A obra recupera 45 anos de violação de direitos humanos na luta pela terra e pelo território no Pará, considerado o estado mais letal do País
Antônia Ferreira dos Santos e Marly Viana Barroso quebradeiras de coco babaçu no município de Novo Repartimento, no sudeste paraense, foram brutalmente assassinadas no dia 03 de novembro. No dia 07, às vésperas da abertura oficial da COP 30, o lavrador Sebastião Orivaldo da Fonseca Lopes foi executado no município de Ipixuna do Pará. O agricultor do projeto de assentamento Campo de Boi vinha sendo ameaçado de morte.
As jornadas desenvolvimentistas
impostas para a Amazônia engendraram e naturalizaram as violências como um
componente inerente ao processo de expansão do capital sobre a fronteira
amazônica. Nesta geografia de expropriações, mortes, chacinas e trabalho escravo,
o estado do Pará possui destaque.
O número de pessoas na mira na
bala é incerto. Todavia, somente do Projeto Agroextrativista Lago Grande, na
cidade de Santarém, conta-se 20 pessoas, adverte o Sindicato dos Trabalhadores
e Trabalhadoras Rurais (STTR) do município. Na lista, constam os nomes da
presidente e do vice do STTR, Ivete Bastos e Edilson Figueira, respectivamente.
É justo sobre este drama que a
obra Assassinatos e impunidade no campo no Pará: 1980-2024 lança luzes.
O livro é assinado pelo advogado José Batista Afonso e o historiador e
professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA), campus de Marabá, Airton
dos Reis Pereira.
O livro tem a colaboração de
especialistas e representações dos movimentos sociais ligados à luta pela terra,
a exemplo do padre e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro), Ricardo Rezende, do professor da UFPA, Girolamo Treccani, de Luzia
Canuto, do Comitê Rio Maria e de Ayala Ferreira (MST/PA).
O lançamento da obra que registra
45 anos de violência no
campo ocorre no dia 20, a partir das 10h, na Casa COP do Povo, na Travessa da
Piedade, nº 426, Reduto/Centro, em Belém. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e
o Instituo Zé Cláudio e Maria (IZM) são os responsáveis pelo evento.
Sobre o livro – resultado
da vivência e registros da CPT, os quais constam nos arquivos em
Belém, Xinguara, Marabá e Goiânia.
Em suas 800 páginas a obra recupera a morte de anônimos, chacinas e massacres
no Pará ao longo de 45 anos. Ao todo, o livro trata de 1.003 assassinatos. O
ponto de partida dos casos
relatados deu-se com a execução do dirigente sindical e agente da CPT,
Raimundo Ferreira Lima, conhecido como “Gringo”, ocorrido no ano de 1980.
Quatro capítulos conferem corpo à
obra, que saiu pela editora Dialética/SP. O primeiro trata de casos de
camponeses, indígenas e garimpeiros. O segundo trata dos casos das lideranças
assassinadas. Enquanto o terceiro aborda chacinas e massacres, o derradeiro
sublinha execução de peões mortos em
conflitos trabalhistas e em condições análogas à escravidão.
Sobre o mesmo tema, os autores e movimentos sociais do
Pará lançaram em 2022, o Luta pela terra na Amazônia: mortos na luta pela
terra! Vivos na luta pela terra!, igualmente volumoso.
Sobre os autores
Airton Pereira e José Batista são
migrantes que aportaram pelas barrancas do Araguaia em Conceição do Araguaia no
século passado. Foram forjados como pessoas e como profissionais sobre os
auspícios da parcela progressista da Igreja Católica. Nestas lonjuras, o advogado de posseiros e de
sem-terra, frei Henri des Roziers serviu de farol. O francês foi um
destacado defensor de direitos humanos no Pará.
Pereira, natural do estado de
Goiás, chegou a fazer parte do quadro da Comissão da Terra nas dioceses de Conceição Araguaia e
Marabá. Em seguida tornou-se professor da UEPA. Suas pesquisas retratam
as disputas pela terra no sul e sudeste do Pará. Regiões consideradas as mais
letais do país. O professor é autor de inúmeros artigos e livros sobre o
assunto. A tese de doutoramento de Pereira, apresentada na Universidade Federal
de Pernambuco, foi finalista do Prêmio Nacional da CAPES.
José Batista Afonso é advogado da
CPT em Marabá. Já fez parte da direção da instituição. Possui mestrado em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia pela Unifesspa
(Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará). Milita na região há mais de 30 anos. Entre os
inúmeros processos em que
participou, consta o conturbado processo do Massacre de Eldorado do
Carajás, que ano que vem soma 30 anos.
Serviço:
Assassinatos e impunidade no campo do Pará: 1980-2024
Editora Dialética
800 páginas
Preço: 169,90






