sábado, 29 de dezembro de 2012

São Luís em parcas linhas


Foto - J Seixas
 
A minha cidade fede. A minha cidade é suja. A minha cidade é foda. Parece viver em farra e fofoca. Farofa. E faz de conta que é séria.

Para o fim de ano o circo tá pronto. Para azeitar os 400 anos de enrabação, festa para todos os gostos: evangélico, pop, samba e por ai vai. Tudo importado.

O reggae antes marginal afronta espaços de bacana. O mangue cada vez mais é sufocado pela especulação imobiliária. A cidade se verticaliza. Tanto mar. Tanta merda a boiar. Bacanas em exibição em novo point da cidade: Lagoa da Jansen.  

Super motos em fileira. Dondocas em salto alto. Num cantinho casas simples resistem. Perdi as contas de quantas administrações empreenderam empréstimos para sanear o espaço. Ainda assim ele fede, tal os salões dos palácios; qual as tramas dos bastidores da políticagem.

Sobram tambores e regueiros. Falta água todo dia. É o drama da ilha. Num bairro chegou a faltar por quase um mês. A cidade é cinematográfica. Tanta luz. Tanta propaganda para atrair turista e não existe água no chuveiro da praia.

É recorrente a explicação que a falta da água diária é por conta da indústria de alumínio estadunidense, Alumar, que consome além da água, energia subsidiada. E a gente ainda paga por isso.

Oh minha cidade sitiada. Entupida de Ribamares, mas somente um usufrui as benesses do miserável lugar.  

A minha cidade fede. A minha cidade é suja. E ainda faz festa.

 

Prefeitura de Belém não garante a limpeza e a segurança no Mercado de Carne do Ver o Peso


O Mercado de Carne integra o complexo do Ver o Peso. Em dezembro a primeira reforma fez aniversário. A estrutura que integra a arquitetura de ferro de Belém faz parte do portfolio do engenheiro Francisco Bolonha. O estilo é considerado neoclássico.

Os açougueiros agora contam com câmaras frigorificas. Os produtos são comercializados com mais higiene. Antes a carne ficava sobre estruturas de madeira. Exposta a ação das moscas.

Ao contrário da praça de alimentação que fica em lado oposto, mais próximo da baía do Guajará, o Mercado de Carne é silencioso, e não transitam tantos pedintes ou comerciantes de produtos piratas.

O passeio é agradável, e recomendável para a família, que pode fazer um lanche ou mesmo refeição, e ainda adquirir artesanato.  

No entanto, comerciantes que trabalham no local reclamam que a prefeitura não tem garantido a limpeza.

Uma senhora que tem um box no local, reclama que a prefeitura não mantém nem guardas municipais nem equipe de limpeza.

Para a manutenção do local os comerciantes costumam cotizar e contratar pessoas.
Fotos - Rosa Rocha - 2012

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

NOTA DE PESAR E REPÚDIO AO ASSASSINATO DO DIRIGENTE DO MST MAMEDE GOMES DE OLIVEIRA

(Exigimos profunda investigação e punição dos envolvidos)
toda morte matada,
toda morte morrida,
se for vida doada,
não é morte,
é vida
(Dom Pedro Casaldáliga)
A lista de camponeses, padres, freiras, sindicalistas, defensores de direitos humanos, homens e mulheres, assassinados no Estado do Pará enquanto lutavam por uma revolução econômica, social, cultural, política e ambiental, é longa. No domingo, dia 23 de dezembro, aproximadamente às 16h, mais um mártir se juntou a esta abominável relação. MAMEDE GOMES DE OLIVEIRA, 58 anos, assentado do projeto de assentamento “Mártires de Abril” e antigo coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), foi assassinado com dois tiros no peito quando estava em seu lote.
 
