quinta-feira, 24 de julho de 2025

50 anos da CPT: Infelizmente a CPT ainda existe

Roberto Malvezzi (Gogó)

21 de julho de 2025


Em São Luiz do Maranhão, a CPT celebra seus 50 anos, em forma de um Congresso. Um grande número de agentes pastorais e trabalhadore(a)s vão debater as origens, o presente e o futuro da CPT.

Nascida no contexto do Regime Militar, 1975, quando as empresas começaram invadir a Amazônia, logo se espalhou pelo Brasil, chegando aqui no São Francisco em 1976, quando era construída a barragem de Sobradinho, deslocando 4 cidades e 72 mil pessoas.

Na raiz da CPT estão pessoas como Pedro Casaldáliga, Thomas Balduino. Vivos ainda estão Ivo Poletto e Ranulfo Peloso. Suponho que eles tenham sido convidados para o Congresso, já que são a memória viva de um “kairós” que não se repete todo dia na história.

Outro dia conversava com meu compadre Ruben Siqueira e falávamos da importância das CPT em nossas vidas. Foi um presente de Deus participar por tantas décadas dessa pastoral, continuando agora voluntariamente, ainda que mais na retaguarda, colaborando na formação aqui na CPT de Juazeiro da Bahia e na equipe da própria Bahia. Essa história pessoal mudou nossas vidas, nos deu um sentido outro do que seja pastoral, do que seja o evangelho, do que significa ser discípulos (mesmo com tantas falhas) de Jesus de Nazaré.

Hoje há muitas mudanças. Aquela pastoral que nasceu para servir aos agredidos pelo capital no campo, hoje tem que enfrentar as questões de gênero, de “raça”, ambientais, além das questões fundiárias. Ela que nasceu do impulso profético desses homens e mulheres únicos na história, agora experimenta a perda de seus precursores de origem, temos uma nova geração de agentes. Hoje temos poucos padres, religiosas, leigos e bispos com a disposição de colocar suas vidas em risco para servir aos injustiçados do campo.

Além desses fatores, hoje há muitos movimentos sociais no campo, como o MST, MAB, MPA, movimentos agroecológicos e o próprio sindicalismo rural. De alguma forma, dão respostas a muitos desses problemas do campo que antes estavam sob a responsabilidade da CPT.

Por outro lado, hoje o capital do campo é transnacional, ligado ao nacional, como as mineradoras, as empresas solares, eólicas e a expansão violenta do agronegócio nas terras públicas, territórios indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais.

Além de menos agentes, há menos recursos financeiros, o que torna precário muitas vezes o trabalho das equipes. Nesse momento da história, há um corte violento nos recursos das equipes por todo o Brasil.

Infelizmente a CPT ainda existe, porque se houvesse justiça no campo do Brasil ela não precisaria existir. Por outro lado, felizmente ela existe, porque a situação do campo ainda demanda a presença da CPT. Então, que ela exista enquanto for necessária.


domingo, 20 de julho de 2025

Curso de Geografia da UNB promove vivência na Amazônia

As atividades ocorrem entre os dias 18 de julho a 10 de agosto nos estados do Pará, Amazonas e Roraima

 

Saída da comitiva de Brasília, dia 18 de julho. 

Perto de 40 pessoas entre estudantes e professores do curso de Geografia da Universidade de Brasília (Unb) ficarão três semanas conhecendo parte da diversidade de três estados amazônicos, onde constam na agenda o Pará, Amazonas e Roraima. 

Trata-se do projeto Vivência Amazônica, organizado pelo Projeto de Extensão vinculado ao Núcleo de Estudos Amazônicos (Neaz), sob a coordenação do professor Manuel Pereira de Andrade.

A saída de Brasília ocorreu no dia 18 de julho, a previsão do encerramento é o dia 10 de agosto.  A comitiva aporta na cidade de Santarém na noite do dia 20, domingo.  O grupo  saiu de Brasília um dia depois da Câmara aprovar a PL da Devastação, o Projeto de Lei 2.159/2021. 

Trata-se da décima versão do projeto, que iniciou no ano de 2016. A ideia é possibilitar aos discentes a convivência com indígenas, quilombolas, extrativistas, agricultores/as familiares e camponeses.

Os/as estudantes terão a oportunidade de realizar algumas atividades acadêmicas e de extensão em uma parceria entre o Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAz/CEAM/UnB) e o Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras (PPGSOF) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), no período de 28 de julho a 2 de agosto.

