quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Caso Dezinho: 22 anos após morte do sindicalista em Rondon do Pará, intermediário é condenado a 16 anos de prisão

Rogério Dias intermediário da morte de Dezinho foi condenado a 16 anos de prisão. Dias é  irmão do pistoleiro Wellington, foragido de Justiça, junto com Igosmar, primo e também mediador da execução do sindicalista. 


Cartaz produzido quando do assassinato de Dezinho/Arquivo da CPT de Marabá/PA

Morosidade, negligência em investigação, quando não conivência com os acusados são elementos que integram o contexto sobre os assassinatos contra os defensores da reforma agrária, meio ambiente e direitos humanos na Amazônia. Uma permanência constitutiva nos projetos de desenvolvimento impostos à região.

Assim, no mesmo dia da condenação Rogério de Oliveira Dias a 16 anos de prisão, em Belém, no dia 13, por ter intermediado a execução do sindicalista José Dutra Costa, o Dezinho, morto em novembro de 2000, no Bico do Papagaio (fronteira do Maranhão, Tocantins e Pará) o militante do MST, Raimundo Nonato Silva Oliveira era assassinado. Rogério estava foragido, e foi preso em 2020.

Como no caso de Dezinho, o ativista do MST foi morto em casa.  O Bico do Papagaio é a região considerada a mais letal na luta pela terra no País. A certeza da impunidade incentiva a continuidade das mortes.

A morte de Dezinho poderia ter sido evitada. Assim tantas outras.  O nome do sindicalista constava em uma lista de ameaçados de morte por grileiros, madeireiros e pecuaristas da região. As autoridades tinham conhecimento do fato. Nada fizeram para evitar.  Os crimes sucederam, chacinas e execuções. A exemplo da morte do casal de extrativistas na cidade de Nova Ipixuna, nas proximidades de Marabá, José Cláudio e Maria, em 2011, e a chacina de Pau D´arco, em 2017, e em seguida o assassinato da principal testemunha do caso, Fernando Araújo, em 2021.

Maria Joel assumiu a bandeira do marido Dezinho. E desde sempre anda com escolta policial por conta das constantes ameaças de morte.  Por ocasião do lançamento do livro Luta pela terra na Amazônia: mortos na luta pela terra! Vivos na luta pela terra!, em julho, na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), em Marabá, sudeste do Pará, dois PMs a acompanhavam a sindicalista. Dona Joel assina junto com a filha Joélima um relato sobre Dezinho.  A obra é de acesso livre.  Acesse AQUI

Caso Dezinho

O sindicalista foi assassinado na porta de casa no município de Rondon do Pará, sudeste do estado no dia 21 de novembro de 2000. 2 mil reais era o valor estipulado para missão conferida ao pistoleiro Wellington, então com 19 anos, vindo da Bahia por encomenda do consórcio de fazendeiros organizado na cidade. A mobilização em consórcio para diluir custos e responsabilidades, e a estratégia em orquestrar inúmeros mediadores é recurso em dificultar as investigações policiais sobre a cadeia criminosa que mata os defensores da reforma agrária, meio ambiente e direitos humanos.

No caso do Dezinho, além de Rogério e o irmão Wellington, que disparou três vezes contra o sindicalista, foi preso por populares logo após o evento por conta de Dutra, ainda que baleado, ter brigado com o pistoleiro, que caiu em um buraco.  Consta ainda na cadeia do baixo clero do crime Igosmar, primo dos citados acima, e o capataz de fazenda Domício Souza Neto, absolvido em 2013.  Wellington e Igosmar estão foragidos da Justiça.

Os fazendeiros Lourival de Souza Costa ao lado Décio José Barroso Nunes são acusados de mando do crime contra Dezinho. O primeiro foi absolvido em 2013, já o segundo foi condenado a 12 anos de prisão em 2019. Todavia, responde em liberdade.   Delsão, como é notabilizado o fazendeiro e madeireiro Barroso é conhecido como o mais violento na cidade de Rondon. Sobre ele pesam outras acusações de morte.

Operaram na acusação contra o intermediário Rogério pelo Ministério Público do Pará, o promotor Edson Augusto Souza, auxiliado pelos advogados Marco Polo, da Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos do Pará (SDDH), José Batista Afonso, Comissão Pastoral da Terra (CPT), de Marabá e Rogério Silva. O júri foi presidido pela juíza Sarah Rodrigues, que proferiu a sentença por volta das 16h.

 

Veja o documentário sobre Dezinho produzido pelo cineasta e professor Evandro Medeiros AQUI

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