segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Após polêmica, Câmara de Santarém cancela homenagem a Confederados, supremacistas estadunidenses que chegaram em Santarém/PA há 153 anos

Carlos Silva, vereador do PSC é autor do pedido da sessão especial, agendada para o dia 14 de setembro

 

Vereador Carlos Silva (PSC) em ato antidemocrático do dia 07, autor do requerimento. Imagem: rede social do edil. 

Santarém é uma cidade de porte médio, que fica a oeste do estado do Pará, com uma população estimada em 300 mil habitantes, que vive na confluência dos rios Tapajós e Amazonas, e sob a influência das rodovias federais BR 163 (Cuiabá-Santarém) e a BR 230 (Transamazônica). Muitos destes habitantes são herdeiros dos povos ancestrais, bem como de remanescentes de quilombos e camponeses. 

Apesar da forte presença indigena na região, de quilombolas e campesinos, o vereador evangélico do PSC, Carlos Silva, auto declarado como pardo e jornalista, protocolou em maio junto à mesa diretora do legislativo do município o Requerimento de nº 940/2021, cujo intento residia em homenagear a presença dos supremacistas brancos estadunidenses, ocorrida no dia 17 de setembro do Século XIX.

Em maio o requerimento foi aprovado por unanimidade pelos 21 vereadores, sendo dois do Partido dos Trabalhadores (PT), que após a repercussão da nota dos movimentos negro e sociais, também se manifestou contra a sessão. Leia  nota da Executiva do partido AQUI

Após a divulgação das notas contra a sessão especial que ocorreria amanhã, dia 14, o evento foi cancelado. Em nota em sua rede social, o vereador declara que os descendentes dos Confederados não compactuam com os ideais racistas das famílias pioneiras que aportaram em Santarém, e afirma que a contribuição dos mesmos foi fundamental para a edificação da Igreja Batista. Silva foi um dos entusiastas na cidade pelos atos contra a democracia do dia 7 de setembro.

Confederados em Santarém

Solar dos Brancos ou Solar dos Confederados nomeia um sobrado de três pavimentos cravado no Centro da cidade. Ele é uma das expressões do processo que marca a presença dos Confederados no município.

Solar dos Brancos- Centro de Santarém/PA. Foto: Rogerio Almeida

Hoje o prédio abriga uma loja de uma grande rede de departamentos.  Uma pequena placa patrocinada por uma grande empresa de mineração conta parte da história. No mesmo perímetro, em local mais privilegiado, à beira do Tapajós, outro prédio, de propriedade do Barão do Tapajós (Miguel Antônio Pinto Guimarães) materializa o período escravocrata da região.

A imigração dos Confederados foi possível graças a um convênio firmado entre o presidente da Província do Pará e o major Lansford Warrem Hastings em novembro de 1866.

O Barão e uma família de Confederados fizeram par na fazenda Taperinha.  O Barão vinha a ser genro de Maria Macambira, donas de terras por todo o Baixo Amazonas, reconhecida pela sua crueldade contra os negros. A presença da família se mantém em Santarém.

Investigações do historiador Euripedes Funes, autor de uma tese na USP sobre a presença quilombola no Baixo Amazonas, recupera que os Confederados do vale do Missipipi, Tenesse e Alabana  aportaram em terras parauaras fugidos após a derrota na Guerra de Secessão. Um grupo um superior a pouco mais de cem pessoas.

Com o objetivo em modernizar a fazenda Taperinha o Barão firma sociedade com o confederado Romulus  Rhome (sociedade Pinto & Rhome). No Planalto Santareno, marcado pela presença de quilombos, boa parte da população de remanescentes tem como origem os negros fugidos da fazenda Taperinha.

Sobre os confederados em Santarém, além da obra de Norma Guilhon, e a tese de Euripedes Funes sobre a presença de quilombos no Baixo Amazonas, ver tese de Célio Silva, da Unicamp sobre os Confederados. Ver AQUI