quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Ufopa realiza webnário sobre ataque à educação indígena



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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Paraíso

Não combina a dor com o meu carnaval, ainda que a estrada que leve ao Paraíso seja repleta de armadilhas, percalços e desprovida de asfalto.  É de barro o chão do Eden. Amarelo. Amarelinho, tal as águas do Amazonas.

Águas de chuva, águas de esgoto correm por entre as suas voçorocas da inquietude. Em gesto de teimosia, apesar das imundícies, germinam flores de Amsterdam em alegria. A alegria é um ato de amor, por mais obscuro soe o horizonte.

Noite alta. Corações ao léu, sob o sereno o Homem da Meia Noite e a Mulher do Meio Dia a caçarem o canto para um remanso. Um chamego. Um dengo. A ternura vence o cansaço. Amar é ponte. É potente. O choro da cuíca convida ao baile. Aquece o peito. Gostoso como uma comida quente.

Comida quente é que tem mais sabor. O sabor das bocas em festa não se taxa. Não tem preço. Vale o apreço. É ginga, é malícia, pés descalços. É tesão, é cerveja, é beijo, é calor. Coração aquecido.  Panos quentes cura qualquer dor.

A boca na boca. A boca na nuca. A boca na mama. A boca em todo canto entope o coração de festa. A boca cheia de fome devora o sexo. Dança em rejubilo sobre as cinzas da quarta feira. E, logo cedo, ao invés de café, sorve uma breja ao som de um samba de Dona Ivone. Mas, poderia ser Cartola. 

A madrugada anuncia o nascer do dia. Felinos em telhado de zinco quente a danar em carícias. Naquele momento, nenhuma guerra ali prospera. Importa quase nada a porta do hotel lacrada por lotação, e a outra por negligência. Urge o carinho. Madrugada adentro tonteiam os felinos de rua em busca de abrigo. Chove lá fora.

Todos foram expulsos do Paraíso. É imposto ganhar os dias com o fruto do suor. No Paraíso o amor e o sexo são punidos com o trabalho. O trabalho é castigo. Os felinos conspiram em favor da preguiça. Chamegos e delícias em estandarte mais elevado anuncia o bloco dos irrecuperáveis de afeto.

A madrugada assanha o corpo vencido de amor. Um toque. Um cheiro. O bloco na rua. Ela esguia. Toda nua. Dança. Esquiva-se das nuvens cinzas. Cheiro de sapoti. Carne de caju. Ri, chora, beija, goza. Estrebucha de prazer. Cachaça a lanhar a goela. Pimenta espremida no prato. Égua no cio.

É um querer bem a vida. Em variadas arenas o riso segue a combater o tédio dos dias.

Alvorada, na encruza é uma beleza. Não há tristeza! O sol a tudo colore: pandeiros, terreiros, ancas, risos, folhas, frutos, plantas, ebós, ratos, cães e gatos. 



Fazenda Mutamba: em meio à COP, juiz ordena reintegração de posse em favor de grileiro após execuções de camponeses

Três meses após execução de camponeses pela PM, juiz ordena medida de reintegração de posse em favor de grileiro

Três meses se passaram da chacina na Mutamba promovida pela Polícia Civil do Estado, sob o comando do ex-delegado da Delegacia Especial de Conflitos Agrários (DECA), Antônio Mororó, que de forma covarde, em uma madrugada, dispararam rajadas de tiros contra camponeses pobres sem terra, que dormiam em um barraco, resultando no assassinato de dois trabalhadores, na prisão ilegal de quatro deles e vários outros feridos. Trabalhadores que haviam chegado há poucos dias no local, na esperança de receberem um lote de terra, para morarem e produzirem alimentos.

Mesmo diante de lutas jurídicas travadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), com apoio de organizações de defesa dos direitos humanos, ainda não foi possível processar e punir os policiais responsáveis pelos crimes. O delegado Mororó foi afastado da função de sua função, porém foi promovido a chefe da seccional urbana de Polícia Civil de Marabá, o que gera uma insegurança por parte das famílias que continuaram na área e daquelas que aos poucos estão retomando sua rotina.

Mesmo com as dificuldades nos acessos a área, causadas pelo polícia, com o propósito de prejudicar a locomoção das famílias na área, ou seja, o seu direito de ir e vir, ainda mais agora durante esse período, de chuvas frequentes, o que tem piorado as condições das estradas, muitas famílias já retornaram e estão desenvolvendo suas atividades produtivas, com plantio de culturas temporárias e criação de pequenos, médios e grandes animais, aguardando que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) faça a aquisição da área para fins de reforma agrária.

Tivemos a informação de que a direção do INCRA, em nível nacional, e da Superintendência do Sul e Sudeste do Pará, já demonstraram interesse em resolver o impasse em favor das famílias, que desde o ano de 2005 vêm lutando contra pistoleiros e policiais do Estado para garantirem a permanência na área.

Os advogados de defesa das famílias se manifestaram junto ao Tribunal de Justiça do Pará no sentido de solicitando a suspensão da sentença de reintegração de posse em favor do grileiro, mas o tribunal ainda não se manifestou. Diante da situação, o juiz da Vara Agrária de Marabá, Amarildo Mazute, conhecido como o pai dos latifundiários, mais que depressa, deferiu um pedido feito pelos advogados do grileiro, Aziz Mutran, de CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA, que permite o pedido de reintegração de posse mesmo antes de serem julgados os recursos da apelação.

Ainda mais grave, é a covardia da parte da “justiça”, porque as famílias foram intimadas a desocuparem voluntariamente a área e, caso não façam, o juiz deve marcar uma audiência para determinar a data para a desocupação forçada. Com isto, mais uma chacina, de proporção maior, poderá ocorrer sob o comando do juiz, porque as famílias não estão dispostas a abandonarem suas posses

Diante de mais uma iminente chacina, convocamos todas entidades de apoio a luta pela terra, bem como todos os movimentos de lutas para, de imediato, compormos uma frente em defesa das famílias da ocupação Mutamba, junto com o Comitê de Defesa da Luta Camponesa no Sul e Sudeste do Pará que se encontra em conformação.

Viva luta camponesa! Viva a luta das famílias da Mutamba! Marabá, 17 de janeiro de 2025.