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| Av Fernando Guilhon/Santarém/PA. Foto: R. Almeida |
Neguim é neguinho. É miúdo. É pouquim. Quase ninguém. Um invisível na fila do pão. A dose de pinga de cada dia ajuda na manutenção do calibre franzino. Assim como enfrentar os aperreios. Nem só de pinga vive Neguim. Vez em quando derruba uma breja. Talvez para engambelar o corpo.
Neguim tem a pele da face tostada
pelo sol e marcas de algumas quedas. Para
as batalhas diárias Neguim calça chinelo de dedo, combinando com bermuda jeans
e qualquer camiseta ao menos lavada.
Ele já puxou três anos de cadeia.
Meteu peixeira em bucho de desafeto pelas bandas de Tucuruí. Houve um tempo que peixeira e o tresoitão encarnavam
os principais argumentos na equação de diferenças de opinião na região.
Ele não deixou claro o motivo da
cizânia. E, nem se o cabra foi a óbito. Todavia, esclareceu que também morou em
Marabá. Tucuruí e Marabá integram a mesma região sudeste do Pará. Terra de valentia.
Terra de saque. É onde os fracos não têm vez.
Neguim é cabra de feira. Vende banana
onde é possível o comércio em Santarém. Corre a cidade inteira: Cohab, Mercadão
2000 e preferencialmente senta praça na Av. Fernando Guilhon. Território de
expansão do município marcado por grilagens, loteamentos, especulação, ocupação
e verticalização.
A partir da Guilhon alcança-se o
aeroporto e o centro de convenções, recém inaugurado e a PA que leva ao
território do povo Borari (Alter do Chão). Além de dois grandes mercados atacadistas, a avenida
é povoada de mercados populares e lojas de material de construção. O fluxo de
veículos é intenso. Beira a saturação.
Neguim é econômico nas palavras.Apesar de ter um cantinho em um deposito de frutas, vez em quando, dominado pelo álcool, repousa sobre a primeira banca que encontra desocupada. Ninguém bole nele.
O depósito era de um venezuelano
encorpado. Neguim conta que ele era canguinha. Não gastava com nada. Juntou um troco por vários anos e voltou para
a terra natal. Diz que juntou mais de meio milhão.
Neguim é amigo de João,
igualmente neguinho. João torce pelo Vaskin. Ao contrário de Neguim, João não
bebe nada alcoólico, apesar de já ter corrido o trecho em tudo que é tipo de garimpo
no Tapajós.
Neguim e João pareiam em idade. Casa
dos 40 anos nos costados. João é aposentado. Ao menos diz ser. Ao defender um
troco em carpintaria sofreu um acidente que desgrenhou os dedos da mão direita.
Neguim chama João de puxa saco. Faz
poucos dias o ex garimpeiro e auxiliar de carpinteiro pegou um pé na bunda da
parceira. Neguim diz que era uma mulher enormeeeee.
Além da aposentadoria, João
negocia umas quinquilharias na porta de um comércio. Caixinhas de som,
carregador de celular, lanterna, óculos escuros, boias para veraneios e praias.
A contrapartida da licença é ele ajudar em algumas tarefas.
Neguim quando carente de um xodó
afronta o Mercadão. Paga umas brejas maneiras para a dama.E, alguns croquetes depois, avança
para o quarto. Honra a chave da casa e o prolabore da moça. Ele diz que é mais
de cem contos a missão. Mas, ele paga meia.
Sequim completa o trio ternura. Soma
mais de 60 verões. Faz jus ao apelido. É do Maranhão. Defende-se como estivador
e negociante de frutas. Raro usar camisa. Tal Neguim, tem na pinga o socorro de lonjuras,
tristezas e alegrias.
Tem, tem, tem três neguins....todos
em Santarém...a se defenderem das intempéries do jeito que é possível....esses
dias o calor tá de matar.







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