
Charles Trocate, coordenação nacional do MAM. Foto: redes sociais
Poeta, filósofo e doutor Notório
Saber em Geografia Humana pela Universidade Federal da Bahia, (UFBA), professor
visitante no Instituto de Geociências, e da Direção Nacional do Movimento pela
Soberania Popular na Mineração-MAM, Charles Trocate traça nesta entrevista um
rápido panorama dos nossos impasses sobre crise climática e a dívida ecológica.
Neste dedo de prosa, Trocate mobiliza elementos para uma crítica da razão
capitalista, que separou indivíduo e da natureza. Nesta direção, contabiliza a
origem da nossa crise de desenvolvimento pela abundância de natureza dos anos
de 1990 para cá. E, por fim, discorre sobre o problema mineral brasileiro, de
como ele está incontrolável em relação à economia, a natureza e a sociedade.
Alerta que é urgente a organização de uma Conferência Nacional sobre o modelo
mineral brasileiro.
Blog Furo: Charles Trocate, qual
o panorama da crise ecológica e os rebatimentos na sociedade Brasileira?
Charles Trocate: Veja, o estado
do capital é global, a esta altura não há lugar no mundo em que ele não
condicione de algum modo as relações sociais. E ele é global exatamente pela
desordem que ele provoca. O espírito do capitalismo é a desordem e
aniquilamento. Esse diagnóstico já sabemos. No entanto, e este dado não é novo,
é para onde vamos? Tenho dito e acredito dessa forma que se humanamente nós
chegamos até aqui, que socialmente produzimos este individuo, ou se quisermos
especificar, este homem burguês, cheio de penduricalhos privados, este
comportamento social, que podemos denominar de civilização do consumo, baseadas
na propaganda e no credito, só humanamente sairemos destes condicionamentos
orquestrados pelo regime de poder. A ordem das questões é como sair do
labirinto, como acumular força para tal?
Mas pelo menos três questões
devemos levar em conta. Ao invés de
analisar que há uma crise política, ecológica, econômica e social, deveríamos
rapidamente situá-la em sua totalidade. A crise é da razão capitalista razão
que sistematicamente separou indivíduo e natureza pela rolagem perpétua do
capital, esta fórmula social, de extração, transformação e consumo. Criação de
novas necessidades e de novo a rolagem se externaliza, ou se muda por completo,
ou se é aniquilado. Não se pode controlar as partes. Imaginando construir a
partir disso outra sociabilidade, outro senso comum. Neste caso, para o
argumento não ficar pela metade de todas as fases do capitalismo, quem mais
aprofundou esta operacionalização do capital foram as fases do seu
desenvolvimento monopolista e imperialista, tendo os EUA desempenhado papel
fundamental nesta última. Mas hoje a tônica dos EUA é a antiglobalização, com
um governo nativista e nacional chauvinista. Uma segunda questão é a de que
para levar adiante essa perspectiva, o capital como produto das relações
sociais maximiza as inúmeras funções do Estado, aquelas que neste momento, no
nosso caso de Estado subalterno e subsoberano, objetifica a natureza,
cientifica e precifica a natureza. Nesta
exata conjuntura, o Estado e a sua representação formal, governo e congresso
decidem por quanto vão precificar a natureza. Neste caso os minerais
necessários a expansão energética global, veja o caso da recente decisão para a
extração de petróleo na foz do Amazonas.
Blog furo: e a terceira questão?
Charles Trocate: Sim, claro, ela
diz respeito de que a inevitabilidade da razão capitalista, assim posta nos
levou a esta crise sentida em todos os seus aspectos, e daí duas grandes
formulações decorrem para explicá-las. Entramos no antropoceno, período geológico
quando um ser humano genérico mudou a idade geológica da terra mais do que todas
as forças naturais juntas, ou a que afirma que ao invés, estamos no
capitaloceno, de que se há um modo de produção social que mais moldou o mundo a
sua imagem e semelhança. Em face que sua forma de ser provocou rupturas e
fissuras metabólicas a vida planetária este modo é o capitalismo em que o
desenvolvimento das forças sociais produtivas e as revoluções tecnológicas e o
descontrole delas extrapolaram o limite natural do planeta terra. Estamos vivendo a sexta extinção em massas,
nenhuma antes, foi provocada pelos humanos, esta sim.
Blog Furo: quais destas
implicações sentimos, mais a fundo, em especial no Brasil?
Charles Trocate: Devemos recordar
que aderimos ao neoliberalismo nos anos 1990 e executamos profissionalmente os
seus termos, privatização do estado público, adesão ao rentismo, a implosão da
natureza brasileira pelas commodities. Isso
não é pouca coisa. Isso é exatamente a linha de demarcação da crise climática e
social e do colapso ambiental radicalizado que estamos vivendo. Isto tudo junto
vai caracterizar melhor os impasses e eles são assombrosos. Eles derivam da
taxa de lucro crescente as do capital sobre economias nacionais. No brasileiro,
em forma de pagamentos de juros que imobilizam e deterioram as funções do
Estado e de governos. Colapso ambiental em face do modelo econômico, gestão da
crise por medidas paliativas e adesão voluntária às políticas imperialistas.
Além disso parecem não ter nexos a vida boa das elites mediante o sofrimento da
população.
Blog Furo: Então vamos lá,
transição ou expansão energética?
Charles Trocate: Terminamos o
século vinte com o argumento de que o planeta estava esquentando e era preciso esfriá-lo.
