segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Bem Viver é a principal bandeira de chapa coletiva de jovens de Santarém

Jovens das periferias e da zona de rural em puxirum disputam cadeira do legislativo 


Da esquerda para a direita: Darlon, Diana, Sandrielem e Thiago

Barrar o rio é barrar a vida.  Arruinar a floresta segue a mesma trilha.  Envenenar a terra é negar o ciclo natural da existência. O rio, a floresta e a terra são unos e fundamentais para a sobrevivências dos povos da floresta.

Vida em sua amplitude. Para além do peixe, do fruto, do pão.  O rio, a floresta e terra abrigam as lendas. São tributários dos encantados. É um mundo sem cerca. Parente a ombrear parente em um tempo próprio.

Trata-se de um mundo ímpar.  Sem correrias. Um tempo particular. Em um espaço inundado de particularidades próprias.  O celebrar a vida. O rio, a floresta e a terra e as dinâmicas dos povos que nela vivem representam o Bem Viver (tekoporá, tekovekatu ou outras versões).

É o gitinho criado na creche no mundo em uma terra sem males e cercas, como defende a cultura do povo Guarani. As riquezas usadas em puxirum (mutirão), como se diz pelas bandas do Baixo Amazonas. Em forma coletiva. Em ciranda da vida. Aos moldes da jornada das mulheres indígenas e quilombolas do Psol, os jovens da cidade de Santarém erguem na cumeeira mais elevada a bandeira do Bem Viver.

Há distinção nas duas chapas coletivas que pleiteiam assento no legislativo municipal. Legislativo que ao apagar das luzes de 2018, em desrespeito à consulta pública, acenaram para as grandes empresas que desejam erguer um complexo portuário na cidade. Portos da soja. Obras a afetarem indígenas e quilombolas.

O golpe do Legislativo foi imediatamente sancionado pelo atual prefeito. Ambos ignoraram a decisão do povo: a defesa dos territórios de indígenas, quilombolas e camponeses. Setores que não possuem cadeira no poder que possibilite a defesa de suas bandeiras. A defesa de suas vidas em plenitude.

Assim, os jovens da zona rural e das periferias da cidade de Santarém dão um exemplo de consciência política e encaram o desafio de enfrentar as oligarquias locais e outros estranhos da cadeia da soja, o setor interessado no complexo portuário do Lago do Maicá, e ainda a mineradora Alcoa, que chafurda para se apossar de terras de Lago Grande, um assentamento agroextrativista.

Unidades de conservação, terras indígenas, terras quilombolas, terras de camponeses, terras de beiradeiros  integram as feições territoriais do Baixo Amazonas. Terra de povo cabano. É terra farta em floresta em ainda, apesar de ações de grileiros e madeireiros.  Muitos deles vereadores ou apoiadores deles. 

Neste combate desigual temos na linha de frente temos Thiago Rocha, um jovem advogado de traços indígenas há 08 anos militando no campo popular. É defensor dos direitos humanos, e também graduado em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional pela UFOPA. É assessor referencial da Pastoral da Juventude no Pará e Amapá (Regional Norte II), coordena a Comissão Justiça e Paz na Arquidiocese de Santarém, e é educador Popular na ONG FASE.

A ribeirinha Sandrielem Vieira é nascida da comunidade de Coroca, no Rio Arapiuns. Soma 20 anos, é universitária na área da educação Matemática e Física na UFOPA. É militante dos movimentos sociais no interior de Santarém. Liderança que realiza serviço Pastoral com a Juventude de sua região, e luta por uma política participativa advinda do coletivo.

Darlon Neres nasceu na comunidade Cabeceira do Marco, no Assentamento Agroextrativista PAE Lago Grande, Santarém-PA. Tem 19 anos, é graduando do curso de Pedagogia. Defensor dos Direitos Humanos, militante dos movimentos sociais, atua na luta em defesa do território e na construção coletiva do Bem Viver. É agricultor familiar e faz ativismo para que as vozes dos povos da floresta ecoem nos espaços de decisão.

Diana Maria é cria do bairro do Uruará, tem 29 anos, é acadêmica do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia das Águas, UFOPA. Atual coordenadora da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Santarém. Militante dos movimentos sociais e engajada nas lutas em defesa e construção coletiva do Bem Viver.  

Sobre o bem viver, o coletivo explica “O bem viver é inspirado nas vivências históricas de povos indígenas andinos e amazônicos. A essência do Bem Viver é comunitária, sustentada pela diversidade cultural e um profundo respeito a todas as formas de vida, e assegura os projetos coletivos de futuro, baseados na dignidade, justiça social e ecológica”.

Em tempo marcado por nuvens cinzas de um governo de morte, que a todo momento anuncia um novo dano, é pra lá de bem vindo o puxirum da rapaziada, que bem conhecem as ruas e os rios das quebradas da cidade.



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