Educador compromissado com a comunicação popular, Wilson apresenta livro resultado de tese apresentada na PUC
O sentido da ágora grega incorporado aos debates sobre a cidade
travados no rádio é o tema central do livro “Ouvintes falantes: produção e recepção
dos programas jornalísticos no rádio AM”, de autoria do professor doutor Ed
Wilson Araújo, do Departamento de Comunicação Social (DCS) da UFMA
(Universidade Federal do Maranhão).
A obra, publicada pela editora Appris, será lançada durante a programação do XI Ciclo de Debates do Obeec (Observatório de Experiências Expandidas em Comunicação) dia 5 de abril (quarta-feira), 18h30, no Solar Cultural Maria Firmina dos Reis. O Obeec, formado por docentes do DCS, dedica-se à pesquisa e produção de artigos e livros sobre práticas culturais, narrativas expandidas, comunicação, poder e cidadania.
Fruto da tese de doutorado em Comunicação, realizado na PUC do Rio
Grande do Sul, o livro é um apanhado da vivência do autor no rádio AM,
cultivada no hábito de ouvir a programação jornalística em diferentes etapas da
vida, até o momento de transformar o interesse pela audiência em pesquisa
acadêmica.
“A minha condição de ouvinte foi se modificando com o tempo. Quando
eu trabalhava na feira do João Paulo, na quitanda do meu pai, Raimundo Araújo,
eu ouvia os programas despretensiosamente. Depois, já formado em Jornalismo,
trabalhei em assessorias de comunicação e uma das minhas atividades era
monitorar os programas jornalísticos. Percebi nesse período outra relação minha
com o radiojornalismo e quando chegou o tempo de fazer o doutorado processei o
tema em objeto científico”, resumiu o autor.
Durante a produção da obra, Ed Wilson Araújo ajustou o trabalho aos
Estudos Culturais latino-americanos, tomando como principal referência o
protocolo teórico-metodológico do Mapa das Mediações, criado por Jesus
Martín-Barbero.
No Maranhão, o rádio AM tem uma peculiaridade forte – a
participação da audiência nos programas jornalísticos – motivando até a criação
de uma entidade própria denominada Somar (Sociedade dos Ouvintes Maranhenses de
Rádio).
A prática cultural da audiência se expressa nas diversas formas de
agir nos programas, por meio de mensagens de voz, texto, envio de imagens ou
ligação telefônica para falar ao vivo nas transmissões. Para entender esse
fenômeno, o trabalho de campo selecionou dois programas (Ponto Final, da
Mirante AM, apresentado por Roberto Fernandes; e Manhã Difusora, da ex-Difusora
AM, liderado por Silvan Alves), além das entrevistas com ouvintes. Os apresentadores,
já falecidos, são motivo de saudosa referência do autor para dois ícones do
rádio no Maranhão.
No percurso da pesquisa, o autor capturou os sentidos da audiência
nas mediações que permitiram interpretar os ouvintes nos seus rituais de escuta,
nas formas de participar e estar juntos pelas ondas sonoras, no uso da retórica
para intervir nos programas e na compreensão de que a ação da audiência se dá
em contextos institucionais e de controle empresarial das emissoras de rádio.
Segundo Araújo, os programas jornalísticos, de certa forma, revelam
características semelhantes à ágora grega. São espaços de diálogo, debates,
convergências e divergências sobre a cidade. Os ouvintes, aos participarem dos
programas, interpretam papéis e funcionam como repórteres informais,
promotores, juízes, parlamentares e gestores.
O rádio se transforma em uma espécie de ágora eletrônica,
convergindo para os programas jornalísticos a participação da audiência em
diálogo com os apresentadores e as fontes. Ao longo dos programas, os ouvintes
tomam posição, criticam, elogiam, aderem, conflitam, bajulam, atacam ou
defendem ideias, pontos de vista, gestores e demais entres públicos e privados.
Tudo isso mediado pelo apresentador e pelas circunstâncias de controle do poder
pela emissora.
“O livro tem um valor de memória, considerando que as emissoras AM
estão migrando para FM. Entrego também no livro uma atualidade; ou seja, a
proposta de manejar o mapa idealizado por Martin-Barbero, conectando os
momentos e as mediações no movimento da recepção como parte da produção. Elas
são intrínsecas e dialeticamente relacionadas”, pontuou o pesquisador.
Produção acadêmica
Esse é o terceiro livro do autor sobre rádio. O primeiro é fruto da
dissertação de mestrado em Educação na UFMA: “Rádios comunitárias no Maranhão:
história, avanços e contradições na luta pela democratização da comunicação”.
Na segunda publicação, de autoria coletiva, Ed Wilson Araújo é um dos
organizadores. A obra analisa a formação do bairro Anjo da Guarda pela
perspectiva de duas experiências radiofônicas: “Vozes do Anjo: do alto-falante
à Bacanga FM”
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