quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Livro de crônicas sobre a Amazônia tem no trecho a sua inquietação central.

70 crônicas dão corpo à obra do professor da Ufopa, Rogerio Almeida, do curso de Gestão Pública



70 crônicas dão corpo ao livro Amazônia: crônicas sobre o trecho, bulinações e alguns afetos. Assinado pelo professor Rogerio Almeida, do curso de Gestão Pública,  da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), o projeto foi selecionado pelo edital da Lei Paulo Gustavo. 

Os lançamentos ocorrerão em Marabá e Santarém. Na primeira cidade o evento será na noite do dia 02 de março, no Bar da Ana, no bairro do Cabelo Seco, núcleo Velha Marabá, a partir das 19h. Já em Santarém, ocorre na noite do dia 07, no espaço cultural Quinta Sapucaia, localizado na Av. São Sebastião, nº 1233 (entre 7 de Setembro e Morais Sarmento), a partir das 19h.  O livro fará parte de evento coletivo denominado de Puxirum de Ideias, que contará com lançamentos de obras de professores/as  e técnicos/as da Ufopa.  

Peão de trecho, assim é tratada a polissêmica categoria fronteira pelas pessoas que se mobilizam em busca de trabalho em grandes obras na região. Bem como por riqueza “fácil” em garimpo, fuga de secas e outras privações ou algum tipo de oportunidade longe de seus locais de origem.  

No livro, os períodos curtos imperam. Urgentes, assim como a maioria dos parágrafos. Registros telegráficos, como se o escriba estivesse em fuga. Em suas errâncias (flanêur), Almeida manifesta o zelo pela arte da escuta e da observação. Andar só é uma preferência. Ele acredita que a opção favorece o deslocamento. Referências a feiras, botecos fuleiros e puteiros são recorrentes em sua escrevivência.   

 Entre coisas vividas, vivenciadas e inventadas, o “vadio”, tal uma tia velha fuxiqueira, tece, uma aquarela dos vencidos em lonjuras (fronteiras) marcadas pela gula do capital, que a tudo fagocita, até o sorriso da tapuia após o coito matinal.  O recado consta em um poema.  

Nas geografias das errâncias, as estações do ano na Amazônia emergem ao queixar-se do sol inclemente, ou ao retratar as agruras dos tempos de cheia. O trecho é a questão que o inquieta, bem como os personagens que conferem forma, moldura e possível poesia e alma à obra.  

No trecho, o filho chora, e a mãe não faz ideia dos aperreios. Garimpos, grandes obras de infraestrutura, empreendimentos agropecuários funcionam como uma espécie de imã de errantes.  Tais sujeitos migram em busca de dias menos doridos. As privações que a maioria experimenta é combustível de canções populares, muito bem sublinhadas em suas anotações. Zé Geraldo, Elino Julião, Adelino Nascimento, Raimundo Soldado, Bartô Galeno estão entre os cantadores citados.

O trecho é bruto, avalia o autor. Todavia, para além das agruras, como acredita uma filha de garimpeiros de Itaituba, a educadora Rose Bezerra, a quem a obra é dedicada, é possível encontrar laços de solidariedade e amizades que perduram ao longo do tempo. Rogerio crê que as andanças representam uma faculdade sem parede. Em conversa sobre a origem da cria, ele explica que após atividades laborais precárias, havia uma necessidade de fazer apontamentos sobre o que observara.  

Em escrita ligeira, o professor tece a trajetória de garimpeiros, donas de bar, bravas mulheres que o iluminam, a exemplo da genitora e o matriarcado em que foi criado.   

Em texto de orelha, Charles Trocate, filosofo e poeta, sobre a obra considera “este livro tem a totalidade de uma obra inigualável, seja pela experiência de escrever reportagens – a primeira experiência literária do autor e a sofisticada paciência de compor o enredo que a vida transborda aos que vivem mais da falta do que do excesso. Diria que este livro expõe uma espécie de filosofia do trecho ou manual do que é não viver vivendo. Do começo ao fim, de trás para frente, ou inverso, ou do meio para o início, é como se percorrêssemos os milímetros, sem cansar, uma jornada de desapego”.

O pdf do livro pode ser baixado AQUI

Projeto Luta pela terra na Amazônia lança livro do cordelista e dirigente sindical Ceará do Pará (Francisco Gomes) do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).

Lançamentos ocorreram em Marabá e Santarém em março




O livro A Destruição da Amazônia pela besta fera do capital e outros cordéis, do dirigente sindical e ambientalista Francisco Valter Pinheiro Gomes, o Ceará do Pará, será lançado no dia 01 de março no Hall Central do Prédio da Reitoria, Unidade/Campus 3, da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), em Marabá, no dia 01 de março, a partir das 9h. 

