quinta-feira, 5 de março de 2009

Grandes projetos na Amazônia: Pe Sena apresenta passivos sociais e ambientais da soja no Pará em seminários na Inglaterra


Pe. Edilberto Sena, coordenador da Rádio Rural de Santarém esteve na Inglaterra entre os dias 26 de fevereiro a 03 de março nas cidades de Londres e Oxford, onde participou de seminários diálogos e conferências sobre os grandes projetos na Amazônia, em particular a monocultura da soja no oeste do Pará, protagonizada pela empresa estadunidense Cargil.

Os europeus, segundo Sena, estão sensibilizados em conhecer como é que o governo brasileiro permite o desmatamento na Amazônia e que formas de solidariedade os ambientalistas de lá podem construir.

Abaixo segue email do religioso militante no oeste do Pará, que se encontra entre os ameaçados de morte no estado pela defesa do meio ambiente e dos direitos humanos.

Rogério, olá.
A viagem de dez dias na Inglaterra foi motivada por um convite de um grupo de organizações que se preocupa com a questão dos alimentos industrializados na Inglaterra e sua origem. Dois anos atrás uma jornalista do The Guardian, Sra. Felicity Lawrence esteve em Santarém pesquisando sobre os impactos da soja na região e seu destino na Europa.

Procurou-me para uma entrevista, que foi posteriormente publicada em seu livro. Um ativista de defesa dos alimentos sadios leu o livro e solicitou dela meu endereço, dizendo que gostaria de me convidar para um ciclo de palestras para grupos interessados. Assim.fiquei três dias em Londres e cinco em Oxford.

Os dias foram bastante ativos e proveitosos. Ainda há ingleses sensíveis às questões ambientais, especialmente quando percebem as mudanças climáticas atingindo seu país. Juntaram-se para custear minha viagem um padre anglicano e a ONG Amigos da Terra. .

O padre, no último dia me disse: Edilberto, a gente lê informações sobre o que ocorre na Amazônia, há muita coisa na Internet, nos jornais. Mas outra coisa é a gente escutar alguém nativo de lá, que tem informações, dados e sua própria visão de lá. Suas entrevistas, debates e conferências causaram impacto em nossos grupos.

Na Inglaterra tentei enfrentar as questões de modo objetivo, mas indignado e provocador. Por exemplo, procede que a Amazônia está alimentando a Europa.

Só a Cargill exportou, entre 2003 e 2006 cerca de dois milhões de toneladas de grãos de soja para Inglaterra, Holanda, França e China. A Cargill instalou um porto ilegal bem em frente da cidade de Santarém, prometendo desenvolvimento e empregos. Na realidade ela é a garantia para 130 sojeiros vindos do Mato Grosso e do Sul do país a plantarem essa planta exótica na Amazônia.

Mesmo dizendo a multinacional que apenas 5% de sua exportação de soja são provenientes da região de Santarém. Avalie 5% de 2 milhões de toneladas, isso significa 25.000 hectares de terras plantadas. Implica a expulsão da produção familiar (pela compra de lotes já antropisados e por isso alegavam que não destruíam a floresta) e depois a invasão e derrubada de floresta. Além disso, a introdução de agrotóxicos ampliou a destruição da região.

E que podem fazer os companheiros europeus? Primeiro uma atitude individual, evitando comer carne de gado, porcos e frangos. Depois pressionando seu governo para exigir mais coerência do governo brasileiro, que vai à Europa e diz que está cuidando da Amazônia, mas muda as regras do jogo da questão fundiária e legaliza a grilagem de terras, como é o caso da MP 458.

A questão do crédito de carbono não adianta. Os governos europeus doaram milhões para cuidar da Amazônia, mas deixar nas mãos do Ministro do Meio Ambiente ou da Ministra Dilma é uma situação delicada,
Essa conversa fiada de plantar um bilhões de árvores para reflorestamento da Amazônia em 5 anos do governo a gente não acredita. Isso é nos tratar como débeis mentais. Onde eles vão localizar um bilhão de sementes variadas para recuperar a floresta violada? A não ser que eles queiram plantar 1 milhão de pés de eucaliptos para celulose.

Então, eles devem pressionar seu governo a ser mais exigente com esses contratos do carbono com o governo brasileiro. Além disso, expliquei que bem podem apoiar nossa luta em defesa da Amazônia, apoiando nossa Rádio Rural de Santarém´, que uma de nossas armas de educação ambiental, denúncias dos crimes e criminosos da Amazônia.

Avalio que a aceitação do diálogo foi boa. Há uma expectativa de retorno daqui a um ano. Em maio devo ir à Itália para uma série de palestras para jovens nas escolas de Trento. Enquanto isso, um grupo local continua com uma campanha de sensibilização da sociedade sobre a gravidade dos impactos das hidroelétricas no rio Tapajós.

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