerca de 40
casos de criminalização das ações dos movimentos sociais no estado do Pará. 18
deles estão judicializados. Esbulho possessório, cárcere privado, desacato,
incitação ao crime, posse ilegal de armas, danos, perturbação da ordem pública
são as acusações mais recorrentes.
Os acusados são
ativistas de movimentos sociais, que buscam a garantia de direito básicos
(posse da terra, trabalho, território e educação). Entre os movimentos é
possível identificar, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento dos Atingidos pela Mineração
(MAM), além de indígenas, pescadores, extrativistas e quilombolas.
Em linhas gerais, as
disputas possuem relação com avanço do capital sobre a Amazônia, a partir da
agenda de desenvolvimento baseada em grandes projetos, a exemplo da construção
da hidrelétrica de Belo Monte, na cidade de Altamira, sudoeste paraense, e a
ampliação dos projetos de mineração na região de Carajás, da empresa Vale, no
sudeste do Pará, e monocultivos de soja e complexos portuários no Baixo
Amazonas.
Em janeiro deste ano os
ativistas do MAB Roquevam Alves Silva, Euvanice de Jesus Furtado e Roger
Balieiro da Veiga foram condenados em sentença decretada pelo juiz federal
Marcelo Honorato, da 1ª Vara da Subseção Judiciária de Marabá. Os ativistas
foram condenados por uma ação realizada em 2007 no município de Tucuruí.