A dinâmica marca as terras dos
Carajás, sudeste do Pará. Isso desde tempos remotos. Nos dias atuais o local respira a
agenda de um plebiscito que visa a emancipação da região, conhecida mundialmente
pela riqueza mineral e os conflitos pela terra.
A disputa pelo território e as
riquezas lá existentes mobiliza a grande corporação de mineração Vale, indígenas,
posseiros, assentados da reforma agrária, fazendeiros, garimpeiros, grileiros. É uma fronteira agro-mineral, que cimentou um
desmatamento de forma sistemática a partir dos planos de integração do governo
federal no século passado.
Os rios Tocantins Araguaia aliviam
um certo aspecto inóspito, rude, obtuso. O calor é escaldante. As constantes
transformações em seus aspectos territoriais, sociais e econômicos mobilizam
uma gama de produções sobre a região. Narrada em audiovisuais, canções, livros
acadêmicos, reportagens e poesia.
A miséria e a riqueza são
paralelas. O Trem que corta quintais de assentamentos e aldeias indígenas
arrasta os minerais até São Luís. Vez ou outra por semana um Trem de passageiros
carrega pessoas grávidas de alguma esperança de trabalho ou riqueza “mágica” em
algum garimpo.
Quantos são os vagões do
Trem-Serpente? Quanto se esvai de fartura? Quanto fica em sangue e destruição?
Sobe gente!
Sobe mala
Saco
Embrulho
Caixa de papelão
Sacola
Mochila
Velhos
crianças,
Mulheres
Crianças
velhas
Gente!
Gente!Gente!Gente!
Uh! Mana.....
Versos de
Gutembeg Guerra, um paraense que nasceu na Bahia integra o
livro Trem, lançado em 2010, mas que somente agora chega ao meu “cafofo”.
Guerra é moço sabido. É professor doutor com letra de pós-graduação no
estrangeiro.
Morou na
região. Tem trabalho acadêmico e agora um poético. O Trem de Guerra goteja
inflexões sobre o cotidiano da fronteira. É simples, coloquial. Ele mesmo interroga:
um poema ou uma dor?
O saque
serpenteia na fronteira. Dessa massa trata a obra de Guerra, num trecho,
encaixa: “quem disse que o maior assalto foi ao trem pagador?”
Aos que investigam Carajás, vale conhecer a obra.
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