Discentes indígenas da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) presentearam a pessoa que ocupa o
assento do Ministério da Educação com um bem humorado protesto, na noite do dia
22 deste mês.
O mimo ocorreu quando o
“soldado” do presidente se refastelava em férias - gozo concedido com cinco
meses de labuta chancelada pelo obscurantismo e o autoritarismo - com familiares
em Alter do Chão.
Alter é um bucólico distrito
do município de Santarém, oeste paraense. Espaço ressignificado pelo “deus”
mercado como o Caribe Brasileiro, por conta das águas azuis do rio Tapajós.
Águas de uso comum das populações
ancestrais, que além de fonte de proteínas embute relações de afeto e míticas. Um
mundo pré-colombiano. Águas ora ameaçadas pela agenda de edificação de
hidroelétricas e portos, e há muito tempo pelos resíduos de garimpos que operam
“clandestinamente” na região, a partir de uma agenda que tem a colonialidade
como a principal feição.
Faz-se necessário
ratificar que existe outro universo para além do capital. Entre indígenas e
quilombolas a UFOPA acolhe perto de 900 discentes. Cogita-se que a universidade
seja a mais inclusiva do país. Os repetidos cortes na pasta da educação coloca
em xeque a permanência dos mesmos na universidade.
A acolhida dos
referidos resulta de anos de peleja e teimosia. A presença destes torna mais a
rica a universidade. O desafio consiste em afinar a viola para a promoção do
diálogo entre os saberes, ainda marcado por ruídos, preconceitos e similares.
Caso seja procedente que
é do caminhar que se faz o caminho, a jovem instituição - a Ufopa soma uma
década - deve percorrer um bom caminho até que alcance a consolidação. Passos
que passam pela finalização das edificações, organização de pós-graduação,
publicações e intercâmbios.
Passos ameaçados pela
administração do Detrito Federal, que elegeu o saber, o conhecimento, a
educação e a cultural como preferidos alvos de suas ações. Faz-se necessário
ratificar: um mundo pulsa para além dos muros, cercas e atos de Brasília.
Indígenas, quilombolas
e um vasto campesinato integram a diversificada e complexa composição social da
região, que conforme o planejamento estatal, constrangido por grandes
corporações de diferentes campos almeja dinamizar o Baixo Amazonas como um
corredor de exportação de commodities.
Nas planilhas e mapas
estatais não existe gente. Em particular essa gente que ousou ocupar um assento
numa instituição pública de ensino superior. Essa gente sempre recebida por
policiais ao marchar sobre a capital do país. Essa gente nunca recebida em
gabinetes da administração central. Gente que ousa constranger o “soldado” do
desmantelamento do ensino público.
Gente que ao longo da
história tem compartilhado todo tipo de mazela fruto dos grandes projetos desta
parte da Amazônia. Gente que rema em oposição. Em Alter, por exemplo, indígenas
estão mobilizados a celebrar sua diversidade cultural no evento denominado
Mutak, que encerra no dia 28.
No mesmo período
segmentos campesinos marcham em defesa de seus territórios e dos recursos que o
mesmo é tributário na 1ª Romaria em defesa da Terra e dos Rios. Ato organizado
pelas associações e sindicatos de trabalhadores rurais da região, com apoio de
frações da Igreja Católica.
Frações que estão
mobilizadas na construção do Sínodo da Amazônia, no Fórum Panamazônico. Já no município de Juriti, que abriga uma
unidade da Ufopa, celebra mais um festival das tribos indígenas.
Faz escuro, mas, ecoam
tambores, cantos, traços no corpo e celebrações em defesa da vida no rincão do
mundo amazônico.
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