sexta-feira, 30 de março de 2018

Prisão do Pe Amaro no Pará: o império da lei há de chegar no coração do Pará???


 Pe Amaro - Agente Pastoral da CPT no Xingu

A canção de Caetano invoca: “ O império da lei há de chegar no coração no Pará. [...] Quem matou meu amor tem que pagar/E ainda mais quem mandou matar/. 


Triste constatar que a poética é difícil de se materializar em solo encharcado de sangue de trabalhadores e trabalhadoras rurais, seus apoiadores e simpatizantes. As execuções e chacinas continuam. 

Assim como os atentados de toda ordem, via a mão do estado ou dos latifundiários. Ações aditivadas pelo adubo da impunidade e a parcialidade da justiça. O caso recente foi a Chacinade Pau Darco, no mesmo conturbado sudeste paraense. A PM executou 10 trabalhadores rurais em maio de 2017. Não há ninguém preso.

Já na direção em criminalizar a luta pela reforma agrária, meio ambiente e os direitos humanos, o tijolo mais recente na edificação da catedral de injustiças, temos a prisão preventiva do Pe Amaro, ocorrida na cidade de Anapu, no último dia 27, as vésperas da semana santa. Como de praxe, no rosário de acusações constam: formação de quadrilha, esbulho possessório ameaça a ordem, etc.
Amaro é ativista da Comissão Pastora da Terra (CPT). Trabalhou com a missionária Dorothy Stang apoiando a luta pela terra na região do Xingu, onde é pároco.

O caso ocorre no contexto de dias depois da execução da missionária Stang completar 13 anos, e a execução dos militantes do MST, Onalício Araújo Barros e Valentim Silva Serra. Fusquinha e Doutor, respectivamente, como eram conhecidos, somar duas décadas de impunidade. E, o Massacre de Eldorado do Carajás contabilizar 22 anos, no próximo dia 17 de abril.
 
No contexto de grande avanço do capital sobre as terras e as riquezas da Amazônia, os parcos direitos adquiridos na Constituição Federal de 1988 estão na mira da desregulamentação da pauta do Congresso Nacional, onde a ordem é azeitar a “lei” para facilitar a circulação do grande capital. E, em direção oposta fragilizar a reprodução econômica, cultural, política e social das populações ancestrais. 

Neste caleidoscópio de violências, consta ainda um rosário imenso de agentes políticos de toda ordem sendo processados por grandes corporações do quilate da Vale, entre outras, e o próprio estado. Fazendeiros sitiam ocupações. Tocam o terror. Incendiam roçados, disparam tiros, jogam agrotóxico, ameaçam de morte. 

Parece que ninguém está a salvo. Vide a truculência ocorrida em Belém, no auditório da UFPA, em novembro do ano passado, quando o prefeito do município de Senador José Porfírio, e Dirceu Biancardi (PSDB) e o deputado estadual Fernando Coimbra (PSD), comandando um grupo de cerca de 30 pessoas, impediram a apresentação de estudos sobre os impactos da mineração na Volta Grande do Xingu. 

A pesquisa coordenada pela reconhecida professora Rosa Acevedo Marin sobre a mineração da empresa canadense Belo Sun teve de ser adiada por conta da ação do bando comandado pelos políticos, que mantiveram pesquisadores em cárcere no auditório. Isso, em plena capital do estado, no auditório de uma universidade pública, onde o governador do estado Simão Jatene (PSDB), foi professor. 

Diante deste cenário, indaga-se: o império da lei há de chegar no coração do Pará????

Leia a nota da CPT AQUI

quarta-feira, 28 de março de 2018

Professor de Gestão Pública aprova projeto de impressão de livro em edital de Patrocínio do Banco da Amazônia.


Trata-se do primeiro volume da série institulada Arenas Amazônicas, que também enfocará grandes projetos, em seu segundo volume e comunicação popular, no derradeiro. 
 Capa do vol I do Arenas Amazônicas - Arte: Luciano Silva e Roger Almeida/RL2design

O projeto para impressão do livro “Arenas Amazônicas: negros, mulheres, periferia, cultura e resistências” assinado pelo professor Rogerio Almeida do curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional concorreu com mais de 800 propostas no Edital de Patrocínio do Banco da Amazônia para o ano de 2018.

Os jornalistas Lilian Campelo e Daniel Leite Junior assinam o conjunto de reportagens que iluminam parte das múltiplas realidades das periferias da cidade de Belém e região metropolitana. Boa parte do material foi publicado no site de jornalismo paulista da Agência Carta Maior.  

Sete textos dão vida ao livro. Os mesmos sublinham diferentes formas de associações e ações afirmativas de negros/as, mulheres, jovens e adultos nas baixadas de Belém. As periferias da insular da cidade, a exemplo da Pedreira, Icoaraci, Terra Firme e Guamá, e região metropolitana, caso do bairro da Guanabara são notados fora do esquadro comum dos meios de comunicação da cidade, que preferem o aspecto policialesco.
Grafiteiros, DJs, educadores, professores, estudantes, biscateiros, aposentados e desempregados são personagens dos textos, que a partir de inúmeros coletivos se impõem como protagonistas de sua própria História, onde afirmam suas identidades coletivas ou individuais como negros, artistas, cidadãos das “quebradas”, que em Belém são conhecidas como baixadas.
Rios serpenteiam a cidade cortada por canais. Num deles, o dos Mundurukus, à Rua dos Pretos, migrantes maranhenses oriundos do município de Cururupu, Baixada Maranhense a partir do Tambor do Crioula e da Escolinha do Reggae delimitam seus territórios como migrantes negros do vizinho estado. Assim, tambores de crioula, danças, canções, manifestações religiosas e ocupação de espaços públicos e ações em mídias digitais são alguns dos recursos usados.

Na Pedreira, bairro do amor e do samba, à Rua Álvaro Adolfo, o Coletivo Rádio Cipó germinou. O mesmo aglutinou gerações diferentes. O grupo hoje extinto, ganhou o mundo nos anos 2000. A vedete Dona Onete segue carreira com boa aceitação no país e fora dele. Os diferentes artífices continuam a atuar, a exemplo do DJ Montalvão, que segue em sua carreira autoral. 

As mulheres ocupam lugar de destaque do volume um da série. Thiane Neves e Nega Suh são jovens ativistas do movimento negro, que em certa medida seguem os exemplos das pioneiras Zélia Amador e Nilma Bentes. Diferentes gerações ocupam a mesma trincheira. 

Outra experiente ativista incensada no livro é a professora Hecilda Veiga. Histórica militante pela defesa dos direitos humanos do estado encerra a obra.  A professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e o seu companheiro, o advogado Paulo Fontelles, assassinado na década de 1980 por defender camponeses na luta pela reforma agrária foram fundadores da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH). 

Nos anos de exceção, a professora foi presa e torturada nos porões dos quartéis das forças armadas nacionais. Veiga estava grávida. Mesmo assim não houve complacência. Em diferentes momentos econômicos, históricos e políticos, apesar do cenário, sempre ocorreram formas de resistências. É esta a angulação desta série que ora se apresenta. A série é inspirada em educadores e ativistas comprometidos com as causas e lutas coletivas dos considerados vencidos.

Em fase de nova revisão, o livro deve ser lançado em Belém e Santarém, e pode ser baixado em formato de PDF na internet. 
 

O segundo volume, em fase de revisão, enfocará a peleja das populações locais e suas formas de enfrentamento aos grandes projetos, que cimentam a trilha da condição colonial da região. O terceiro e último buscará tratar dos meios de comunicação populares. Nele jornais e rádios do campo democrático serão sublinhados.