A forma para isso era combinar esforços globais. A tese, ou a vontade escolhida
em comum acordo era de esfriar o planeta aos patamares dos anos de 1900,
diminuir até 2050 dois graus Celsius. E, assim , descarbonizar a indústria
mundial, e para isso o método escolhido foi realizar a “Conferência das
Partes”, a que ocorrerá em Belém, no próximo mês será a de número 30. O ânimo
para algum acordo satisfatório é baixíssimo. No entanto, como léxicos
dominantes começamos a repetir dois novos conceitos políticos que nada dizem
sobre a nossa sociedade, o da “emergência climática” e o da “transição
energética”. Eles sustentam ideologicamente a premissa de “adaptação às
mudanças climáticas” e a “mitigação dos danos”. O clima, assim como o território
é uma produção social. O uso desigual do
clima é uma decisão política e isto se consolida cada vez mais no paradoxo da
descarbonização, descarbonizar para que? Para o livre arbítrio da mercadoria e
da financeirização? Estamos sequestrados por esta perspectiva, e devemos
urgentemente sair dela, pois está posta por inúmeros organismos hegemônicos
como a única saída e não será. A urgência não é interrogar o futuro, mas de
saber que o passado está ficando grande demais em relação a ele. E, aqui entra
o negacionismo e o nacionalismo climático como medida absoluta para nos dizer
que o capitalismo é eletrointensivo no uso de energias, e que não haverá acordo
algum. Cabe a nós saber que a ordem dos
fatores, para além de longas explicações, que não precisamos mudar de fontes
energéticas precisamos mudar o sistema que fagocita as energias vitais da
terra. O multilateralismo precisa mudar de forma para mudar de conteúdo. A
prerrogativa aqui se inclui, a delicada
situação da geopolítica internacional, a vigência de novos consensos que
ultrapasse as marcas nada auspiciosas do presente.
Blog Furo: e neste amaranhado de
coisas como fica as Amazônias?
Charles Trocate: Pois bem, acaba
de ser lançado um livro e de caráter dominante sobre a “Nova Economia da
Amazonia”. Ele deduz a região à economia. Os argumentos giram sob o tripé,
bioeconomia, mineração inteligente e agronegócio. Isso é espantoso. A Amazônia
ou as Amazônias, como preferia o professor Carlos Walter Porto Gonçalves, nesta
etapa de acumulação capitalista é funcional ao sistema mundo de produção de
mercadorias. Ela está encurralada por esta perspectiva e pesa o fato, de estas
reverberações estarem em sintonia com os modelos hegemônicos de transição
energética, na política e nos investimentos transnacionalizados. Sobretudo
agora, muito se tem dito e muito se argumentará sobre o lugar da região e da
floresta no equilíbrio do clima. A floresta é construção social e o resto é
balela, mas, são estonteantes os dados que a modernidade da supressão lhe impõe.
Há mesmo uma dívida ecológica incalculável com a região, e que é tão pouco a ideia de chegamos
ao ponto do não retorno da floresta. A Amazônia se transformou numa zona de
acumulação intensiva de capital. A literatura indica que é preciso ir além, não
por ser um depositório de carbono espetacular, mas o de produzir rios voadores,
cuja as consequências, entre elas, a de se conectar com os demais biomas entre
outras virtuoses. Neste ponto até poderia ser emblemático. Até poderia ser
interessante a realização da Conferência das Partes, a COP30, na Amazonia. Mas, as contingências do modelo tornam isso um
desprestígio para a região, quando a interrogação não passou se Belém tinha ou
não condições para realizar tal evento. Perdemos tempo demais neste ponto. E, eles
venceram, não porque vão boicotar, seja ela pela discussão, seja na não discussão.
Contudo, os adventos que levaram a decisão da COP30 ser realizada na Amazônia
são os mesmos que valeram quando ela for em qualquer lugar. Não existe uma
sintonia com a realidade do que podemos chamar de ruptura metabólica global!
Blog Furo: E o problema mineral
brasileiro, quais são as tarefas do
Movimento pela Soberania Popular na Mineração diante da intensividade da
indústria extrativa da mineração?
Charles Trocate: Veja, de maneira
exemplificada, podemos dizer que o problema mineral brasileiro tem três
características imediatas. A de ser organizado sempre de fora para dentro. Ele
é estruturado na sua forma de decidir sempre de maneira antidemocrática e por
consequência, seja lá onde for a decisão de implementá-lo, gerar o
desenvolvimento do subdesenvolvimento. São
estas características que vão fazê-lo desde que vendemos o modelo estatal em
1997, esta incontrolável a economia, a natureza e a sociedade na sua forma e
nos seus resultados. Exatamente por isso, dizemos que o problema mineral
brasileiro produz afetações na economia nacional, a minério dependência nas
zonas de mineração, ao mundo do trabalho da mineração e aos consumidores. Uma
vez que quem consome não pode ficar ileso de como os minerais são arrancados do
subsolo. De maneira geral saímos do nosso II Encontro Nacional, realizado este
ano, refletindo sobre os novos e velhos
impasses dos minerais críticos, a guerra da transição energética afirmando a
necessidade de debater com a sociedade a função social do subsolo. Acrescentamos a necessidade de uma
geodiversidade popular, ou seja, a garantia para fins não mineráveis de quem
tem a posse do território, possa ter do subsolo também. A nossa política permanente reside em territórios livres de mineração, a
democratização da renda mineral e o controle público do modelo mineral. E para
esta conjuntura mensurar a necessidade pelas características dos debates e das
proposições em relação aos minerais críticos a expansão energética o papel de
uma Conferência Nacional sobre o setor de uma realidade que diz respeito a
sociedade brasileira, em um dos muitos que seus resultados poderiam produzir,
sobre escala e ritmo da mineração, era de um conselho ampliado para reorganizar
a política mineraria nacional.






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