quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pesquisadores refeltem sobre mídia e meio ambiente na Alaic- UFPA


O tema meio ambiente é pauta nos mais diversos setores: mídia, grande corporação, pequenos produtores, Estado, pesquisadores, universidades, ONG´s e publicidade, apenas para citar alguns. E associar o assunto à marca Amazônia maior será a relevância.  

Um desdobramento do contexto tem sido o nascimento de algumas categorias, tais como: sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, responsabilidade social e povos da floresta. Soma-se a isso a criação em alguns jornais de editoriais específicas, sem falar na pororoca de  sites e mídias sociais que gravita em torno do tema.

Não fosse algo que pudesse de alguma forma ser capitalizado, a maior rede de TV do país não criaria portais dedicados ao assunto, e nem programas nos mais diversos veículos que controla.  

Na manhã de hoje no Centro de Convenções Benedito Nunes, na UFPA, uma mesa formada pelos professores Antonio Almeida do Laboratório de Mídia e Meio Ambiente, da Universidade de São Paulo (USP), Isaltina Maria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Luciana Miranda, da Universidade Federal do Pará (UFPA) engrossaram o caldo do debate no encontro da Associação Latinoamericana de Investigadores em Comunicação (Alaic).

O professor Almeida sublinha que o tema na mídia tem sido tratado de maneira sensacionalista ou então espetacular, onde a informação mais relevante, a de interesse público acaba sendo suprimida da cobertura, manipulada e distorcida. Neste ambiente marcado pela espetacularização, importa mais a imagem sobre meio ambiente numa perspectiva de negócio, alfineta o investigador.

O pesquisador dá relevo ainda aos constrangimentos que o mercado acaba impondo às matérias sobre o tema. Com um caldo de mais de 15 anos de pesquisa, Almeida dispara que as mídias sinalizam soluções simplistas para temáticas que são complexas.

Ao analisar uma reportagem do Jornal Nacional sobre a construção de hidrelétricas na Amazônia, o educador pontua itens de manipulação e omissões de dados sobre o assunto. Na reportagem pró empreendedores de barragens, analisa Almeida, são omitidas informações  que o rio Madeira, em Rondônia é tributário de mais de setecentas espécies de peixes. As informações sobre a complexidade que envolve a perspectiva de tais projetos na Amazônia, que tipos de interesses mobiliza não são contempladas.

O viés econômico é que tem orientado a cobertura sobre meio ambiente em Pernambuco, esclarece a professora Isaltina Maria, que investiga a cobertura da mídia daquele estado sobre um complexo que envolve um porto e uma refinaria, Suape, que existe há 30 anos, e vem sendo incrementado.  

Quando observamos as matérias, as narrativas contemplam o horizonte do desenvolvimentismo. Os passivos sociais e ambientais que essa modalidade de projeto socializa onde ele é instalado não são registrados. Sabe-se que ocorre o aumento da prostituição, e as vezes até infantil. Somente recentemente alguns blogs têm notificado tal situação. Sendo alguns ligados a grandes jornais, pontua a pesquisadora da UFPE.

A agenda negativa costuma ser privilegiada na pauta da grande mídia sobre a Amazônia. Sublinhe-se a má qualidade das reportagens sobre a região da maior relevância para o futuro de inúmeras gerações. A professora Luciana Miranda analisou matérias sobre desmatamento e queimada na região ao longo de 30 anos nos principais meios de comunicação do país e local, a partir de 1975.

A análise de discurso verificou que na primeira fase o texto era mais elaborado, contextualizava a problemática e tinha um cunho literário, além de ser longo.  Naquele momento do estado de exceção,1975, a responsabilidade do processo de desmatamento e de queimadas era creditada ao Estado e as políticas que o mesmo elencou para a região. A agenda negativa com imagens de parques e reservas queimando ou sendo desmatadas ajudou a cimentar uma imagem negativa do país no exterior.

Já na década de 1980, quando o processo de redemocratização ganha o país, o número de matérias aumenta, mas perde em qualidade e em tamanho. Além dos madeireiros, os pequenos agricultores passam a ser responsabilizados pela destruição da floresta, relata Miranda.

Para a pesquisadora as reportagens carregam num certo alarmismo sobre o tema. Depoimentos e relatos das populações consideradas tradicionais não encontrados nas matérias. Outro elemento sublinhado por Miranda ao analisar o momento mais atual é situação dicotômica em que as populações indígenas são recortadas: ora como “demônios”, ora como “santos”.  

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