terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mestre Laurentino – o neto de escravos que virou pop depois dos 70 anos













Encontramos João Laurentino da Silva, mais conhecido no mundo pop como mestre Laurentino, numa manhã ensolarada de setembro na Praça da República. O neto de escravos veio ao mundo no dia primeiro de janeiro de 1926, no município de Ponta de Pedras, arquipélago do Marajó. Aos quatro anos foi adotado pelo juiz de direito Francisco das Costa Palmeira. Não tem mais irmãos vivos e depois de adotado não manteve mais contato com os pais biológicos.


Estudou até a quinta série. Trabalhou como técnico de manutenção de aviões na extinta empresa Real Aerovias, que existiu entre 1946 a 1961. O autor do hit Lourinha Americana, que tira um sarro do pedantismo estadunidense, também passou pela roça e pela exploração da madeira. “A música é sucesso internacional.

Já recebi comentários da Itália, Portugal, França, Alemanha e até do próprio Estados Unidos”, fala com orgulho o serelepe senhor de 82 anos. A música foi gravada pela banda pernambucana Mundo Livre S/A, no CD Por pouco. Num trecho a canção dispara: Essa lourinha americana (lourinha americana)/Está querendo me escolachar/Foi dizendo que eu sou neguinho (bem neguinho)/E que na América eu não posso entrar.













O aposentado que recebe um salário mínimo por mês reflete que o mundo se encontra cheio de bandalheira e que não gosta de lari-lari. Humilde, apesar da popularidade, considera-se pequeno, menor que um grão de mostarda. Laurentino tem memória prodigiosa. Lembra de fatos históricos e políticos antigos. Como uma eleição do tempo do interventor Magalhães Barata, quando era comum se emprenhar urnas.

O mestre em detalhes
O mestre mora na ilha do Outeiro, região metropolitana de Belém com Elza Freire da Silva, com quem teve 10 filhos. Mas, somando com outros relacionamentos Laurentino contabiliza o total de 16 rebentos. Além da companheira Elza o compositor que guarda as canções que faz na cachola, tem como xodós dona Maria Josefina, acreana descendentes de europeus e a dona Leonice dos Santos. Segundo o mestre, ele ainda confere o placar em noites chuvosas.

Por cinco mil réis comprou a primeira gaita aos 18 anos. Desde menino manifestou interesse por música. Passou por incontáveis programas de auditórios nas emissoras de rádio e TV´s locais. Narra aventuras do tempo da PRC-5, atual Rádio Clube. O hoje celebrizado mestre já foi homenageado pela câmara municipal de Ponta de Pedras e em Belém.













Recentemente recebeu um incentivo da governadora Ana Júlia para a construção de uma escolinha e aquisição de instrumentos para a sua banda de rock. “Não esquece de colocar isso” exige o artista que no CD que deve ser lançado ainda este ano versa sobre a disputa eleitoral estadunidense.

Mestre Laurentino só toma vinho e há oito anos abandonou o cigarro. Adora andar e contar causos. Diz ele que chega a percorrer até 14 km quando visita o município de São Caetano de Odivelas, onde tem uma terrinha. Sem modéstia afirma que aonde chega esbandalha tudo.













“Tomo conta”, afirma o roqueiro mais antigo do Brasil. Entre as aventuras das múltiplas viagens ele conta que no festival de Goiânia os “malucos “ o apanharam do palco e o jogaram para o alto. Caiu em cima da caixa de som e quebrou os óculos.

Na manhã que comungamos nota-se a preocupação e amor do mestre pela natureza. Em certo momento da conversa ele interrompe e aponta a brincadeira de um par de passarinhos. “Coisa linda,” exclama. Além da coleção de chapéus, relógios e anéis, - as mãos sempre estão repletas deles-, o mestre coleciona cães, são mais de 14, afirma. Tirando o som com a batida das mãos ele cantarola várias canções do primeiro CD solo, em fase de produção. Numa delas filosofa: “No galho de nossas fantasias cada um tem a sua aranha”.

Fotos do Mestre Laurentino- Rosa Rocha/2008

5 comentários:

gil sóter disse...

o projeto coletivo rádio cipó é um dos grupos mais bacanudos do brasil e bebem do mangue beat para visitar as periferias, onde fazem intervenções nas comunidades mais pobres de belém. ousado também foi trazer as vozes do mestre laorentino e de dona odete, e misturar com samples eletrônicos.

grande matéria.

amélia conor disse...

ontem , aqui no nosso condomínio tive o prazer de conhecer pessoalmente este artista , na sua simplicidade e originalidade , foi um prazer vê-lo cantar e dançar com abanda que tocava no aniversário do Guto, foi ele ,o mestre o dono da alegria da festa. Um momento raro.Um bejo pra ele desta fã : Amélia

Carlinhos Vas disse...

Legaall...sou um admirador e fã de Mestre Laurentino, sua vida é marcada pela simplicidade e honestidade..Fiquei muito feliz em ler..parabéns. Neste final de semana, iremos ensaiar musicas do seu CD Lourinha Americana, mostrarei para ele esta matéria. Acredito que ele vai adorar.

sucesso

Carlinhos Vas
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PONTO DE CULTURA REDE RADIO CIPO DE COMUNICAÇÃO DIGITAL

rogerio almeida disse...

Salve Carlinhos

Grato pela gentileza

Tem uma matéria maior que tá no Overmundo, http://www.overmundo.com.br/overblog/coletivo-radio-cipo-uma-inquietacao-cultural

E abri um album do mestre no meu facebook

Nesta semana estou meio ocupado
Mas, na próxima a gente poderia aconpanhar o ensaio

Pode ser?

Anônimo disse...

Gosto da música loirinha americana, o mestre Laurentino tem sua importância para a cultura e o cenário musical (não o do rock) paraense e nacional etc...mas daí a chamá-lo de "roqueiro mais antigo do Brasil", é uma "forçação de barra" sem igual...chega a ser engraçado...rsrsrs