quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Trem de Guerra


A dinâmica marca as terras dos Carajás, sudeste do Pará. Isso desde tempos remotos. Nos dias atuais o local respira a agenda de um plebiscito que visa a emancipação da região, conhecida mundialmente pela riqueza mineral e os conflitos pela terra.

A disputa pelo território e as riquezas lá existentes mobiliza a grande corporação de mineração Vale, indígenas, posseiros, assentados da reforma agrária, fazendeiros, garimpeiros, grileiros.  É uma fronteira agro-mineral, que cimentou um desmatamento de forma sistemática a partir dos planos de integração do governo federal no século passado.  

Os rios Tocantins Araguaia aliviam um certo aspecto inóspito, rude, obtuso. O calor é escaldante. As constantes transformações em seus aspectos territoriais, sociais e econômicos mobilizam uma gama de produções sobre a região. Narrada em audiovisuais, canções, livros acadêmicos, reportagens e poesia.

A miséria e a riqueza são paralelas. O Trem que corta quintais de assentamentos e aldeias indígenas arrasta os minerais até São Luís. Vez ou outra por semana um Trem de passageiros carrega pessoas grávidas de alguma esperança de trabalho ou riqueza “mágica” em algum garimpo.  

Quantos são os vagões do Trem-Serpente? Quanto se esvai de fartura? Quanto fica em sangue e destruição?

Sobe gente!
Sobe mala
Saco
Embrulho
Caixa de papelão
Sacola
Mochila
Velhos crianças,
Mulheres
Crianças velhas
Gente! Gente!Gente!Gente!
Uh! Mana.....

Versos de Gutembeg Guerra, um paraense que nasceu na Bahia integra o livro Trem, lançado em 2010, mas que somente agora chega ao meu “cafofo”. Guerra é moço sabido. É professor doutor com letra de pós-graduação no estrangeiro.

Morou na região. Tem trabalho acadêmico e agora um poético. O Trem de Guerra goteja inflexões sobre o cotidiano da fronteira. É simples, coloquial. Ele mesmo interroga: um poema ou uma dor?

O saque serpenteia na fronteira. Dessa massa trata a obra de Guerra, num trecho, encaixa: “quem disse que o maior assalto foi ao trem pagador?”

Aos que investigam Carajás, vale conhecer a obra. 
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