Marciano é um homem de
meia idade filho da cidade de Baião, no Baixo Tocantins. Ele foi peão de
empresa terceirizada no setor de mineração no sudeste do Pará na década de 70.
Atualmente é dirigente
de uma associação de camponeses.
O senhor conta que foi
graças a um cozinheiro que procurava ouro num igarapé que a Vale descobriu minério do projeto Salobo.
Geólogos e outros
especialistas já haviam pesquisado a região e nada, conta Marciano. O cozinheiro
misturou o que achou com outras coletas, e bingo.
Marciano hoje cursa
licenciatura em Educação do Campo no programa do Parfor no Instituto Federal do
Pará (IFPA), na cidade de Marabá.
O hoje estudante
rememora a densidade da floresta repleta de castanhais e mognos. A fauna era rica.
Vara de porcos do mato provocava medo nos peões.
“Era comum a gente
passar até quatro dias andando de voadeiras até alcançar uma trilha. Paulistas grilavam
terras e tomavam a madeira” rememora Marciano. .
Naquele momento o
programa Grande Carajás dava os passos iniciais para a reconfiguração profunda
da Amazônia Oriental.
O capital em aliança
com a tecnologia contava com o endosso e financiamento do Estado para cimentar
as rodovias para o saque numa das mais importantes reservas minerais do mundo,
Serra Norte no município de Parauapebas.
Os especialistas das
academiais avaliavam que os camponeses migrantes, a maioria composta de nordestinos
iriam seguir o em itinerância, dando lugar a eficiência capitalista.
Aos trancos e barrancos
os camponeses conseguiram uma territorialização. A produção continua sendo um
gargalo. No entanto, a educação avança, a exemplo do Campus Rural do IFPA,
fixado num antigo castanhal.
Marciano faz parte de
uma turma do IFPA. Passados 30 anos dos passos iniciais de Carajás, a região
tem mais de cinquenta por cento definida como projetos de assentamentos rurais.
Os indicadores socioeconômicos
são os piores possíveis. Na mais recente lista de trabalho escravo do
Ministério do Emprego e do Trabalho a pecuária do sudeste continua imbatível.
Desmatamento, malária,
morte de camponeses e assessores e a impunidade não possuem par no país. Os passivos
sociais e ambientais são as principais externalidades do projeto Carajás.
A fronteira agromineral,
como definiu o professor Jean Hébette , passa por uma abissal reagendamento,
que aprofunda o saque ao coração da Amazônia.
Parte da ferrovia está
sendo duplicada por conta da amplificação da exploração de minério de ferro na
Serra Sul (S11D), no município de Canaã dos Carajás.
Pátios e o porto do
Itaqui também passam por reforma e ampliação. Em breve as obras da hidrelétrica
de Marabá, na fronteira dos municípios de Marabá e São João do Araguaia devem iniciar.
É como se a região
vivesse um nova Carajazão, como os militares tratavam o projeto que seria a redenção
para honrar o pagamento da dívida externa.
Para tentar avaliar os 30 anos do projeto ativistas de direitos humanos e ambientalistas realizam seminários em Marabá, Belém e São Luís.
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