O Encontro dos Povos da Volta Grande do Xingu, realizado na Ilha da Ressaca e no Travessão 27, neste fim de semana, permitiu a ribeirinhos, agricultores e índios que moram nas diversas comunidades da Volta Grande e em seu entorno (Arroz Cru I e II, Pirarara, Galo, Jurucuá, Paquiçamba, Ilha da Fazenda, Pimental e Ouro Verde) informar-se, analisar e discutir os prováveis efeitos da construção da barragem de Belo Monte, caso esta venha a ser realizada.
Na Comunidade da Ressaca, os organizadores e pesquisadores presentes ao Encontro constataram a perplexidade da população ao receber a informação já disponibilizada pela ELETROBRAS sobre a drástica redução do nível do Rio, no trecho que será desviado para os canais de interligação que, com 250 metros de largura e 12 km de extensão, ligarão o rio ao Reservatório.
Exímios conhecedores da região, defrontaram-se pela primeira vez com a insólita possibilidade de um "verão permanente", cujas conseqüências, com preocupação e perplexidade, começaram a antever: aquecimento da água, extinção de diversas espécies da fauna aquática, redução da pesca, abundância de carapanãs da pedra, extrema dificuldade de deslocamento, mudança radical das atuais condições de produção e de vida. Presente à reunião, a Senhora Marineide de Souza, em cuja infância enfrentou as dificuldades da seca no Nordeste, emocionada, com lágrimas que não conseguia segurar, disse aos seus vizinhos: - vocês não sabem o quanto é ruím não ter água, não ter água nem para dar a um filho … Numa reflexão conjunta, passaram da perplexidade para a indignação: - Porque não somos avisados de tudo isso que vai acontecer? Por que dizem pra nós que nós não vamos ser atingidos? O que é que eles pensam que é ser atingido? Apenas quem for expulso da terra é que será atingido? E todos os demais que serão afetados pela falta de peixe, pelo excesso de mosquitos, pela dificuldade de transporte para atravessar a barragem e escoar a produção?
No Travessão 27, as instalações da escola foram insuficientes para abrigar o grande número de agricultores e ribeirinhos presentes. A maioria já recebeu a informação de que terá que deixar a sua terra, a sua casa. Esta notícia já instaurou insegurança, preocupação. A imprevisibilidade do que vai acontecer, e, principalmente, de quando e como vai acontecer, tem tirado "noites de sono", de pais e mães de família que agora não sabem se devem plantar, se devem fazer benfeitorias em seus lotes ou melhorias em suas casas. Nenhuma informação sobre o que lhes poderá acontecer lhes foi dada - somente o destino incerto do deslocamento forçado. O senhor Benedito Balão, com 85 anos, nascido e criado na Boca do Gaioso, diz que pela primeira vez não sabe o que vai fazer da vida. Só tem uma certeza: "dali não quero sair. Foi ali que eu nasci, nasceu meu pai, nasceram meus filhos".
Neste caldeirão de incertezas, as placas e as picadas abertas nos terrenos dos agricultores, pela Eletronorte, contribuem para aumentar a insegurança quanto ao futuro das famílias e são mais uma fonte de pressão. Durante o encontro, agricultores e ribeirinhos informaram que alguns já venderam os seus lotes, outros desistiram de seus projetos. A maioria está disposta a se organizar para defender os seus direitos, o seu rio, as suas vidas. Todos já são vítimas da perplexidade e da imprevisibilidade.
O Movimento Xingu Vivo para Sempre, com estes encontros, dá prosseguimento a uma série de atividades que se estenderão por toda a área prevista para ser ocupada pelo reservatório, canteiros de obras e vilas residenciais, bem como por toda a área a jusante da suposta Barragem.
O Movimento Xingu Vivo para Sempre denuncia também que na reunião com os trabalhadores rurais no Km 27 da Volta Grande, funcionários da Eletronorte chegaram filmando e tirando fotos dos palestrantes e participantes na reunião, formas de intimidação e constrangimento praticas que utilizavam na época da ditadura militar, que infelizmente continuam. Pois sequer falaram com os organizadores do evento.
Para maiores contatos:
Antonia Melo (93 3515 2406)
Movimento Xingu Vivo Para Sempre e ou Nilda (Cimi) (93) 3515 2312
1 comentários:
Caro Rogério, estou no Furo pela primeira vez. Acho a incictiva muito bem vinda. Fique atento ao que vai acontecer no entorno de Marabá. A população local ainda dorme enquanto avança os preparativos para construção da barragem.
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