*Em solidariedade aos funcionários
do Ibama atacados em Rondônia !
Em
solo pátrio, a violência constitui-se como um elemento estruturante na história
sobre a disputa pela terra e pelos recursos nela existentes. Antagonismo
marcado pela a assimetria de forças econômicas e
políticas num extenso repertório de
massacres desde tempos imemoriais, com predomínio do interesse privado, em
detrimento do público.
Ao se enquadrar a Amazônia, a violência imprimiu marcas profundas
na história da “conquista” da fronteira. Saque marcado por execuções de índios
e camponeses, ainda no século XXI. Tais episódios se intensificaram a partir da
década de 1960 e ganharam índices alarmantes registrados nos anos da década de
1980.
Anos em que o braço armado dos ruralistas se aglomerou a partir da
União Democrática Ruralista (UDR), e disparou um cipoal de chacinas em terras
do Bico do Papagaio [sul do Pará, oeste do Maranhão e norte do Goiás,-atual
estado do Tocantins], em particular.
Posseiros/as, padres e freiras, advogados foram executados, presos
e torturados. Tombaram, entre tantos: Expedito Ribeiro, parte da família
Canuto, Gringo, os advogados Paulo Fonteles, Gabriel Pimenta, João Batista e o
padre Josimo.
Antes de findar o século XX os massacres de Corumbiara, ocorrido
em Rondônia e o de Eldorado dos Carajás, ocorrido no estado do Pará instigaram
os centros econômicos e políticos considerados mais desenvolvidos sobre a
situação da disputa pelas terras da floresta amazônica.
Na maioria dos casos, a impunidade serve como regra, e incentivo à
manutenção da prática. E, assim, em 2005, foi executada Dorothy Stang, em Anapu,
no estado do Pará. José Cláudio e Maria Aparecida no projeto de assentamento agroextrativista
Praialta Piranheira, na cidade de Nova Ipixuna, também em solo paraense, num
maio de 2011.
Já no século XXI, há pouco mais de um ano, no município de Pau
D´arco, também no Pará, a PM executou 12 sem terra. Todos os envolvidos estão
soltos. Tais eventos de extrema brutalidade são banalizados, considerados como integrantes
da lógica do avanço dos tentáculos da lógica do capital sobre o “mundo
distante”.
Tudo
pode ficar pior?
A se consagrar a
vitória do militar Bolsonaro, tudo pode ficar bem mais grave. A indiferença às
instituições, o ódio a negros, mulheres e ao setor LGBT, representações
políticas do campo popular, a exemplo do MST, a propagação de um discurso sob a
transpiração do ódio e belicista orientam a marcha rumo ao obscurantismo do
candidato à presidência da República do PSL. Cada silaba e ato do militar,
familiares e seguidores, fere de morte a frágil democracia nacional.
Neste cenário de
incertezas, no dia 20, na cidade de Buritis, no estado de Rondônia, na
Amazônia, um dos seguidores do presidencial Bolsonaro ateou fogo a três
viaturas do Ibama que estavam estacionadas na porta de um hotel, e cumpririam
ações de fiscalização contra o desmatamento ilegal.
O militar tem uma
refrega com a instituição por conta de ter sido multado em dez mil reais, ao
pescar numa área onde a prática é proibida, em Angra dos Reis, no Rio de
Janeiro.
Ele nunca pagou a
multa, e ainda apresentou projeto para desarmar os agentes públicos, que
rotineiramente sofrem ameaças de fazendeiros e de outros setores por fiscalizarem
crimes de desmatamento, biopirataria e tráfico de animais na região.
Sob a mesma atmosfera de
insegurança operam os técnicos do Ministério do Trabalho, ao trabalharem contra
a prática do trabalho escravo. Ao menos, quando ainda recurso existia para
atividade de campo. Incra, Icmbio, Ibama, MPT e Funai padecem de profundos
cortes em seus orçamentos no governo Temer, PMDB.
O fato ocorrido em Burutis
não é um caso isolado. O processo de integração subordinada da Amazônia tem a
grife da violência nas mais variadas vertentes e matizes. Para não chegar até o
Tratado de Tordesilhas, lembro a ação terrorista cometida contra agentes do
Ibama em 2008, por ocasião da operação Rastro Negro, na cidade de Paragominas
no estado do Pará.
A operação visava fiscalizar carvoarias e a
exploração madeireira ilegal nas terras do povo Tembé. O saldo foi a sede do
instituto em Paragominas incendiada, o hotel onde estavam hospedados os agentes
depredado, quatro carros queimados e 14 caminhões com de 400 metros cúbicos madeira
roubados.
Outros atos de ataque a
funcionários públicos em várias regiões do estado paraense, como registrado nas
cidades de Trairão, Altamira e Santarém. Não tem havido grande distensão sobre
os saques contra a região. Mas tudo pode ficar mais grave com uma agenda ultraconservadora.
No pacote de horrores
consta: i) uma política orientada a partir do desenvolvimentismo com base em
grandes obras de infraestrutura, que busca dinamizar o acesso a recursos
naturais e viabilize corredores de exportação de mercadorias [eixos de
integração], ii) flexibilização das leis
para possibilitar acesso a territórios tradicionais de indígenas e quilombolas
por empresas do grande capital, iii) criminalização dos movimentos sociais, iv)
desmonte de instituições públicas e privatizações, entre outras agendas.
Mais do que nunca, urge
a necessidade de organização e mobilização dos setores do campo democrático e
popular. Invocar o espirito e a sabença dos povos das (a) Amazônia (s) para
cerrar fileiras em defesa de todxs. Como dizia o posseiro na peleja da luta
pela terra na década de 1980, “Quem morre calado é sapo debaixo de boi!”.
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