quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Ovo gelado

O dia caiu. A noite não acudiu. Ruídos de animais. Sombras de palmeiras. Assobio de vento invoca curupira, matinta, boitatá. O mundo não tem solução. Temerária equação em carnaval de lama. Cozido, em um canto, logo cedo, o ovo foi resgatado.  Ele escapara de ter virado recheio de pastel em dias pretéritos. O ovo que sonhara em ser astronauta, navegava em  galáxias de solidão em geladeira sem luz. Alvo. Quase transparente, nunca tomou um fio de sol.  Não foi à praia. Nunca flertou em samba ou fez serenata, ofertou flores à musa. Aos pés da Santa Cruz jurou honrar os pais. Mal sabia que iria virar desjejum de faminto de amor. Um ovo só, é apenas um ovo só. Ovo gelado combina com doce, Docinho?  O que passou pela cabeça do ovo ao ser destroçado, untado por sal de segunda, e em seguida sufocado por um bom punhado de farinha? Farinha baguda. Bruta.  O ovo cozido, em breve, será adubo, coco, sem nunca ter tocado uma gaita ou flauta. Usado óculos escuros para as suas lágrimas esconder.

Doutor Honoris: Ufopa concede título ao alenquerense Benedicto Monteiro


O Conselho Superior da UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em reunião no dia 21, ontem, decidiu em conceder o título de doutor honoris a Benedicto Monteiro. Ele foi advogado, político, gestor público, jornalista, professor, abnegado defensor de democracia e dos direitos humanos. 

Vivo fosse, Bené, com era tratado pelos mais próximos, somaria 100 anos. Ao longo do ano, o defensor de posseiro tem sido pauta de homenagens, republicação de parte de sua obra, palestras e webinários em diferentes partes do país. A exemplo da agenda na Feira Panamazônica do Livro, em Belém, no dia 24, a partir das 19h. Wanda Monteiro, poeta e filha de Benedicto será a palestrante.

A iniciativa da chancela partiu do curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional (Santarém e Alenquer), graduação vinculada ao Instituto de Ciências da Sociedade (ICS), que também endossou a comenda em reunião de seu conselho.

A turma do curso de Alenquer, cidade natal do escritor, vem realizando inúmeros eventos em favor da publicização sobre a obra do autor. A Câmara de vereadores fez uma moção de aplausos sob a iniciativa do vereador e aluno do curso de Gestão, Luiz Alberto Freire. 

Obra

A Terceira Margem integra o que ficou consagrado como a tetralogia (Verde Vagomundo, Minossauro e Aquele Um) do autor ximango (alenquerense), Benedicto Wilfred Monteiro, nascido no dia 29 de fevereiro de 1924 nas paragens de Alenquer, no Baixo Amazonas, ou oeste paraense.

Por se tratar de um ano bissexto o registro de nascimento consta como  nascido no dia 01 de março. Decisão tomada pelos pais Ludgero Burlamaqui Monteiro e Heribertina Batista Monteiro.

Bené foi um homem múltiplo. Colheu na oralidade/sabença do universo da várzea de sua terra natal, por entre furos, paranás, igapós e rios, a seiva que servirá de nutriente de sua obra. Como salienta o professor Darci Ribeiro, Monteiro apresenta ao mundo a civilização da várzea, as suas tramas, dramas, contradições e possibilidades.

Abílio Pacheco, professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), em Marabá, assina uma tese sobre a obra de Benedicto. O trabalho foi realizado na Universidade de Campinas (Unicamp).  O professor tem feito par com Wanda Monteiro em palestras e seminários.  A tese pode ser acessada AQUI.

Acesse o documento que serviu de base para o título de doutor honoris AQUI