Carlos Silva, vereador do PSC é autor do pedido da sessão especial, agendada para o dia 14 de setembro
Santarém
é uma cidade de porte médio, que fica a oeste do estado do Pará, com uma
população estimada em 300 mil habitantes, que vive na confluência dos rios
Tapajós e Amazonas, e sob a influência das rodovias federais BR 163
(Cuiabá-Santarém) e a BR 230 (Transamazônica). Muitos destes habitantes são
herdeiros dos povos ancestrais, bem como de remanescentes de quilombos e
camponeses.
Apesar
da forte presença indigena na região, de quilombolas e campesinos, o vereador evangélico
do PSC, Carlos Silva, auto declarado como pardo e jornalista, protocolou em
maio junto à mesa diretora do legislativo do município o Requerimento de nº
940/2021, cujo intento residia em homenagear a presença dos supremacistas brancos
estadunidenses, ocorrida no dia 17 de setembro do Século XIX.
Em maio o requerimento foi aprovado por unanimidade pelos 21 vereadores, sendo dois do Partido dos Trabalhadores (PT), que após a repercussão da nota dos movimentos negro e sociais, também se manifestou contra a sessão. Leia nota da Executiva do partido AQUI
Após
a divulgação das notas contra a sessão especial que ocorreria amanhã, dia 14, o
evento foi cancelado. Em nota em sua rede social, o vereador declara que os
descendentes dos Confederados não compactuam com os ideais racistas das
famílias pioneiras que aportaram em Santarém, e afirma que a contribuição dos
mesmos foi fundamental para a edificação da Igreja Batista. Silva foi um dos
entusiastas na cidade pelos atos contra a democracia do dia 7 de setembro.
Confederados
em Santarém
Solar dos Brancos ou Solar dos Confederados nomeia um sobrado de três pavimentos cravado no Centro da cidade. Ele é uma das expressões do processo que marca a presença dos Confederados no município.
Hoje o prédio abriga uma loja de uma grande rede de departamentos. Uma pequena placa patrocinada por uma grande empresa de mineração conta parte da história. No mesmo perímetro, em local mais privilegiado, à beira do Tapajós, outro prédio, de propriedade do Barão do Tapajós (Miguel Antônio Pinto Guimarães) materializa o período escravocrata da região.
A
imigração dos Confederados foi possível graças a um convênio firmado entre o presidente da
Província do Pará e o major Lansford Warrem Hastings em novembro de 1866.
O
Barão e uma família de Confederados fizeram par na fazenda Taperinha. O Barão vinha a ser genro de Maria Macambira, donas
de terras por todo o Baixo Amazonas, reconhecida pela sua crueldade contra os
negros. A presença da família se mantém em Santarém.
Investigações
do historiador Euripedes Funes, autor de uma tese na USP sobre a presença quilombola
no Baixo Amazonas, recupera que os Confederados do vale do Missipipi, Tenesse e
Alabana aportaram em terras parauaras
fugidos após a derrota na Guerra de Secessão. Um grupo um superior a pouco mais
de cem pessoas.
Com
o objetivo em modernizar a fazenda Taperinha o Barão firma sociedade com o
confederado Romulus Rhome (sociedade
Pinto & Rhome). No Planalto Santareno, marcado pela presença de quilombos, boa
parte da população de remanescentes tem como origem os negros fugidos da
fazenda Taperinha.
Sobre
os confederados em Santarém, além da obra de Norma Guilhon, e a tese de
Euripedes Funes sobre a presença de quilombos no Baixo Amazonas, ver tese de
Célio Silva, da Unicamp sobre os Confederados. Ver AQUI