Já em Santarém, o evento ocorrerá na noite do dia 07, no espaço cultural Quintal Sapucaia, localizado na Av. São Sebastião, nº 1233 (entre 7 de Setembro e Morais Sarmento), a partir das 19h.  O livro fará parte de evento coletivo denominado de Puxirum de Ideias, que contará com lançamentos de obras de professores/as da Ufopa.  

Para a impressão da obra, o projeto contou com o apoio da Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço) e a Cafod, uma agência internacional de desenvolvimento ligada à Igreja Católica. 

O livro resulta do projeto de extensão da UFOPA, Luta pela terra na Amazônia, coordenador pelo Rogerio Almeida, do curso de Gestão Pública, e a contribuição das extensionistas Glenda Flávia Guimarães Cunha, Luana Vitória de Sousa Brito, Bianca Emanuelle Bezerra da Silva e Yasmin de Souza Corrêa.

 No percurso do projeto, as discentes  além de entrevista com o escritor,  realizaram a leitura de artigos e debates sobre a questão da terra na Amazônia , o que teve como produto dois artigos a partir dos livretos de cordel, onde as autoras relacionam as conjunturas realçadas nos livretos, os sujeitos envolvidos nos processos e as políticas públicas. 

Ambos os trabalhos foram selecionados para a apresentação no Encontro Nacional da Rede Alcar (Associação Brasileira de Pesquisadores da História da Mídia), ocorrido em Niterói, no mês de agosto de 2023. Todavia, o elevado preço das passagens aéreas, além de outros custos inviabilizaram a participação de um autor no evento.  Além dos artigos, Glenda Flávia realizou o trabalho de conclusão sobre a obra do cordelista, a ser apresentado em março.

Para a produção do livro, o projeto estabeleceu diálogo com o escritor, educadores da Faculdade de Educação do Campo da Unifesspa, em particular com o professor Haroldo de Souza, com o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá.   

Na jornada os professores e pesquisadores Airton Pereira (Uepa) e Fabíola Pinheiro doutorando da Unir (Universidade Federal Rondônia) colaboraram em debates sobre as disputas territoriais no sudeste paraense e sobre escrita científica.  O artista Rildo Brasil de Marabá assina a capa e outras ilustrações do livro, assim como Thulla Christina.

A obra reúne quatro livretos de cordel produzidos pelo escritor desde os anos iniciais da década de 2000. No conjunto da obra, Ceará registra as formas de r-existência dos seus iguais, a exemplo do cordel que recupera a ação direta dos camponeses no início da década de 2000.  Os grandes acampamentos de Marabá, como a ação ficou reconhecida, aglutinava perto de 20 mil pessoas na frente da sede do INCRA. O ato demonstra a enorme capacidade de organização do conjunto dos movimentos sociais ligados à luta pela terra, em plena conjuntura do avanço de políticas neoliberais.

As políticas públicas desenvolvimentistas impostas para a Amazônia também inquietam o cordelista. Nele, Ceará alumeia os sujeitos das pelejas das disputas pela terra, trata das violências, dos crimes contra os camponeses e camponesas e responsabiliza o Estado autoritário pelo avanço do capital sobre a fronteira.

Para além da pecuária, em outra obra, o migrante e sindicalista trata do poder da mineradora Vale, na região sudeste do estado, onde Ceará reside e r-existe.  Por conta da hipertrofia do poder da mineradora, ela é considerada uma empresa maior que o estado do Pará.  A mineradora expropria, proíbe acesso à terra, à floresta e ao rio. Vigia e processa os que ousam denunciar os seus abusos.

Ceará já foi cabra marcado para morrer, como conta em sua entrevista. Atualmente, é estudante do curso de Educação do Campo, da Universidade Unifesspa, Campus de Marabá. Segue a teimar contra os muros altos.

O presente livro encontra-se assim organizado: prefácio, apresentação, os dois artigos produzidos no projeto de extensão, uma entrevista com o autor e os respectivos cordéis. Como alerta o samba enredo da Mangueira de 2019, que exalta os sujeitos historicamente colocados em condições de subalternização: “É na luta que a gente se encontra!”.

Os cordéis de Ceará do Pará é uma lição, que a alerta a todos que a mão que lavra a terra, afronta as cercas do latifúndio e de terras griladas, também se indispõe com as palavras, antes, monopólio de poucos.

 Baixe o livro AQUI

Maiores Informações

Ceará do Pará – (94) 99155-7624

Rogerio Almeida – (93) 99228 1379

Haroldo de Souza – (94) 99145-7737

Glenda Flávia - 93 99653-8900