William Santos de Assis
(Lasat/NCADR/UFPA).
Vi a frase acima num vídeo do
cortejo fúnebre do Zé Cláudio e D. Maria. A faixa era carregada por parentes do
casal. Para quem ouviu Zé Cláudio falando sobre a convivência com a floresta embaixo
da copa da Majestade, pode imaginar a força dessa expressão. Ele se referia à
castanheira centenária como sua irmã. Durante a conversa ele acariciava a
Majestade, explicava que ela ultimamente produziu poucos frutos, porque andava
meio cansada, mas que nos próximos anos voltaria a sua força máxima.
“É assim mesmo, um ano ela produz
muito, no outro diminui um pouquinho, mas sempre produz”, dizia. Zé Cláudio
parecia entender perfeitamente as razões da variação de produção da Majestade e
não reclamava. Lição primordial para a convivência com a floresta: aceitar seus
limites e transformá-los em vantagem.
Zé Cláudio e D. Maria não deixaram
órfãos apenas a Majestade. Todos os que acreditam numa sociedade diferente,
regida por outros princípios, estão de certa maneira com esse sentimento.
No entanto, as manifestações de
indignação no Pará, no Brasil e no mundo mostram que não temos muito tempo para
chorar a dor. No mesmo dia do assassinato do Zé e D. Maria foi aprovado na
Câmara Federal um Código Florestal que retrocede em seus atos de regulação do
uso dos recursos naturais.
Antes da aprovação do Código Florestal,
deputados e assistentes vaiaram o anuncio da morte do Zé Cláudio e D. Maria,
numa atitude de extrema insensibilidade e de desvalorização da vida humana,
para dizer o mínimo.
Se esses “representantes do povo”
reagem dessa maneira frente a um brutal assassinato, imaginem a preocupação que
terão com as árvores, nascente e margens de rios, animais silvestres,
microorganismo do solo e aéreos e outros viventes da floresta.
Alguns dias depois do assassinato
do Zé Cláudio e D. Maria, tombou Adelino Ramos na divisa de Rondônia com o
Amazonas. Adelino também era líder de um Projeto de Assentamento Florestal
(PAF). Assim como Zé e D. Maria, Adelino já havia sofrido ameaças. Por trás da
culatra os mesmos algozes, madeireiros ávidos de lucro fácil com a exploração
ilegal das espécies florestais de alto valor econômico.
Que sociedade é essa: onde quem luta
pelo bem comum é penalizado? Onde o direito de optar por uma vida mais
equilibrada com a natureza é cerceado! Onde o poder econômico decide sobre a
vida e a morte? Onde a perda da vida por uma causa justa é vaiada na “Câmara do
povo”!?Onde a vítima é mutilada com o intuito de gerar uma prova do ato
desumano?
Definitivamente, não é essa a
sociedade que queremos para nossos descendentes. Vamos fazer o que Zé Cláudio e
D. Maria certamente fariam: lutar sem medo por uma sociedade diferente. Não
podemos recuar diante dessa ofensiva da barbárie. Vamos à luta com as nossas armas:
a denúncia, a palavra, a atitude, o estudo, o ensino e a coragem.
São Leopoldo – RS, 28 de maio de
2011
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