segunda-feira, 2 de novembro de 2015

III Chamado da Floresta, mesmo antes do evento o Movimento Tapajós Vivo alertava sobre limites

O Pe Edilberto Sena, Membro do Movimento Tapajós Vivo e coordenador da Comissão Diocesana de Justiça e Paz de Santarém assina o texto abaixo.  
Chamado da Floresta no rio Arapiuns quem ouvirá os clamores?
 
A Comunidade São Pedro fica a oito horas de barco, saindo de Santarém indo pelo rio Arapiuns. É uma das dezenas de comunidades da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns. De hoje  até amanhã estão reunidos cerca de 2 mil pessoas, vindas de diversas reservas extrativistas da Amazônia. É o terceiro Chamado da Floresta.
 
Se para os participantes que vieram de longe e de perto, o evento parece importante, para outros amazônidas há um certo ceticismo quanto aos resultados de tanto esforço. Segundo um dos lideres locais do Conselho Nacional dos Seringueiros, que promove o evento, esse Chamado da Floresta é um encontro de diálogo interno dos moradores das reservas extrativistas que pretendem fazer várias demandas necessárias para sua sobrevivência. Mas frisou ele que não será um confronto, mas diálogo com os convidados do governo federal.
 
Até ontem havia questionamentos na cidade de Santarém sobre a anunciada vinda da presidente Dilma ao encontro dos povos da floresta. Viria ela ou não? Se viesse, o que diria aos participantes? Além dela estavam confirmadas presenças de quarto ou cinco ministros de  governo, entre outros estariam a ministros, de Minas e Energia, do Meio Ambiente, Ministro das cidades, etc.
 
O Movimento Tapajós Vivo da cidade de Santarém que luta na defesa dos povos e do rio Tapajós, que não foi convidado ao Chamado da Floresta, preparou um manifesto a ser distribuído durante o evento. O organizador local avisou que estava fechada a programação e  não estava incluída  fala do Movimento Tapajós Vivo em público porque o evento era interno só dos extrativistas.
 
No curto e direto manifesto, o Movimento afirma que resistir é preciso custe o que custar. “Não podemos aplaudir a presidente e seus ministros, que continuam insistindo em construir sete hidroelétricas em nosso rio Tapajós”. Continua o manifesto com outra dura crítica – “ com a maior frieza a presidente Dilma assinou a medida provisória 558/2012, reduzindo em 10 mil hectares a área do Parque NACIONAL da  Amazônia e deixando desprotegidas mais de 100 mil hectares de florestas de outras áreas de proteção permanente, tudo isso consciente de que serão áreas inundadas pelas barragens no rio Tapajós”. Se a presidente diz que não abre mão das hidroelétricas no Tapajós, como podem os povos da floresta aplaudir ingenuamente quem trabalha contra eles?
 
O manifesto do Movimento Tapajós vivo conclama os participantes do Chamado da Floresta a unir forças para resistir às violações de seus territórios. Diz a conclamação: “ Não abrimos mão do Tapajós, porque não queremos Povos expulsos de suas terras, nem dinâmica do rio alterada com a perda de várias espécies de peixes  de piracema, não queremos seca do rio abaixo das barragens o ano todo. Presidente Dilma, respeite nossos direitos.
 
Mas não só o Movimento popular Tapajós vivo é cético dos resultados do Chamado da Floresta. Os pescadores artesanais estão revoltados com a recente mudança da lei de salário do defeso. A Colônia dos Pescadores também se manifesta  descrente dos resultados do tal diálogo com o governo. Simplesmente o governo Dilma cancelou o pagamento do salário desemprego durante o defeso, quando os peixes recebiam descanso para desova. Para economizar recurso de seu orçamento o governo despreza os direitos dos pescadores que agora serão obrigados a pescar peixes ovados para sobreviver.
 
Revoltados os pescadores tentam  reverter essa criminosa atitude do governo. Por esse e outros atos de ignorar direitos dos povos da floresta é que a presença da presidente, não só é criticada como certamente ela não virá, pois não escuta o chamado da floresta. Não se trata de oposição política, mas grito de indignação dos povos conscientes da floresta.

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