Capoeira é coisa de preto, negro,
pobre. É forma de resistência, comunicação para engabelar patrão. É dança e
luta. Quilombolas rurais e urbanos abriram hoje a cerimônia que iniciou o
Encontro da Mídia Cidadã, que ocorre no Centro de Convenções Benedito Nunes, no
campus da Universidade Federal do Pará (UFPA). Nunes é um intelectual de
estatura nacional, que lecionou na UFPA e faleceu este ano.
O campus da UFPA é cravado no bairro
do Guamá, periferia de Belém. O bairro é homônimo do rio que circunda o espaço
universitário. Os jovens capoeiras eram provenientes do vizinho bairro da Terra
Firme e um quilombo rural. Guamá e Terra
Firme são sinônimos de violência na crônica policial. A mídia silencia sobre as manifestações
culturais que lá pulsam.
Negros e índios e outras
representações locais sempre foram tratadas em relatos de viajantes, jornalistas
e naturalistas como encarnações do atraso, ente obtuso e desprovido de cultura,
incapaz de administrar as riquezas locais e o próprio destino. Assim o
colonizador se legitima. Ergue as suas representações de verdade, belo,
desenvolvimento à sua imagem e semelhança. Assim têm sido regidas as realidades
da (s) Amazônia (s).
A partir de tal horizonte a
região amazônica se mantém em sua condição de subúrbio da nação, almoxarifado
do país e das regiões das economias centrais. O conhecimento não precede a
definição de planos de desenvolvimento. O saque se sucede faz séculos.
O futuro e destino da Amazônia
não são definidos aqui. Nunca foi. Lúcio Flávio Pinto, que edita há 24 anos o quinzenário
tabloide Jornal Pessoal (JP), assina a sentença. O sociólogo uspiano é a maior
autoridade jornalística sobre a região. O
interesse público e os fatos regem a dinâmica do JP, que costuma ser citado em
jornais da mídia grandalhona em países como Estados Unidos, Inglaterra e
Portugal, entre outros. E apesar de ser
fonte de pesquisa, muitas das vezes não é citado.
Lúcio é provocador. Alfineta
intelectuais, representantes das mais diversas formas de poder. Independente da
estampa política. Sobre o prefeito de Belém e hoje deputado estadual pelo Psol
(ex PT), Edmilson Rodrigues, dispara que o mesmo carnavalizou um dos episódios
mais relevantes da história local e nacional, a Cabanagem, ao batizar uma arena
de carnaval como Aldeia Cabana. Já sobre governador tucano Simão Jatene o taxa
de infantil e imaturo ao reduzir a pauta história e política da divisão do
estado ao viés do marketing, como se fosse uma disputa de futebol. Sobre os intelectuais acadêmicos, instiga que os
mesmos preferem a zona de conformo dos gabinetes aos debates públicos, a praça,
as ruas.
O jornalista leva o interesse
público às últimas consequências. Coleciona processos por denunciar grilagens
de terras, desvio de recurso público e abuso de poder das mais diferentes
esferas. E já foi espancando por um dos caciques das Organizações Rômulo Maiorana
(ORM), repetidora da Globo.
Apesar
disso, não renuncia ao debate, ao contraditório, como sempre sublinha em suas
produções. Enquanto Lúcio compartilhava as informações e cultura que possui, um
sobrinho era cremado no mesmo horário. O jovem de 30 anos filho era filho do
irmão que o ajuda na produção JP. O sobrinho
que padecia de esquizofrenia foi morto no campus onde o jornalista palestrava
desde a manhã.
O jornalista salientou o fato na
abertura da sua fala. E ressaltou a barbárie que a capital do Pará vem se tornando.
Muito por conta do hiato social que conforma a cidade quase ilha. Sobre os
grandes projetos que foram, e continuam sendo implantados na região, os trata
como cavalos de Tróia. E provoca que o problema é que a gente não quer entrar
na barriga do cavalo. E buscar conhecer e mudar o rumo da história.
Sobre Carajás provocou que a
maioria da população não conhece e nem faz idéia do gigantismo de Carajás,
tanto em termos de recursos como de destruição. O cálculo estimado da riqueza
mineral da serra quando da inauguração do projeto era que o mesmo iria durar
400 anos. Passadas mais de três décadas, o calculo indica somente uns 90 anos.
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