quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Rumo à Oriximiná.....

E lá vai a gente travez...agora via fluvial, rumo à Oriximiná, por entre os rebojos do Amazonas, Trombetas... Território de aquilombação, que desde os anos de 1980 experimenta as mazelas da mineração. Não ocorrendo nenhum problema, conseguimos chegar às 19h.

A lancha é de fibra, que reduz pelo menos pela metade a jornada realizada pelos barcos convencionais, estimada em 9, 10h. A depender das intercorrências da natureza ou de problema técnico da máquina. As lanchas, as balsas de soja, os barcos convencionais, os ferryboats e navios encarnam diferenciação/ totalidade dos circuitos concorrentes: o do  grande capital e da economia local.

Um navio acabou de cruzar o nosso caminho. Nas Amazônias, há sempre um navio a cruzar o caminho. Quando não, um trem, carretas bitrem. Tempo agoniado. Ao contrário da lancha que faz o trecho para o município de Alenquer, a que leva até Oriximiná o serviço de internet exige uma taxa extra além da passagem. Ainda que as lanchas sejam da mesma empresa. Tá certo isso Arnaldo??

Um colega de firma informa que esteve em Almeirim. 20h a viagem em barco convencional. Já estive por lá. A cidade abriga um grande empreendimento de plantas exóticas para a produção de celulose. Trata-se do Projeto Jari, implantado nos anos 1960.

Uma parada da ditadura a favorecer o multimilionário Daniel Ludwig. Lúcio Flávio Pinto assina uma obra sobre o infortúnio. Já em 1930  Ford há havia sentado praça nas paragens. Francisco de Assis Costa argumenta tratar-se da primeira experiência essencialmente capitalista na Amazônia.

Ao longo de quase 100 anos, o capital sentou praça na região. A questão mais recente são os portos nos municípios de Santarém e Itaituba.  Tudo em total indiferença às leis. Vale o muque do capital. O interesse privado em detrimento do interesse público.  

Um exemplo vale ser sublinhado, o caso do porto da Cargill no município. Ele foi erguido na força bruta sem respeitar os procedimentos de licenciamento ambiental, e apossou-se de parte de um sítio e de uma praia.  Os cardeais da Ford, Jari e Cargill nunca pisaram em terras “selvagens”. 

A lancha é confortável e limpa. O ar-condicionado funciona. Assim como as tomadas para os equipamentos eletrônicos. TVs exibem filmes aleatoriamente. Agora tá passando Rei Leão.

Parada em Óbidos. Comenta-se que é o carnaval mais animado da região. Alojamento é disputado na peixeira e no tapa. Todavia, antes de tudo é a terra de Inglês de Souza. É mister visitar a sua obra para a compreensão sobre as conformações de poder no século  XIX.

Trata-se de literatura de verve sociológica. Ainda que de feição conservadora, nela podemos compreender as estruturas de poder daquele período: senhores de terras, fazendeiros de cacau, senhores de escravos, a Igreja, a Junta Governativa e toda ordem de preconceito contra a Cabanagem e seus protagonistas, que levantaram-se contra todas as formas de abusos das estruturas coloniais e de hiper exploração.

Coronel Sangrado, O Cacaulista, Contos Amazônicos e O Missionário são alguns dos livros do jurista e político, que desde cedo pegou o beco da região. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Assim como Veríssimo, seu conterrâneo e contemporâneo.

Perto das 19h o sol ainda teima no horizonte. Estamos prestes a aportar em Oriximiná. O fim da linha do destino da embarcação é em Trombetas, que abriga o projeto de mineração. Nestas paragens a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com outras estrangeiras faz uma debate sobre as mazelas da atividade. Uma toada colonial.

Daqui a pouco Docinho chega. Daqui a pouco a gente volta para a base. E, pega o rumo para outra latitude do estado, quase sempre marcada pela  racionalidade do saque. Desde tempos imemoriais. 

Oxalá, a turma seja legal. A turma é legal!!! É carnaval!!! Tem gente de tudo que é lado. Até daqui dos costados. 

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