Casal ameaçado de despejo faz tratamento contra câncer
A
Alunorte ameaça de despejo um casal de idosos de uma de suas casas na Vila dos
Cabanos, no município de Barcarena, 50 quilômetros de Belém, denuncia o
Sindicato dos Químicos do município.
Segundo
informação da direção do sindicato, o casal (73 e 69 anos), em fase de
tratamento de câncer, foi notificado oficialmente pela Justiça. Marco Antônio
da Penha Corrêa foi a pessoa autuada.
Santa
Brigida, um dos diretores dos Químicos, conta que a indústria tem usado de uma
empresa terceirizada para aterrorizar os moradores das casas da vila.
Segundo
relatos coletados pela representação dos trabalhadores, a terceirizada contratada
pela Alunorte tem promovido toda ordem de humilhação contra os ocupantes das casas.
O
caso dos idosos não é algo isolado, conta o dirigente sindical Brigida. Segundo ele, as empresas da cadeia do alumínio
da cidade, uma das maiores plantas industriais do setor do mundo, não têm
promovido o diálogo com as pessoas afetadas pelo problema.
“Os
preços cobrados pela empresa terceirizada são abusivos. Antes as pessoas
pagavam somente o preço do terreno. Não há humanidade no enfrentamento do
problema por parte da indústria para equacionar uma situação grave das famílias”,
avalia o sindicalista.
A Vila dos Cabanos faz parte da cadeia da produção de alumínio do município de Barcarena, cidade do norte do estado do Pará. O empreendimento fez parte do Programa Grande Carajás iniciado nos anos de 1980, do século passado.
O programa remodelou boa parte do território do estado do Pará, e concedeu vastas extensões de terras públicas aos interesses do grande capital, e expropriou indígenas, quilombolas e campesinos.
Trata-se
recursos públicos, quando a Vale era a controladora da maioria das ações da
cadeia do alumínio, antes da privatização no apagar das luzes dos anos de 1990, período da criação da Lei Kandir, que isenta as empresas em
recolher imposto pela exportação.
Energia
e água são os principais insumos da cadeia de produção dos lingotes de
alumínio. Daí a construção da hidroelétrica de Tucuruí, ao sudeste do Pará.
A
usina foi erguida no rio Tocantins para alimentar com energia paga pela
sociedade brasileira a produção que hoje é controla pela empresa pública da
Noruega, a Norsk Hidro, na cidade de Barcarena e a Alcoa, em São Luís,
Maranhão.
Vila dos Cabanos - A company tawn (cidade
empesa) como dizem os especialistas, é uma estratégia de controle da vida
laboral e de lazer dos operários das fábricas.
A primeira experiência desse modelo foi implantada na Amazônia por Henri
Ford, no Baixo Amazonas, nos anos de 1940.
Faturamento –8 bilhões de reais foi o faturamento da Norsk Hidro no ano passado no conjunto dos empreendimentos que controla no estado do Pará, Alunorte, que transforma bauxita – matéria prima – em alumina, a Albras que transforma a alumina em alumínio, e a Mineração Paragominas, que lavra a bauxita.
As empresas colecionam notificações de crimes ambientais na cidade de Barcarena, como o transbordamento dos resíduos dos processos de produção dos lingotes de alumínio das suas bacias de rejeitos, em particular a soda cáustica.
Por
conta de crimes ambientais, em vários momentos a produção do alumínio
experimentou períodos de suspensão.
O
problema é recorrente em períodos de chuva, como o que estamos vivendo. Estudos da UFPA comprovam que várias substâncias dos processos de transformação da
cadeia do alumínio provocam canceres.
Por abrigar vária industrias com grande potencial poluidor, Barcarena
chegou a ganhar a alcunha de Cubatão da Amazônia.
Resposta da Hidro sobre o caso
A Albras, uma associação entre
a Hydro e NAAC, informa que possui propriedades na Vila dos Cabanos, alugadas
para empregados próprios e da Alunorte. A locação está vinculada ao contrato de
trabalho. Uma vez encerrado o vínculo empregatício, o imóvel deve ser
desocupado conforme o contrato firmado.
A empresa reitera que está
disposta a regularizar a situação habitacional de ex-empregados que permanecem
residentes de forma irregular nos imóveis da Albras. Nesse sentido, a empresa
iniciou um trabalho em conjunto com o Tribunal de Justiça do Estado, através do
Núcleo de Mediação, para solucionar as pendências jurídicas. Dos 78 convocados
para o Mutirão de Mediação, realizado em 2018, apenas 23 não demonstraram
interesse ou não entraram em acordo.
A empresa informa ainda que não tinha conhecimento do caso específico citado e reforçará o diálogo com os ocupantes do imóvel para - através dos meios legais cabíveis - encontrar a melhor forma de resolver a questão.
Assessoria
da Hidro
1 comentários:
Qual é o grau de envolvimento da Norsk Hidro com o problema relatado na reportagem?
Notifique-se a embaixada da Noruega que, os mesmos direitos humanos, que lhe dão a posição privilegiada de uma sociedade humanitária e justa, devem valer aqui no Brasil, também!
Benjamin Prizendt
ambientalista
bprizendt@uol.com.br
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