Não combina a
dor com o meu carnaval, ainda que a estrada que leve ao Paraíso seja repleta de
armadilhas, percalços e desprovida de asfalto.
É de barro o chão do Eden. Amarelo. Amarelinho, tal as águas do
Amazonas.
Águas de chuva,
águas de esgoto correm por entre as suas voçorocas da inquietude. Em gesto de
teimosia, apesar das imundícies, germinam flores de Amsterdam em alegria. A
alegria é um ato de amor, por mais obscuro soe o horizonte.
Noite alta.
Corações ao léu, sob o sereno o Homem da Meia Noite e a Mulher do Meio Dia a
caçarem o canto para um remanso. Um chamego. Um dengo. A ternura vence o
cansaço. Amar é ponte. É potente. O choro da cuíca convida ao baile. Aquece o
peito. Gostoso como uma comida quente.
Comida quente é
que tem mais sabor. O sabor das bocas em festa não se taxa. Não tem preço. Vale
o apreço. É ginga, é malícia, pés descalços. É tesão, é cerveja, é beijo, é
calor. Coração aquecido. Panos quentes
cura qualquer dor.
A boca na boca.
A boca na nuca. A boca na mama. A boca em todo canto entope o coração de festa.
A boca cheia de fome devora o sexo. Dança em rejubilo sobre as cinzas da quarta
feira. E, logo cedo, ao invés de café, sorve uma breja ao som de um samba de Dona
Ivone. Mas, poderia ser Cartola.
A madrugada anuncia
o nascer do dia. Felinos em telhado de zinco quente a danar em carícias.
Naquele momento, nenhuma guerra ali prospera. Importa quase nada a porta do
hotel lacrada por lotação, e a outra por negligência. Urge o carinho. Madrugada
adentro tonteiam os felinos de rua em busca de abrigo. Chove lá fora.
Todos foram
expulsos do Paraíso. É imposto ganhar os dias com o fruto do suor. No Paraíso o
amor e o sexo são punidos com o trabalho. O trabalho é castigo. Os felinos
conspiram em favor da preguiça. Chamegos e delícias em estandarte mais elevado
anuncia o bloco dos irrecuperáveis de afeto.
A madrugada assanha
o corpo vencido de amor. Um toque. Um cheiro. O bloco na rua. Ela esguia. Toda
nua. Dança. Esquiva-se das nuvens cinzas. Cheiro de sapoti. Carne de caju. Ri,
chora, beija, goza. Estrebucha de prazer. Cachaça a lanhar a goela. Pimenta
espremida no prato. Égua no cio.
É um querer bem
a vida. Em variadas arenas o riso segue a combater o tédio dos dias.
Alvorada, na
encruza é uma beleza. Não há tristeza! O sol a tudo colore: pandeiros,
terreiros, ancas, risos, folhas, frutos, plantas, ebós, ratos, cães e gatos.
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