Mamede era um dos principais incentivadores da discussão sobre agroecologia no MST. Estudioso do tema e atencioso com todos que lá chegavam para pedir orientação, implementava na prática tudo o que teorizava. Criou, junto com sua companheira Teófila da Silva Nunes, o Lote Agroecológico de Produção Orgânica (LAPO), onde mostrava que a experiência da agroecológia já é uma realidade.
 
O assassinato de Mamede continua sem resposta. No dia do crime o camponês acabava de retornar de uma área onde estava trabalhando, localizada nos fundos de seu lote, quando, alertado por seu cão, percebeu que um desconhecido estava se dirigindo para o local onde ele estava anteriormente. Ainda interpelou o estranho, que não deu muita atenção e continuou seguindo caminho. Mamede então resolveu averiguar o que estava ocorrendo, momento em que foi alvejado com dois tiros no peito, disparados a partir de um revolver calibre 38.
 
Denuncia anônima indicou que 03 homens chegaram a casa onde foi preso Luiz Henrique Pinheiro, um dos indiciados como autor do assassinato. Luiz Henrique até o momento se recusa a falar sobre o ocorrido, os nomes dos envolvidos ou suas motivações. Com ele foi encontrado o revolver calibre 38, com duas cápsulas deflagradas, roupas sujas de sangue e uma mala já pronta para viagem. Quando a polícia chegou ao local os outros 02 homens já haviam desaparecido.
Como não foi roubado absolutamente nada de Mamede, que estava inclusive com seu telefone celular, está descartado o crime de latrocínio.
 
As organizações e movimentos sociais que subscrevem esta nota exigem que os órgãos responsáveis apurem este assassinato detalhadamente, investigando e punindo exemplarmente todos os envolvidos.
Estaremos atentos e acompanhando cada passo deste processo para que este crime não fique impune, seja enquadrado como crime “banal” ou, muito menos, caia no esquecimento, como tantos outros.

MAMEDE VIVE, SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE!
Belém, 26 de dezembro de 2012

O educador Raimundo Gomes homenageia ativista do MST executado às vésperas do natal

Mamede de Oliveira foi assassinado no dia 23, na região metropolitana de Belém  
Raimundo Gomes da Cruz Neto

 
Hoje, às 10 horas, nos despedimos de mais um grande companheiro das nossas fileiras de lutas pela verdadeira reforma agrária e pela transformação da sociedade. Foi enterrado o corpo de Mamede Gomes de Oliveira, assassinado brutalmente na manhã do dia 23 de dezembro. O assassinato ocorreu no seu lote, a 200 metros de sua casa, no Projeto de Assentamento Mártires de Abril, município de Mosqueiro, Estado do Pará.

O assassino é casado com a filha de um também assentado, que não residia no Projeto de Assentamento, já foi identificado e preso mas, até o momento não revelou qual a sua motivação ou interesse para tirar a vida de Mamede, com o disparo de dois tiros fatais sem que a vitima pudesse se defender.

Para nós foi uma perda imensurável, por se tratar não apenas de um assentado, como deverá ser divulgado pela imprensa medíocre deste país, mas por tratar de um exemplar de homem que viveu para construção de uma humanidade, que ainda está por ser construída por todos (as) aqueles(as) que não se cansam e nem se entregam diante das barreiras impostas.

Mamede tinha 57 anos muito bem vividos como fazem todos (as) que desde cedo encaram o desafio de construir o próprio destino. Nasceu no Estado do Piauí, viveu sua juventude até adulto no Estado do Maranhão, no município de Pedreiras, no final da década de 1980 veio para o Pará, trajetória de muitos nordestinos, em busca da terra prometida.

Foi no ano de 1999 que militantes do MST e Mamede tiveram o grande prazer de se encontrarem, nas mobilizações realizadas na cidade de Ananindeua, área metropolitana de Belém do Pará, para ocupação dos latifúndios naquela região. Nesta época Mamede militava na Comunidade Eclesial de Base (CEB), com a experiência trazida do Maranhão. Experiência desenvolvida para enfrentar a opressão imposta pelas famílias latifundiárias, corruptas e assassinas daquele Estado, dentre elas a de José Sarney.

