Três fases marcam a vida do Bandeira 3. A primeira entre os anos de 1971/1972, como encarte do jornal Província do Pará. A segunda como independente, que corresponde ao ano de 1975, e uma tentativa de relançamento em 1991.
Amarrada por barbantes, impregnada por poeira, jogada em uma
estante dedicada ao Pará, desprovida do cuidado que merece, na biblioteca
Arthur Vianna, vinculada ao Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves (Centur),
na Av. Conselheiro Furtado, assim a hoje jornalista Camila Barros encontrou a
coleção completa da segunda fase do jornal Bandeira 3, na cidade de Belém, no
ano de 2011.
Barros na época era estudante de jornalismo na Unama, no imponente
prédio em Ananindeua. Antes da universidade ser repassada a um
grupo, que a transformou em um arremedo de instituição de ensino, onde impera a
precariedade.
O jornal era editado pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto na década
de 1970. Em sua primeira fase foi encartado no falecido jornal a Província do
Pará (1971-1972), e em seguida de forma independente no ano de 1975 teve sete
edições. Consta ainda uma edição única no ano de 1991, numa tentativa de retomar
o semanário.
Barros acessou a coleção da segunda fase do jornal, a considerada independente.
Sobre ela se debruçou para a produção de um Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC), que teve como membro da banca examinadora o professor e experimentado
jornalista Antônio Carlos Pimentel. Maria Barbalho assina o TCC ao lado de Camila.
Todavia, foi Barros quem mais empenhou
esforços em viabilizar o trabalho.
Há caldo para a produção de mais interpretações em diferentes
campos do conhecimento sobre o Bandeira 3, citado numa obra considerada referência
sobre a comunicação alternativa do Brasil, assinada por Bernardo Kucinski.
Em formato tablóide, com edições semanais, os números tinham vinte
e quatro páginas, tiragem de dois mil exemplares e contava com uma diagramação
moderna, na época em que a impressão em offset ainda era uma novidade no país.
A caricatura do político Gerson Perez ilustra a capa de nº03, que contempla ainda debate sobre a questão indígena,
Grandes projetos de desenvolvimento, questão indígenas, violência
policial, a cena política do estado, a reorganização do espaço urbano de Belém,
bem como aspectos culturais da capital compunham a pauta.
Sublinho aqui a edição de número de 2, onde o boletim entrevista o
militante e escritor de verve comunista Benedicto Monteiro, que naquela época
lançava Verde Vagomundo (1972), que faz parte de uma tetralogia que inclui
ainda O Minossauro (1975), A Terceira Margem (1983) e Aquele Um (1985). Uma referência
sobre a vida na Amazônia.
Em 1975 a ditadura civil militar galopava a plenos pulmões. Sequestro,
prisões, torturas e assassinatos tomavam o país de Norte a Sul. A integração
subordinada da Amazônia tinha nos polos de produção uma das suas colunas, além
da construção de rodovias, que remodelaria as feições física, política, social
e econômica da região. Enquanto nos beirais do Araguaia, jovens do PC do B empenhavam
esforços em barricadas de uma guerrilha sob a inspiração de Mao.
A trupe do Jornal
As editorias eram divididas por temáticas: “Nacional/Internacional”
cabiam a Guilherme Augusto; “Amazônia” a Raymundo Costa; “Cidade” a Raimundo
José Pinto (irmão mais velho de Lúcio); “Especial” a Walter Rodrigues e “Artes/
Espetáculos” a Regina Alves. Ademir Silva era o repórter fotográfico do. Na
diagramação, o B3 contava com a colaboração de Antonio Carlos Guimarães. A
ilustração era de Luis Antonio Pinto.
Arquivo sobre o Bandeira 3
Ao chafurdar em caixas com materiais que carrego ao longo de várias
mudanças de cidades e casas que já protagonizei,
deparei-me com a versão impressa do TCC de Camila, bem como com um caderno de
uma cópia em xerox da coleção do Bandeira 3.
Ao comentar o assunto com o Elias Pinto, colunista do Diário do Pará,
irmão caçula de Lúcio Flávio e parte da história do jornal, decidi escanear o
material e disponibilizá-lo a quem interessar possa.
Por fim, na algibeira da memória recordo que Camila havia manifestado
um certo descontentamento pelo fato em não ter alcançado a nota máxima na avaliação
da defesa do trabalho. A consolei
argumentando que ao menos um artigo a gente conseguiria publicar.
A seguir disponibilizo o artigo assinado por Camila Barros e por mim,
o TCC e a coleção do Bandeira 3. Informo que a digitalização foi realizada em
uma impressora doméstica a partir de uma matriz de xerox. O que pode comprometer
a leitura do conteúdo.
Acesso aqui o artigo
Acesse aqui o TCC
Acesse aqui a coleção do Bandeira 3
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