sábado, 13 de novembro de 2021

Flor de Gume, de Monique Malcher, cria de Santarém/PA, concorre ao Prêmio Jabuti

Gume é um riomar de mulheres. É a filha, a mãe e avó em pororoca de encontros e desencontros em prosa poética de elevado grau de concentração. 

“As mulheres são como as águas, quando se juntam, ninguém as detém”. A frase é mais ou menos neste rumo. É palavra de ordem recorrente em coletivos de mulheres das bandas das Amazônias, a exemplo do Baixo Amazonas, o oeste paraense.

É terra de Monique Malcher, filha de Santarém. Hoje, largada no mundo. A doutorar-se em Antropologia pelas bandas do Sul.  A terra de Malcher é encharcada pelas águas dos rios Tapajós e Amazonas. O primeiro dono de águas azuladas/verdes. Ainda não estou convencido da cor exata. Já com relação ao segundo, não resta dúvida, é barrento o tom. Tom das mágoas deixadas na trilha da escritora e artista plástica pelo patriarcado.  

O pai é violência. Os homens rasos. Apesar das águas de mágoas, a poesia resiste, ainda que alcancem o pescoço. Ameacem de morte. Flor de Gume, livro indicado para o Prêmio Jabuti é poesia e ternura em elevado grau de concentração: “quem arriscou a vida e crenças para atravessar as águas, os rios encantados das histórias da minha infância, não foi um homem, mas uma mulher, que tinha nome doce, mas sentia o amargor da miséria. Dulce”.   Fração do conto O Barco e as cartografias da esperança.

As águas grandes não respeitam barreiras. Afrontam as margens que as comprimem. Provocam erosões. Ainda que o rio seja um mar de lágrimas. O riomar da prosa poética de Malcher é um mundo de mulheres: a filha, a mãe e a avó. A senhorinha de Ponta de Pedras, que nunca mais voltou a reencontrar. É encontro de amores com as mulheres aguerridas com quem se deparou.

Em Suas sandálias me cabem? A encruza de Malcher se manifesta: “Eu cresci acreditando que as mulheres não poderiam me dar amor, que eu mesma não era o suficiente para o funcionamento da minha existência. Era urgente que os homens me amassem, aos moldes do amor que meu pai me dava, com seus excessos e controles. Conforme o tempo devorava os dias e me sentia estática, meu corpo não agia da mesma forma. Ele foi rompendo no meu estomago uma urgência infinita”.

37 contos ou seriam gotas de lágrimas, amor e suor?  Dão corpo ao livro de Malcher divido em três seções: i) os nomes escritos nas árvores, os umbigos enterrados no chão, ii) Quando os lábios roxos gritam em caixas de leis herméticas e, iii) O reflorestar do corpo, o abandonar das pragas.

Jarid Arraes, responsável pela edição do livro, igualmente escritora, em orelha da obra, adverte: “Flor do Gume é um livro para pele cortadas. Literatura como mergulhar as pernas nos rios do Pará e ouvir palavras que contam meninas presas em infâncias machucadas, mães e mulheres que crescem como plantas de verde profundo, apesar da realidade de violência, e avós que nutrem raízes, que aplicam ervas restauradoras no corpo ferido”.  

 

A mãe, a filha e a avó se entendem. Desentendem-se. As mulheres quando se juntam são como as águas....


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Serviço

Flor do Gume

Monique Malcher

Editora Pólen

R$45,00

 

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