A licença de operação da empresa venceu em novembro do ano passado.
Com
a licença de operação vencida desde 22 de novembro de 2020, a trajetória da
empresa estadunidense Cargil em Santarém, no oeste do Pará é um rosário de
irregularidades e indiferença à diversidade social que integra a região, marcada
pela densa presença de indígenas, camponeses e quilombolas, que tiveram os seus
direitos desrespeitados, posto a empresa e o Estado não efetivarem a Consulta
prévia livre e informada, como estabelecem as normas da Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Como
em outras experiências de grandes projetos na Amazônia, a empresa tem a
anuência e a conivência do Estado no processo em que se apropriou de uma área
pública, a Praia de Vera Paz, na área urbana da cidade de Santarém. A área ocupada pela empresa é parte de um sítio
arqueológico denominado de Porto, considerado por especialista o mais
importante do município. Trata-se de vestígios de ocupação pré-colombiana do
território de cerca de 10 mil anos do Povo Tapajós. O que implica na destruição
da memória ancestral.
A
empresa sentou praça em Santarém nos anos inicias da década de 2000 sem
apresentar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto no Meio
Ambiente (RIMA). Somente após a mobilização de setores afetados pela empresa,
ainda de forma precária e negligente, a Cargil apresentou o EIA-RIMA sete anos
após o início de suas operações.
Estrutura da Cargil
A
Companhia Docas do Pará (CDP) e a Secretaria de Meio Ambiente e
Sustentabilidade do Pará (Semas) são os ponta de lança da empreitada. A Cargil obteve as licenças para iniciar a
construção de uma Estação de Transbordo de Carga (ETC) em 2000 e passou a
operar em 2003, após idas e vindas nas cortes judiciais, recupera estudo recém lançado
pela ONG Terra de Direitos, Sem licença
para destruição: a violação de direitos no Tapajós, Santarém.
A
pesquisa esclarece que além da ETC na orla na cidade, no encontro dos rios
Tapajós e Amazonas, que “em 2010 a Cargill instalou um armazém de grãos e
cereais, na comunidade de Cipoal, às margens da BR 163, ainda em Santarém. O armazém
conta como uma estrutura de silos com capacidade de armazenamento de 30 mil
toneladas de grãos e uma área de pátio para carreta”.
Na
memória de abusos da Cargil a pesquisa relata que “em 2012 as obras de
ampliação, com a implementação de um silo com capacidade para 30.000 toneladas
de grãos na área retro portuária da empresa. Em 2014, a expansão continuou, com
a instalação de três silos metálicos com capacidade de armazenamento para
54.000 toneladas, um píer flutuante coberto para recebimento de barcaças, e um
descarregador de rosca (Barge Unloader) com capacidade de movimentação de 1.500
toneladas/hora. A ampliação foi concluída em 2017, com investimento total de R$
240 milhões, que aumentou a capacidade anual de escoamento de 2 para 5 milhões
de toneladas de grãos”. O processo se
deu tendo como base um EIA-RIMA precário.
Entre
as irregularidades elencadas pela Cargil, o documento sublinha: i) Invisibilização
de povos e comunidades tradicionais; ii) Fragilidades nos diagnósticos de uso e
ocupação dos solos; iii) Omissões quanto
aos processos de organização social das áreas de influência da ETC; iv) Não
realização de consulta prévia e informada a povos e comunidades tradicionais; v)
Frágeis análises de questões ambientais; vi) Diagnósticos elaborados predominantemente com
dados secundários.
A instalação da Cargil no começo dos anos de
2000 representa o pontapé de avanço da soja na região. No Planalto Santareno
comunidades quilombolas e indígenas, a exemplo do território quilombola de Bom
Jardim e a aldeia Açaizal do povo Munduruku convivem com o cultivo há pelo menos uma
década. A contaminação de mananciais da região pelo uso de agrotóxico representa
um dos danos, além da redução da área de cultivo.
A
ETC da Cargil é uma das estruturas que visa consolidar a região como um grande
corredor de exportações de commodities do
Brasil Central, ênfase ao estado do Mato Grosso. A síntese dos projetos
encontra-se no documento Arco Norte, que elenca complexos portuários, a exemplo
dos instalados na cidade de Itaituba, hidrovias e a Ferrovia EF 170, batizada
de Ferrogrão, que almeja ligar Sinop/MT ao distrito de Miritituba, em Itaituba,
no Pará.
Assim
como a experiência de irregularidades da Cargil, a agenda desenvolvimentista
ameaça a reprodução de indígenas, camponeses e quilombolas. Leia o documento da Terra de Direitos AQUI
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