Mesa de debate sobre a liberdade de cátedra. Foto; Thiago Cruz
Na tarde do dia 22, um sábado, a Comuna
Cepasp, com sede em Marabá, acolheu o lançamento
do livro Arenas amazônicas: economia, natureza e sociedade, autoria de Rogerio Almeida,
professor do curso de Gestão Pública, da UFOPA, campus Santarém. O livro foi
selecionado no edital de Política Nacional Aldir Blanc, do município de
Santarém.
Entre ensaios e reportagens o
livro é composto de 13 trabalhos. O conjunto reflete sobre a implantação de
grandes projetos no Pará e no vizinho estado do Maranhão. Alguns trabalhos são
mais robustos, outros nem tanto. Alguns foram atualizados. A maioria é autoral. Todavia, a jornalista
Lilian Campelo divide uma reportagem sobre mineração com o pesquisador.
Além de ensaios autorais, Almeida
conta com a contribuição de Júlia Iara,
militante do MST. Em texto de verve poética, a militante empreende reflexão sobre o temor em ser ativista
em terras amazônicas. O escrito foi gestado quando da passagem do Massacre de
Eldorado, que em 2026, soma 30 anos.
A advogada e poeta Wanda
Monteiro, filha do escritor, advogado, gestor público e político Benedicto
Monteiro, cedeu uma loa lírica escrita
em homenagem ao pai. O texto foi produzido para ser lido quando da entrega da
comenda de doutor honoris (pós morte) conferido pela UFOPA (Universidade
Federal do Oeste do Pará) em 2025.
A Comuna existe há 40 anos. É um
espaço dedicado à pesquisa e assessoria sindical e movimentos sociais. Fez
parte de inúmeros fóruns nacionais e internacionais. Na região, tem um papel de
vanguarda no debate ambiental, na comunicação popular, na luta pela terra e pela
defesa dos direitos humanos.
Celebração e bate papo pós lançamento do livro do professor Rogerio Almeida. Foto: redes sociais
Liberdade de cátedra- uma
reflexão sobre a liberdade de cátedra precedeu o lançamento do livro. Os professores Armando Tafner (Unifesspa),
Marcelo Melo (IFPA) e dirigente sindical, Amailson Lima (UEPA), campus de
Conceição do Araguaia e representante sindical,Raimundo Gomes da Cruz Neto, educador
popular e dirigente da Comuna Cepasp, José Batista Afonso, da Comissão Pastoral
da Terra (CPT) de Marabá compuseram a mesa.
A seção foi organizada por conta
de processos movidos por empresários do Mato Grosso contra o professor
Almeida. O motivo é um artigo acadêmico
publicado na revista da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
em dezembro do ano passado.
O trabalho versa sobre o projeto
que pretende erguer um complexo portuário na cidade de Santarém, oeste
paraense. Um território de incidência de aldeias indígenas territórios
quilombolas e campesinos.
Marcelo Melo recuperou que desde
o começo da década a educação pública tem sido um alvo sistemático de setores
reacionários do país. Tanto no ponto vista jurídico, com a proposição de uma série
de leis que atacam a liberdade e a autonomia universitária, quanto na
elaboração de narrativas que visam desqualificar a educação. Como exemplo, o
professor relembrou a proposta da “escola sem partido”.
Lima, dirigente da UEPA, enfileirou
inúmeros casos ocorridos em todo o estado do Pará e no país. No caso do Pará, recordou o ataque recente por
uma professora da Unifesspa, por conta de sua intervenção em audiência que
debatia a remoção do Pedral do Lourenço, localizado ente os municípios de
Itupiranga e Nova Ipixuna.
A antiga demanda pela remoção do
Pedral é estratégica para viabilizar a a hidrovia do rio Tocantins. O projeto
integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
Por sua vez, o professor Tafner, que já foi alvo
de processos por conta de sua produção alinhada a setores populares no Mato
Grosso, esclarece que a situação de ataque à universidade pública consiste em
uma estratégia de intimidar e silenciar as vozes críticas da instituição.
“Ocorre que estamos em um cenário que a
atuação do grande capital é escala planetária. E, nós atuamos em uma escala que
em certa medida é local e mais frágil”, avaliou o pesquisador.
O experimentado educador popular,
Raimundo Gomes, segue vereda semelhante ao professor Tafner, e contempla o
aspecto macro das disputas políticas e ideológicas sobre o desenvolvimento para
a Amazônia. “Estamos diante de um cenário marcado por inúmeras encruzilhadas,
onde temos a democracia em jogo , a civilizatória, a ambiental e a humana”,
considera Gomes, que realça que a universidade não escapa aos interesses do
capital.
Batista Afonso, advogado da CPT,
manifestou solidariedade e apoio ao professor Almeida. “A agente acredita que a universidade também
integra os espaços de disputas nas arenas nacionais. Entendemos que as ações
contra o pesquisador da UFOPA, assim como tantas outras país afora, tem como objetivo
principal o silenciamento de vozes críticas da universidade. Em particular as
alinhadas aos movimentos sociais”, encerrou o defensor da CPT.