Bernardo Kucinski no
livro Jornalistas e revolucionários, tese de doutorado que recupera
fragmentos dos principais jornais do campo democrático do período da ditadura, sentencia
que a longevidade das publicações não ultrapassava a casa de cinco anos. Tensão
entre as correntes políticas, crise financeira e a distensão política são
pontuados como elementos que colaboraram para o ocaso de inúmeras publicações.
Movimento, Opinião, Pif
Paf, O Pasquim, Versus figuram como publicações históricas que buscaram
denunciar a violação de direitos humanos e debater questões centrais da
política, como a realização de uma Assembleia Nacional Constituinte. Na
Amazônia figuram como importantes publicações o Jornal Varadouro do Acre,
Resistência, de Belém, Pará, editado pela Sociedade Paraense de Defesa dos
Direitos Humanos (SPDDH) no fim da década de 1970 e início da década de 1980, e
ainda o Bandeira3, sob a responsabilidade do jornalista Lúcio Flávio Pinto.
Na década de 1980, pós
ditadura, Lúcio Flávio Pinto criou o Jornal Pessoal. Conforme ele esclarece, a motivação
foi impedimento da publicação de uma matéria no jornal O Liberal. A reportagem tratava
da execução do advogado e deputado estadual pelo PC do B, Paulo Fonteles.
Em 2012 o JP completou
um quarto de século. O tabloide quinzenário é tributário de importantes temas
sobre a região mais discutida no mundo, a Amazônia. Grilagens de terras,
grandes projetos, políticas de desenvolvimento, violência e o cenário político
do estado são temas contemplados nas páginas do JP.
A relevância do profissionalismo
do nanico pode ser medida em citações do mesmo como fonte de pesquisa em todos
os cantos do mundo, e motivações de pesquisas sobre a obra. Na Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA\USP) existem algumas dissertações e
teses.
Quando o JP somou duas décadas
de vida, a professora Maria do Socorro Veloso, sob a orientação do jornalista e
professor Laurindo Leal, defendeu a tese que recupera a trajetória do jornal
pessoal de Lúcio Flávio. A obra, Imprensa, poder e contra hegemonia – 20 anos
do Jornal Pessoal (1987-2007), pode ser baixada na grande rede.
Nela a professora esclarece
que a fonte de inspiração da linha editorial do JP foi a obra do jornalista estadunidense
I. F Stone´s Weekly, que por 19 anos editou o próprio jornal. O jornal de Lúcio
não tem anúncio. Ele argumenta que é para evitar qualquer tipo de pressão. Ao contrário
do que advogam algumas pessoas que tratam do JP, ele não é o jornal de um homem só.
Luiz Pinto, irmão do editor, é o responsável pela diagramação, as inventivas
capas e ilustrações.
Assim como o Bandeira3,
uma experiência realizada pelo editor do JP em 1975, o tabloide não tem
vínculos com partidos políticos ou movimentos sociais, como era comum em tempos
idos.
Ao lado do jornalista
Alberto Dines, Lúcio Flávio foi homenageado este ano com a chancela especial do
Prêmio Wladimir Herzog, a mais importante comenda nacional na área de direitos
humanos. O prêmio foi concedido pelo
reconhecimento da obra do jornalista, que por conceder visibilidade a atos
secretos das esferas do poder econômico, político e jurídico na Amazônia,
coleciona processos.
Um dos casos mais escabrosos
foi a penalização no processo impetrado pelo grileiro de terras Cecílio do Rego
Almeida. O jornalista foi condenado a pagar idenização por denunciar a maior
de grilagem de terras na Amazônia. No entanto, o mais interessante foi a mobilização
em todo o país numa campanha de cotização para honrar os custos da pena.
Há elementos de sobra
que podem ancorar pelo menos um debate sobre jornalismo, liberdade de expressão
e direitos humanos na fronteira mais importante do mundo. Soa no mínimo
estranho, o silêncio no universo acadêmico sobre a passagem dos 25 anos do
principal jornal independente da Amazônia.
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