Com a luta organizada as famílias de trabalhadores conquistaram uma área de terra no município de Mosqueiro, que depois as famílias e o movimento fizeram ser criado um projeto de assentamento, pelo INCRA, o Projeto de Assentamento Mártires de Abril, em memória ao massacre de 17 de abril de 1996, na Curva do S, no município de Eldorado de Carajás, contra militantes do MST, realizado pela policia do Estado, quando governador Almir Gabriel.

Ali no assentamento Mamede se realizava e construía experiências e ensinamentos para companheiros (as) e para o mundo. Junto com sua esposa  D.Téo passaram a se dedicar em um grande projeto que viesse apontar para a transformação da sociedade. Homem culto, não abonava suas leituras  dos revolucionários, de Marx, os marxistas, ao poeta Maiakóvski.

Pelo seu afinado conhecimento e forma de lhe dar com as pessoas desempenhou importante papel como comunicador, educador e dirigente do movimento, sem nunca se propor a abandonar a luta e deixar de enfrentar as grandes dificuldades que se apresentavam no dia a dia.

A sua dedicação maior, sem desprezar a militância, a educação e acultura, mas fazendo destas uma interação necessária e produtiva,  foi com a agroecologia. Seu lote era um exemplo de diversificação de cultivos de plantas para fins medicinais, ornamentais e para produção de alimentos, e a criação de pequenos animais. Dedicação na transformação de plantas em produtos de uso medicinal e alimentício.

Mas como para a crueldade não há defesa e precaução suficiente par evitá-la quando ela nos ronda permanentemente,em um momento de vivência e dedicação com seu a fazer, Mamede foi covardemente assassinado quando reparava a situação de umas colméias.

Portanto, não foi só o MST, mas sim o mundo que perdeu, na flor da idade, um grande exemplar de homem educador, comunicador, dirigente, defensor e praticante da agroecologia, que acreditava na transformação da sociedade, com a destruição do capitalismo a partir  de acúmulos de fundamentações teóricas pelos indivíduos mas também necessariamente com a prática.

Lamentamos profundamente que a barbárie se alastra pelo mundo sem que nossas forças sejam suficientes para barrá-la. Lamentamos profundamente que diante da situação muitos(as) valiosos(as) lutadores(as) do povo se deixem levar pelos imbróglios da conjuntura política retrógrada e alienante que impera no país. Lamentamos profundamente pela perda de mais um comunista.

Como foi na casa de Mamede, quando da participação de um encontro estadual do MST, que tomei conhecimento do poeta russo Maiakóvski, em memória vou citar um dos poemas que de imediato me chamou a atenção:

E então que quereis?...

Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,

é certo,

mas também porque razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

haveremos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.

 

Mamede.

Presente!

Até a vitória sempre!

Marabá, 25 de dezembro de 2012.

Raimundo Gomes da Cruz Neto

Educador Popular CEPASP-Marabá

 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Ativista do MST é executado com dois tiros no PA


Foto - Roberto Cunha
 F

Mamede Oliveira foi executado com dois tiros na manhã de hoje, no projeto de assentamento Mártires de Abril, na região metropolitana de Belém. A viúva, Dona Teo encontra-se na delegacia prestando depoimento. O enterro ocorre amanhã.

Até onde se base, o ativista não vinha recebendo ameaças. Conforme informações preliminares uma pessoa não conhecida chegou à casa de Oliveira pedindo para conhecer o apiário. E em seguida puxou a arma e disparou dois tiros contra o ativista.

Mamede e Teo desenvolviam uma experiência em agroecologia no lote do assentamento, que é homenagem aos sem terra executados no Massacre de Eldorado, sudeste do Pará.

Por conta da inciativa em agroecologia era recorrente a visita de pesquisadores para conhecer o lote da família.