Roteiro da Vivência Amazônica

Nestes eventos o Neaz  apresentará alguns dos trabalhos realizados durante a disciplina “Tópicos Especiais sobre a Amazônia” e pelo projeto de extensão Vivência Amazônica.

O mesmo núcleo é responsável pela realização do Fórum Internacional sobre a Amazônia, que este ano ocorreu no mês de junho. Saiba mais sobre o FIA AQUI

 

Mais informações

Professor Manuel Pereira 61 98131-9813

Jean Muller – 61 98347 1138 (discente)

Jabuti acadêmico: obra que retrata saga de extrativistas assassinados no Pará é semifinalista do Jabuti

O professor  da UFBA, Felipe Milanez, assina a obra Lutar com a floresta, publicada pela Editora Elefante



José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram assassinados em uma manhã do dia 24 maio de 2011, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. Região imortalizada onde mais se mata em disputas pela terra no Brasil.

Quando do anuncio do caso na Câmara Federal, a bancada ruralista festejou como se fosse uma final de campeonato. O mesmo Legislativo que acaba de passar a boiada sobre o licenciamento ambiental no ano em que a Amazônia sedia a COP. 

Como outros casos de execução de dirigentes sindicais, ambientalistas e defensores de direitos humanos, todos sabiam, até os carrapatos dos bois das terras griladas.

O nome do casal constava em lista de pessoas ameaçadas de morte,  a cada ano divulgada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Nada foi feito.  José Cláudio chegou a denunciar as ameaças que o casal vinha sofrendo durante o evento Red Amazônia, realizado em Manaus, meses antes da tocaia.

Os extrativistas moravam no Projeto de Assentamento Agroextrativsita (PAE) Praialta Piranheira.  No contexto das contradições das disputas pela terra, o sul e o sudeste do Pará contabilizam um pouco mais de 500 projetos de assentamentos da reforma agrária (PAs).

Maria do Espírito Santo e José Cláudio. Foto: Felipe Milanez


O Praialta Piranheira é o único projeto com esse viés ambientalista. Até a criação do PAE os moradores contaram com a mediação de inúmeros sujeitos do campo democrático, onde constam frações da Igreja Católica, a exemplo da CPT, UFPA, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), ONGs, partidos políticos, Conselho Nacional dos Seringueiros, entre outros sujeitos.  

Por longo tempo o Laboratório Socioambiental do Araguaia-Tocantins (LASAT) prestou assessoria com relação ao manejo florestal de base comunitária.  Na época o Lasat era vinculado a UFPA. Com relação ao manejo florestal de base comunitária, um conjunto de instituições propõe há mais de dez anos a efetivação de uma política estadual.  Saiba mais AQUI

A obra – o jornalista, documentarista e sociólogo Felipe Milanez assina a obra Lutar com a floresta, lançando em maio de 2024, pela Editora Efefante.

Ela resulta de trabalho de doutoramento realizado no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, sob a orientação de um time de primeira linha, onde constam o economista Martinez Alier (Universidade Autônoma de Barcelona), a historiadora ambiental Stefania Barca (à época Universidade Coimbra) e o antropólogo Alf Hornborg (Universidade de Lund), em 2015.

O professor da Universidade Federal da Bahia esclarece que não se trata de uma biografia ou trabalho etnográfico. Mas, sim de um esforço em dialogar com as ideais do casal em defesa da floresta e a mobilização em um projeto para além das fronteiras do Antropoceno.

Sob a inspiração do sociólogo José de Souza Martins, Milanez sintetiza na apresentação do livro que “Não se trata apenas de um estudo de caso, mas também de um estudo a partir de um caso, uma investigação que utiliza um caso crucial enquanto analisador-revelador das contradições da sociedade capitalista”.

Com vistas a manter acesa a luta do casal, as famílias dos extrativistas criaram um instituto em defesa da memória dos mártires. Entre outras atividades, todo mês de maio a instituição realiza a Romaria dos Mártires da Floresta.  Ano passado Milanez lançou o livro em Marabá.

O livro de Felipe Milanez para além de iluminar sobre o martírio de José e Maria, a inoperância do estado em garantir a vida dos extrativistas, alerta para a possibilidade da construção de um projeto para além da apropriação privadas das riquezas e dos saberes da região.

O livro ombreia outras contribuições que buscam a edificação de um diálogo marcado pela horizontalidade entre os sujeitos e os diferentes saberes.


Adquira o livro AQUI