Rua do Ouro, centro do
município de Tucumã, sul do Pará. O nome da rua justifica um dos emblemas do
lugar, a mineração. Na década de 1980 a febre do ouro provocou o fluxo de vários
monomotores ao município.
Não há nada de nobre no
logradouro. Os botecos são simples. Alguns com estrutura de madeira. Ali ficam
uns puteiros. Nada atraentes.
Quase vinte e três
horas num dia de semana. Tudo pacato. Uma jovem loira toma cerveja com um
senhor que sinaliza embriaguez. Ela conta da viagem aos EUA. Ele ouve sem
atenção. Tenta curar o porre num prato de sopa. Combinam o serviço. Tomo duas
cervejas com o parceiro de viagem. E vamos embora.
Rua à cima uma placa
divertida chama atenção: Churrasco do Maranhão com o signo de um japonês
gordinho. Três jovens atendem no lugar: Érica, Leila e Renata. A primeira é
mais encorpada. Negra do Maranhão.
A dona de riso largo
tem uma bunda farta. A segunda é a menor. Tem feição indígena. Simpática. Já
terceira é mediana. Cabelos longos e parece a mais jovem do grupo. O sutiã
aperta os seios que transbordam da camiseta. A cada noite uma saraivada de
cantadas. Experimentamos o churrasco
antes de dormir.
A Rua do Ouro fica perto
da rodoviária erguida pela Vale, que explora níquel na fronteira com Ourilândia
do Norte e outras cidades. Calçar ruas, garantir
algumas edificações, bancar festival disso ou daquilo constitui como agenda da corporação
como estratégia de relação com a comunidade e de comunicação. E ainda barganha
com o artificio de “responsabilidade social”.
Informantes indicam que
no pico da obra era comum o deslocamento de jovens das cidades da redondeza no
incremento do serviço sexual. A divisória das principais avenidas das cidades
servia como butiques de carne humana. A força do capital a tudo subordina?
Na região, após a
exploração do ouro sucedeu a madeireira. Nos dias atuais existem produtores de
cacau e pecuária leiteira. Os colonos, alguns com mais de vinte anos de vínculo
com a terra podem ser tratados de médios produtores. Alguns possuem mais de 200
cabeças no rebanho, um carro adequado para o deslocamento nas estradas de terra,
camionetes com tração.
Explosões nos fornos da
fábrica obrigaram a mineradora a suspender a operação. A recuperação é
demorada. E nos bastidores a tendência é que a Vale deseja se desvencilhar do
empreendimento.
Assim como outros
projetos da corporação no Pará, o projeto Onça Puma, adquirido da empresa
canadense Canico Resource Corp tende a pressionar
territórios já definidos como projetos de assentamentos, modalidades de
reservas ambientais e áreas indígenas.
Os atropelos
nos processos de licenciamento obrigaram a mediação do Ministério Público
Federal (MPF). A instituição tem sido a principal no cenário jurídico nas
pelejas para a efetivação dos direitos violados das comunidades atingidas.
Projetos de grande
envergadura provocam a desagregação e turbinam as disputas internas na comunidade.
Mesmo entre os representantes de deus isso tem ocorrido: pastores e padres
cooptados em algumas localidades advogam em favor da empresa. Ajudam a azeitar “as
negociações” entre as famílias impactadas e a mineradora.
Aos que de alguma forma
tensionam e encaminham denúncias a tática muda. Passa pela tentativa de cooptação,
persuasão ou oferta de mimos e ainda o isolamento.
Chove no trecho que de vez
em quando tem a rodovia tomada por boiadas. Os hotéis mais bacanas erguidos
para abrigar o staff da empresa e das
terceirizadas estão vazios por conta da suspensão do projeto.
Desde o ano passado uns
projetos de reassentamento foram efetivados, como o União, fruto da negociação da
área conhecida como Campos Altos. A assessoria
jurídica ficou por conta da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a técnica a
cargo da ONG Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular
(Cepasp).
O processo ainda não encerrou.
Algumas famílias ainda aguardam negociações. Mas, alguns locais já parecem
fantasmas, como a Vila Minerasul, no município de São Félix do Xingu.
E o diapasão da
expropriação do capital segue o mesmo desde os tempos de Cabral.
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