A Amazônia vive um momento de aumento de tensão na disputa pelo território e seus recursos naturais. O cenário coloca em oposição grandes corporações do agronegócio, mineradoras e Estado, versus indígenas, quilombolas, camponeses e extrativistas. Em pauta, o modelo de desenvolvimento.
O que fazer ante a situação que não universaliza o acesso aos direitos para todos os sujeitos do cenário nacional? Com o objetivo de organizar formas de resistência dos povos da Amazônia e Pan-Amazônia, o Fórum da Amazônia Oriental (FAOR), realizou no município de Balsas, sul do Maranhão, nos dias 21 e 22 de outubro, no Centro Nossa Srª de Guadalupe, seminário preparatório rumo ao Fórum Social Mundial (FSM).
Edmilson Pinheiro, coordenador da rede Fórum Carajás, explicou que as organizações que dão vida a “Justiça nos Trilhos” tem fomentado junto às universidades do Pará e Maranhão estudos sobre a temática e que os mesmos devem ser apresentados durante o FSM.
O grupo tem realizado e otimizado em reuniões dos movimentos sociais para apresentar o “Justiça”, nos mais variados níveis da sociedade no Brasil e exterior. Os interessados na questão podem acessar o site, www.justicanostrilhos.org
O município de Balsas configura-se como uma expressão da capacidade de territorialização dos setores do agronegócio, em particular a soja. Cilos da Bunge e Cargil são manifestações desse poder, que também se revela com a configuração do comércio da cidade, que a tudo se refere ao principal setor da economia local.
Próximo a Balsas, na fronteira do Maranhão com o Tocantins, no município de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), ergue-se um dos maiores empreendimentos para a geração de energia do Brasil, a hidrelétrica de Estreito, no rio Tocantins.
ALCOA, Vale, Construtora Camargo Corrêa a belga Tractebel são algumas das empresas que integram o Consórcio Estreito de Energia (CESTE). 2 bilhões de reais é o custo estimado para que Estreito gere 1.087 MW de energia. Na mesma região a ferrovia Norte Sul ganha forma e o trem já corre.
Cerca de seis anos durou a peleja em torno do debate sobre os limitados estudos que tratam dos impactos ambientais e sociais. Sítios arqueológicos, populações indígenas, camponeses, médios produtores devem ser afetados com a obra numa região já tão marcada pela degradação do meio ambiente, o bioma cerrado.
Balsas é uma cidade para poucos
O processo da soja teve início lá pelo fim da década de 1970, no regime militar, sob a batuta da revolução verde. Assim chegaram os sulistas para derrubar o cerrado no “correntão”, conta Antonio Criolo, militante dos direitos humanos na região. O correntão consiste em amarrar uma corrente em tratores para a derrubada das árvores.
O ativista explica que a monocultura concentrou terra e renda na mão de poucos.A degradação ambiental tanto pela derrubada das árvores, como pelo uso intensivo de venenos e a destruição da mata ciliar, que protege rios e nascentes. O cerrado é repleto deles. As temáticas em questão nunca são tratadas pela mídia que festeja a monocultura a cada safra do grão.
Território em disputa
O latifúndio avança! É o que se pode concluir após as falas dos camponeses da região e assessores da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Para o latifúndio avançar, alguém tem de ser expropriado, ou seja, perde o camponês.
Exemplo citado é o município de Campestre, sul do Maranhão, onde a monocultura prolifera. Similar se registra na cidade de Coelho Neto, onde o grupo João Santos transformou cerca de 85% do município num grande bambuzal, ao centro do estado.
A lei e o disfarce
A praxe no horizonte da monocultura é a relação de trabalho ser regida pela escravidão e análogos. Mas, informações atestam que vários Acordos Coletivos de Trabalho estão sendo assinados entre Sindicatos de Trabalhadores Rurais e grandes corporações.
O que não se informa é que a maioria dos trabalhadores não conhece o conteúdo ou participa das conversações. Pelas informações colocadas tudo não passa de maquiagem para ludibriar a fiscalização. Tudo para inglês ver.
Um dos casos citados é da empresa Agroserra, que cultiva cana-de-açúcar, e onde 700 trabalhadores foram libertos da condição análoga à escravidão. Recentemente o grupo conseguiu retirar o nome da Lista Suja do Trabalho do Ministério do Trabalho sob força de liminar.
Além das monoculturas da soja e da cana, engrossa o coro dos agentes de degradação social e ambiental na região a monocultura do eucalipto da Vale, que alimenta parte do pólo siderúrgico de Carajás. Dissertações de mestrado e teses de doutorados atestam que o empreendimento é fomentador do trabalho escravo, da destruição do meio ambientes e não dinamiza a economia local.
Balsas-MA
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