Os filhos Wanda e Benedicto Monteiro Filho participarão da cerimônia.
Rogerio Almeida
A cerimônia que
será presidida pela professora Aldenize Xavier,
reitora da Ufopa, ocorre a partir das 14h, do dia 25, na Unidade
Tapajós. Os filhos Wanda Monteiro e Benedicto Monteiro filho representarão a família
do escritor Benedicto Wilfred Monteiro. Detalhes AQUI
Além da agenda
em Santarém, ocorrerá seminário na cidade natal de escritor, Alenquer, na noite
do dia 29, na Câmara Municipal. Por coincidência, a 28ª edição da FeiraPanamazônica do livro homenageia Wanda Monteiro e o mestre de cultura popular
Damasceno, quilombola marajoara, infelizmente, em delicado estado de saúde.
No Baixo
Amazonas, Wanda, advogada e escritora apresentará as obras Chão de Exílio e
Aquatempo. O primeiro é uma prosa
poética que recupera parcela da memória do pai, lançado em 2022.
O centenário do
autor celebrado em 2024 serviu de mote para uma série de ações sobre o conjunto
da obra de Benedicto. Muitas restritas à capital, como foi o caso de uma exposição
organizada pela Secretaria de Cultura do Pará (Secult), apesar de apelos para
que a mesma circulasse no Baixo Amazonas. A Secult não respondeu aos ofícios de
solicitação.
Na mesma toada de
homenagens, a Imprensa Oficial do Estado reeditou a tetralogia amazônica do
autor, composta pelas obras “Verdevagomundo (1972)", "O
Minossauro (1975)", “A Terceira Margem (1983)” e “Aquele Um (1985)”. Obras geradas no apogeu da ditadura civil-militar, que representa uma grande inflexão sobre a conformação política, territorial, social e econômica da região,marcada pela hegemonia do capital internacional.
Para Wanda Monteiro,
a filha que herdou a verve poética e a profissão do pai como advogada, “Toda
vez em que o Benedicto é homenageado a gente da família considera como um
resgate da memória. Não só da memória dele, mas, sobre a história do Pará. uma
vez que a história do Benedicto se confunde com a história do Pará. Para a
família é um sentimento de alento diante de tantos silenciamentos e apagamentos
que ele sofreu durante toda a vida. A família tem um profundo sentimento de gratidão
pela honraria concedida pela Ufopa ao Bené. A gente está muito feliz”.
Paulo Nunes,
escritor, professor da Uepa (Universidade do Estado do Pará) e da Unama,
pesquisador da literatura amazônica na perspectiva geopoética, considera que
“Benedicto honra Alenquer, o Baixo Amazonas e a todos nós que gostamos da
região e de estudar a literatura que dela emana. É uma grande felicidade
receber a notícia de uma universidade da grandeza da Ufopa reconhecer
academicamente a obra de Benedicto Monteiro, assim como a sua trajetória em
defesa dos direitos humanos, o direito à terra e em defesa da democracia do
Brasil”.
Justa, merecida
e necessária a comenda concedida pela Ufopa a Benedicto Monteiro, avalia
Franssinete Florenzano, jornalista, advogada, membro da Academia de Letras do
Pará e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós.
Para
a imortal, “A literatura amazônica de Benedicto Monteiro é também expoente da
literatura mundial. Seu personagem Miguel Dos Santos Prazeres, alter ego e
porta-voz do caboclo amazônico e suas dores, já fazia, há tantas décadas,
manifesto ecológico. Homem à frente de seu tempo, de talento multifacetado, era
membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do
Pará e da Academia Paraense de Jornalismo. Ombreou as lutas de quilombolas,
ribeirinhos, indígenas, balateiros, castanheiros, vaqueiros, atores de uma
Amazônia situada em perspectiva universal. Ave, Bené!”
A dissertação
apresentada na Universidade de Campinas (Unicamp) pela professora Maria de Fátima
Nascimento, em 2004, examina a obra O Minossauro (1975), a partir das alegorias
que coteja sobre a ditadura civil-militar. Período em que Benedicto Monteiro
foi cassado e preso. A montagem a partir de discursos pretéritos e de outros
autores constitui um dos recursos
adotados por Monteiro. A professora destaca o uso de canções, relatórios e poemas.
No percurso do
trabalho a professora alerta para e heterogeneidade de estilo que a obra enseja,
onde de sobressai a voz de Miguel dos Santos dos Prazeres. Uma espécie de alter
ego de Monteiro. É um caboco ribeirinho, sabedor das manhas da floresta,
canoeiro e remeiro.
