Neres mora no Lago Grande, o projeto de assentamento tem sido palco de constantes tensões e ameaças contra defensores do meio ambiente, reforma agrária e direitos humanos.
Darlan é o primeiro à esquerda. Foto: divulgação Psol/PA.
Viver nas Amazônias é bicho arriscoso. Aparecido em ser jovem preto em grande centro.
É como carregar um alvo nas costas. Ser jovem indígena, preto, ribeirinho,
camponês pelos beirais destas terras distantes dos centros de poder, e, ter ciência
da defesa do chão, subsolo, floresta e rio é bicho pra lá de perigoso.
Darlan Neres que o diga. O filho da comunidade Cabeceira do Marco, que
integra o Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, no
município de Santarém, bandas do oeste do Pará, tem sido perseguido por um
grupo de madeireiros.
No derradeiro dia 12, um grupo de madeireiros andava em sua caça. Ousaram até visitar a casa do jovem ambientalista,
que faz parte do coletivo Guardiões do Bem Viver. Os idosos da família ficaram temerosos pela
integridade do rebento.
Lago Grande, assim como outros territórios das Amazônias, vive sob
constante ameaça da cobiça de grileiros, madeireiros, garimpeiros e
mineradoras. A terra se avizinha à cidade de Juruti, que abriga projeto de exploração
de bauxita da empresa estadunidense Alcoa. Ela é um dos sujeitos interessados em explorar
o subsolo do PAE.
Para os defensores do meio ambientes nestas paragens, sobreviver sob
ameaças tem sido uma constante. Em março, desta feita na região de Arapiuns, um
pastor ameaçou de morte várias lideranças parelhadas na defesa do meio
ambiente, reforma agrária e direitos humanos. Recentemente tem-se o registro de ameaças
aos indígenas da área Maró, como reporta o site Tapajós de Fato.
Sobre a ameaça a Darlan, a assessoria jurídica dos movimentos
sociais do Baixo Amazonas já tomou as providências cabíveis. Bem como fez uma
carta de solidariedade e apoio ao universitário. Leia AQUI
Neres é graduando em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do
Pará (Ufopa), e integrou as fileiras da chapa coletiva do Psol, denominada de
Bem Viver, que concorreu na última eleição à uma cadeira no legislativo local. Leia
AQUI
PAE Lago Grande
O PAE Lago Grande foi criado em 2005, concomitante ao início de
operação da mineradora Alcoa na região. 35 mil pessoas distribuídas em 144
comunidade em território de 250 mil hectares dão corpo ao assentamento, que
sobrevive do extrativismo e outras atividades. Até o presente momento a
população aguarda a titulação coletiva.
A população do PAE é maior que a maioria dos municípios do Brasil,
que possui a média calculada em 20 mil pessoas.
A modalidade de PAE foi criada Portaria nº 268 no dia 23 de outubro de 1996, e os define como “um assentamento destinado à exploração de
área dotada de riquezas extrativas, através de atividades economicamente
viáveis, socialmente justas e ecologicamente sustentáveis, a serem executadas
pelas populações que ocupem ou venham ocupar as mencionadas áreas.”
A Federação das
Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da
Gleba do Lago Grande (Feagle) é a principal representação
política. Nos últimos anos tem sido palco de constantes tensões em diferentes
dimensões, que passa por grilagem, assédio de madeireiros, garimpeiros e mineradoras.
Trata-se de uma área de lagos sob a
influência dos rios Amazonas, Tapajós e o Arapiuns.
Até a última eleição para a presidência da República, era recorrente a presença de veículo na cidade de Santarém envelopado com louvação aos setores que refutam a presença de territórios considerados como tradicionais.
A
estampa do carro festejava madeireiros, grileiros, garimpeiros e mineradoras. Desde
o resultado das eleições, nunca mais foi visto por estas plagas.
Conheça o Plano de Utilização do PAE Lago Grande, AQUI