A lancha é de fibra, que reduz pelo menos pela metade a jornada
realizada pelos barcos convencionais, estimada em 9, 10h. A depender das intercorrências da natureza ou de problema técnico da máquina. As lanchas, as balsas de soja, os barcos convencionais, os ferryboats e navios
encarnam diferenciação/ totalidade dos circuitos concorrentes: o do grande capital e da economia local.
Um navio acabou de cruzar o nosso caminho. Nas Amazônias, há sempre um navio a cruzar o caminho. Quando não, um trem, carretas bitrem. Tempo agoniado. Ao contrário da lancha
que faz o trecho para o município de Alenquer, a que leva até Oriximiná o serviço
de internet exige uma taxa extra além da passagem. Ainda que as lanchas sejam da
mesma empresa. Tá certo isso Arnaldo??
Um colega de firma informa que esteve em Almeirim. 20h a viagem em
barco convencional. Já estive por lá. A cidade abriga um grande empreendimento
de plantas exóticas para a produção de celulose. Trata-se do Projeto Jari,
implantado nos anos 1960.
Uma parada da ditadura a favorecer o multimilionário Daniel Ludwig.
Lúcio Flávio Pinto assina uma obra sobre o infortúnio. Já em 1930 Ford há havia sentado praça nas paragens.
Francisco de Assis Costa argumenta tratar-se da primeira experiência
essencialmente capitalista na Amazônia.
Ao longo de quase 100 anos, o capital sentou praça na região. A
questão mais recente são os portos nos municípios de Santarém e Itaituba. Tudo em total indiferença às leis. Vale o muque
do capital. O interesse privado em detrimento do interesse público.
Um exemplo vale ser sublinhado, o caso do porto da Cargill no
município. Ele foi erguido na força bruta sem respeitar os procedimentos de licenciamento
ambiental, e apossou-se de parte de um sítio e de uma praia. Os cardeais da Ford, Jari e Cargill nunca
pisaram em terras “selvagens”.
A lancha é confortável e limpa. O ar-condicionado funciona. Assim
como as tomadas para os equipamentos eletrônicos. TVs exibem filmes
aleatoriamente. Agora tá passando Rei Leão.
Parada em Óbidos. Comenta-se que é o carnaval mais animado da
região. Alojamento é disputado na peixeira e no tapa. Todavia, antes de tudo é
a terra de Inglês de Souza. É mister visitar a sua obra para a compreensão
sobre as conformações de poder no século XIX.
Trata-se de literatura de verve sociológica. Ainda que de feição conservadora, nela podemos compreender as estruturas de poder daquele período:
senhores de terras, fazendeiros de cacau, senhores de escravos, a Igreja, a
Junta Governativa e toda ordem de preconceito contra a Cabanagem e seus protagonistas,
que levantaram-se contra todas as formas de abusos das estruturas coloniais e de hiper exploração.
Coronel Sangrado, O Cacaulista, Contos Amazônicos e O Missionário
são alguns dos livros do jurista e político, que desde cedo pegou o beco da
região. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Assim como
Veríssimo, seu conterrâneo e contemporâneo.
Perto das 19h o sol ainda teima no horizonte. Estamos prestes a aportar
em Oriximiná. O fim da linha do destino da embarcação é em Trombetas, que abriga o projeto de mineração.
Nestas paragens a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com outras
estrangeiras faz uma debate sobre as mazelas da atividade. Uma toada colonial.
Daqui a pouco Docinho chega. Daqui a pouco a gente volta para a base. E, pega o rumo para outra latitude do estado, quase sempre marcada pela racionalidade do saque. Desde tempos imemoriais.
Oxalá, a turma seja legal. A turma é legal!!! É carnaval!!! Tem gente de tudo que é lado. Até daqui dos costados.
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