Doutor Honoris
– o fio da meada - Um seminário realizado de forma remota em abril de 2023, onde
participaram Wanda Monteiro, escritora e filha do homenageado, e os professores
Abílio Pacheco, da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará),
Gilberto Marques, UFPA, com a mediação do professor Rogerio Almeida, Ufopa
(Universidade Federal do Oeste do Pará) em celebração ao centenário do escritor
e político Benedicto Monteiro, foi a semeadura da ideia da elaboração do
documento que culminou com a comenda de doutor honoris ao alenquerense
Benedicto Wilfred Monteiro (in memoriam). Assim como a professora Nascimento, o
professor Pacheco é autor de uma tese sobre Benedicto na mesma universidade.
O tema foi sugerido
pelo professor Rogerio Almeida foi pauta do III Ciclo de Debates sobre
Políticas Públicas, do curso de Gestão Pública, do campus de Alenquer. Outros conteúdos seguiram pautando a obra do
autor.
Para efeito
burocrático, a comenda sugerida pelo professor Almeida foi aprovada no
colegiado no curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional, em seguida passou pelo escrutínio do conselho do Instituto
de Ciências da Sociedade (ICS), até ser aprovado pelo Consun (Conselho Superior
da Universidade) da Ufopa em 22 de agosto de 2024.
A condição de
escritor, gestor pública, professor, defensor da democracia e dos direitos
humanos na condição de advogados de posseiros e outras categorias serviram de
recurso no documento que solicitou a comenda ao filho de Alenquer.
Benedicto Monteiro - vários
Apesar da
família abastada e dona de terras, o socialismo servia de farol para o
político. Ao tomar possa das terras da família, as compartilhou entre
trabalhadores rurais de Alenquer. A opção política provocava tensões no seio
familiar.
Monteiro correu
o mundo em busca de formação. Idos das primeiras décadas do século XX, no Rio
de Janeiro fez par com o marajoara Dalcídio Jurandir - igualmente comunista -
após ter sido convidado a sair da casa do tio (um militar) por conta da sua
opção política, recupera Abílio Pachêco, em perfil sobre o autor, em tese
apresentada na Universidade de Campinas (Unicamp), em 2020. No
mesmo documento, o professor realça que Monteiro foi convidado por Marighela a
engrossar as fileiras da luta armada. Acesse a tese AQUI
As informações
aqui elencadas sobre Monteiro possuem como fonte dados sistematizados por
Pachêco, que recupera que em as atividades na condição de advogado ou em
campanha política, o ximango autor registra em gravações relatos dos
trabalhadores. Nestas incursões ao longo dos anos reuniu mais de 100 fitas
gravadas. Fitas k7 e um número expressivo de fichamentos sobre a linguagem
local.
O horizonte
residia em coletar informações para a produção de uma dissertação sobre o falar
loca, e assim pleitear uma vaga no magistério superior. Pachêco
sublinha que todo esse material foi apropriado pelos militares, e nunca foi
restituído ao autor. A sanha contra o saber é de velha
data.
Preso,
Benedicto fez da reclusão do cárcere o tempo para refletir e formatar
narrativas e forjar personagens, a exemplo de Miguel dos Santos
Prazeres. Privado do assento político, o alenquerense fez da
literatura a sua bandeira
O aclamado
professor Darci Ribeiro, em prefácio da obra a Terceira Margem (1981), festeja
que: “Nos textos de Benedicto Monteiro é onde melhor se destrança a trama
humana desumana da vida social da Amazônia que é a verdadeira selva selvagem: a
mata penetrada, assassinada, pela civilização predatória. Lá, metidos por
milênios, povos índios morenos de mil falas e mil caras, decifram a mata,
aprendendo a viver dela e com ela, cultivando, caçando e procriando. Um dia,
sobreveio a hecatombe mercantil e cristã. Era a civilização. Como uma avalanche
ela apodreceu os corpos com as pestes da raça branca. Escravizou os
sobreviventes, para desgastar milhões no trabalho venal. Reproduziu-se no
ventre de mil cunhãs. Entorpeceu o espírito das gentes com a desmoralização
missionária das velhas crenças. Apodreceu suas almas no desengano da vida nova
que não vale a pena ser vivida. A salvação para muitos foi a terceira margem”
Chove sobre
os campos de cachoeira (1933), de Dalcídio Jurandir, aos olhos de Monteiro
serve de farol sobre a construção da representação da Amazônia, em particular,
sua especificidade da oralidade, o mundo das águas e da floresta e seus
habitantes, em uma relação dialética entre sociedade e Abílio Pachêco apontam
que Monteiro foi convidado por Marighela a engrossar as fileiras da luta armada,
quando setores da sociedade organizavam movimentos com vistas a viabilizar
guerrilhas urbana e rural. Tendo o comandante procurado advogado em sua
residência em Belém. Neste contexto, o advogado teve a sua licença da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) cassada, e passou a colaborar com escritórios
de amigos. Ele informa em relato do período que, sempre que era anunciada a
visita de alguma “autoridade” do regime ao Pará, era preso com antecedência, e
liberado vários dias após o evento. Em Transtempo, espécie de autobiografia,
constam os episódios, acima, entre outros.
