Pernambuco tem quase 60
janeiros. Tem a cara amassada por inúmeras quedas. Algumas provocadas por conta
do consumo de cachaça. A boca é meio pensa para o lado esquerdo. A estatura é média. É mecânico de oficio. Mas,
faz bico de que tudo que é coisa. No domingo de ramos danou a puxar prosa após
matar algumas doses de pinga.
Fazia sol no Bar do
Carecão. O boteco do vascaíno fica na Cidade Nova, núcleo urbano da cidade de Marabá. Como
uma obrigação religiosa, sempre que baixo na cidade, vou tomar benção ao seu Zé
(Carecão). Ex garimpeiro que um dia bamburrou
em Serra Pelada.
O local é um canto
sagrado de veteranos que curtem dominó. Não é o meu caso. Seu Zé tem uma penca
de filhos. Todos tomam benção a ele. Um o beija no rosto. Na prole, belas
herdeiras. Eu opto em ocupar o balcão. Foi lá que a prosa brotou.
“Fazia 12 anos que não falava
com a minha mãe. Hoje eu consegui”, conta o emocionado “peão do trecho”. Lágrima
sobre lágrima, ele conta que por 14 carnavais foi viciado em crack. “ A pedra
quase me mata. Não tinha coragem de falar com a minha mãe sendo viciado”,
dispara entre soluços e intercalando um cigarro e cusparadas na calçada.
O peão conta que morou em
Curionópolis. O amigo Pelado queria subir com ele para Marabá. Preferiu correr
o trecho só. Um dia Pelado baixou na cidade, caçou confusão e o PM Paraná
adiantou o encontro dele com o superior.
Casado com uma cearense
brava, ele promete que o dia faz uma merda e manda a cônjuge para o quinto dos
infernos. Reclama que ela faz tudo que ele não gosta. “Ela pagou tatuagem para
o meu menino. Para eu ficar mais chateado, também bancou um brinco”, narra
contrariado o “pé inchado”.
Na verdade o menino não é
filho biológico. Trata-se de um sobrinho. Pernambuco rememora que a irmã foi
embuchada por um vocalista da banda de forró Mastruz com Leite. “ Minha irmã é
negra do beiço virado. Não quis a criança e eu fiquei”, recorda entre mais um
punhado de lágrimas. Segundo ele o rapaz
de 21 anos faz faculdade.
Por conta das inúmeras quedas
e toucas que comete por conta do álcool, o filho balbuciou que tinha saudade
quando ele usava somente a pedra. Segundo Pernambuco, o menino disse que ele
fumava e dormia. Agora cai e dorme na rua, e o rapaz tem de apanhá-lo.
Pernambuco é filho da
pequena Trindade. Ex distrito de Ararapina. “ Olha, eu poderia tá bem. Minha família
é bem lá. Primos já foram prefeitos. Mas,
não quero voltar”, narra o migrante.
Quase meio dia. Os fregueses
ganham o rumo. O bar fica vazio. Carecão fecha para o almoço, e só abre
segunda. Um aperto de mão sela a nossa despedida. Até outro retorno a Marabá. O
trindadense dá as costas e segue rumo a Transamazônica.
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