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| Familiares de camponeses, amigos e parlamentares em reunião para refletir sobre reparação. Redenção/PA. Fonte: rede social de Elias Sacramento. |
Família Canuto,
Sacramento, Lima, Ribeiro, entre outras estão mobilizadas há alguns meses na busca
por compensações pela morte de pais, irmãos e filhos/as em processos de luta
pela terra no Pará.
O grupo tem
fomentado encontros para refletir sobre o assunto e buscado alianças em diferentes
campos: parlamentares, universidades, ONGs, defensores de direitos humanos
dentro e fora do Brasil.
A última reunião
ocorreu em Redenção, no fim do mês de maio. Eles otimizaram a audiência ocorrida
no dia 30, que analisou o trabalho análogo à escravidão cometido pela empresa
alemã Volkswagem, na Fazenda Cristalino, em Santana do Araguaia.
Por conta de inúmeras
experiências desenvolvimentistas impostas para a Amazônia, o Pará ganhou notabilidade
mundial no tema de violência na luta pela. Desde os anos de 1980, onde a violência
foi mais aguda, o estado tem sido líder absoluto, como apontam os dados
organizados e refletidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os indicadores
recentes fazem paralelo com os a nos de 1980.
Elias
Sacramento, professor do curso de História da UFPA, no município de Cametá é um
dos principais animadores do debate sobre reparação. Ele esclarece que a rede almeja
a realização de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional.
Impunidade e a
busca por reparação
Resultado do
avanço do capital sobre a Amazônia, ao longo dos processos históricos a violência
na luta pela terra no estado do Pará vem sendo naturalizada. É como se fosse
algo inerente à racionalidade do sistema.
A maioria dos
casos que envolve a morte de dirigentes, chacinas, execução de advogados e
religiosos é coberto pelo manto da impunidade.
O desdobramento
combina pistolagem privada e pública, morosidade e uma certa cumplicidade do Judiciário.
Uma das saídas mobilizadas pelos movimentos sociais e instituições de
assessoria por conta do cenário tem sido responsabilizar o Estado Brasileiro em espaços internacionais, a exemplo do recente caso do advogado Gabriel Pimenta.
O mineiro de
Juiz de Fora foi executado em via pública na cidade de Marabá por defender posseiros
na região sudeste do Pará. Após mais de 40 anos do assassinato, o Brasil foi
responsabilizado a promover um conjunto de reparações. Outros
casos precederam o de Pimenta, a exemplo de chacinas da década de 1980 e o
assassinato de João Canuto na mesma quadra temporal.
Maio e os
assassinatos nas terras do Pará
Maio é o mês em
que a Igreja Católica celebra Maria, a mãe de todos. Neste mês, muitas mães e
viúvas camponesas choram os seus mortos. A exemplo do dia 29 de 1980, quando do
assassinato de Raimundo Ferreira Lima, conhecido como “Gringo”.
A execução do
dirigente sindical foi o pontapé inicial de caça aos defensores da reforma agrária,
meio ambiente e aos direitos humanos no estado do Pará. Gringo era dirigente
sindical e agente da CPT em São João do Araguaia, sul do Pará. Foi o primeiro líder sindical executado na
região.
Anos depois, em
Nova Ipixuna, sudeste do estado, o casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo,
no dia 24 de 2011. O anúncio da execução chegou a ser anunciado no Congresso. A
bancada da agricultura capitalista celebrou como se fosse uma final de campeonato brasileiro.
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| Romaria da Floresta celebra a memória dos extrativistas executados em Nova Ipixuna/PA, em 2011. Foto: Marquinho Mota/2025. |
Na mesma
região, no município de Pau D´arco, no mesmo dia da morte dos extrativistas, 10
camponeses foram executados pelos policiais civil e militar. No começo de 2021
Fernando Araújo, principal testemunha da chacina foi assassinada com um tiro na
cabeça.
Ainda em maio,
mais de 40 anos depois, no dia 30 do corrente ano, no município de Redenção, uma
audiência pública discutia o trabalho análogo à escravidão cometido pela
empresa alemã Volkswagem.
Ao contrário do
que o nome do município sugere, foi ele o berço da União Democrática Ruralista
(UDR), em terras paruaras. A milícia do setor ruralista mobilizava uma série de
ferramentas com vistas a arrecadar fundos para financiar a pistolagem. O fato celebrizou
o Bico do Papagaio, o sudeste do Pará, o norte do Tocantins e o oeste do Maranhão,
como a região mais letal do Brasil na luta pela terra.
As violências,
o trabalho análogo à escravidão, o desmatamento, a corrupção, a grilagem de terras
são alguns dos desdobramentos de todas as experiências desenvolvimentistas
impostas à região desde o período Vargas, quando da instalação da Ford na
fronteira de Itaituba e Aveiro e ganha robustez durante a ditadura civil-militar.
A violência constitui um elemento de permanência no bojo de todas as políticas de desenvolvimento impostas sobre a Amazônia e em particular no estado do Pará, como podemos com os casos aqui pontuados, assim como a impunidade.