Pachêco (2020), nas informações elencadas sobre Monteiro, recupera que na condição de advogado, ou em campanha política, o ximango registrava em gravações os relatos dos trabalhadores em suas andanças pelo interior. Nestas incursões ao longo dos anos, reuniu mais de 100 fitas k7 gravadas e um número expressivo de fichamentos sobre a linguagem local.
O horizonte residia em coletar informações para a produção de uma dissertação sobre o falar local, e assim, pleitear uma vaga no magistério superior. Pachêco (2020) sublinha que todo esse material foi apropriado pelos militares, e nunca foi restituído ao autor ou a sua família. A sanha contra o saber, a educação, a democracia e o conhecimento era a palavra de ordem. Um projeto de país. Um projeto de aniquilação e obscurantismo.
Preso, Benedicto fez da reclusão do cárcere o tempo para refletir, formatar narrativas e forjar personagens, a exemplo de Miguel dos Santos Prazeres. Uma espécie de altergo do autor. Privado do assento político, o alenquerense fez da literatura sobre a latitude de nascença a sua bandeira e oxigênio. O Baixo Amazonas que gerou expressivos literatos, entre eles, Inglês de Souza e José Veríssimo, estes, assim como Monteiro, em outra quadra temporal, possuem repercussão para além das fronteiras nacionais.
No diversificado
rosário de relações dos vários Benedictos, há registro de diálogos com os intelectuais da
Amazônia, onde encontramos nomes como Benedito Nunes, Lúcio Flávio Pinto, Rui
Paranitinga Barata, Vicente Cecim, Samuel Benchimol, Artur Cézar Ferreira Reis,
Max Martins, Márcio Souza (Editora Marco Zero), entre outros. Bem como, trocou correspondências com Nélida
Piñon, prosa com Jorge Amado e Darci Ribeiro. No campo político, além de
Marighela, tem-se o presidente deposto pela ditadura civil-militar, João
Goulart.
Sobre a repercussão dos escritos de Benedicto mundo afora, o site da UFPA alumeia que, na Europa, suas obras despertam interesse em países como Portugal, Holanda, Itália e Alemanha, onde foram traduzidas e geradoras de inúmeros trabalhos acadêmicos. Na Alemanha sobressai a investigação do pesquisador Klaus Meyer Koeken, intitulada "Die Illusion Von oraitãt im brasilianischen Roman": "Zur Simulation realer Sprechsituationen in drei ‘mündich erzählten Lebensgeschichten ".
Já nos Estados Unidos, destaca-se o trabalho do professor Macolm Silverman da San Diego State University – Califórnia, que em livro traduzido para o português intitulado "Protesto e o novo romance brasileiro". Benedito Nunes, professor e ensaísta paraense de reconhecimento nacional, sobre Verde Vagomundo, em texto datado de 1973, adverte: “[...] um romance que, rompendo com as limitações do regionalismo, integre, numa narrativa universalmente representativa, o mais característico e o mais peculiar tanto ao meio físico quanto ao meio cultural quanto do estado das relações humanas, inclusive sociais e políticas, duma região quase sempre desgastada pela má literatura.”
Em breve a revista Moara/UFPA apresentará um dossiê sobre a obra de Monteiro.
Abaixo fala de Wanda Monteiro por ocasião da exposição sobre a obra de Benedicto Monteiro, em Belém/PA.
Links de algumas obras sobre Benedicto Monteiro
Tese - Territorialidades de enunciações: as Amazônias na tetralogia Amazônica, de Benedicto Monteiro. Airton Souza /UFPA. Leia AQUI
Dissertação A REPRESENTAÇÃO ALEGÓRICA DA DITADURA MILITAR EM O MINOSSAURO, DE BENEDICTO MONTEIRO: FRAGMENTAÇÃO E MONTAGEM, Maria de Fátima Nascimento. Leia AQUI
Dissertação Educação e memória na Amazônia a partir do olhar de Miguel dos Santos Prazeres, de Benedicto Monteiro, CRISTINA DIAS NOGUEIRA. Leia AQUI
Artigo -Memória e modernidade em Benedicto Monteiro e Milton Hatoum, Tânia M. Pantoja. Leia AQUI








