domingo, 21 de fevereiro de 2021

Tudo escuro ao redor

 

6h da manhã. Tudo escuro ao redor. Mangas no chão do caminho até a padaria. Pão doce para Docinho. Na copa das mangueiras garças aninhadas. Lembra véu de noiva. Sobre o asfalto o branco de fezes das aves impera. No meio fio o esgoto corre para o rio. Cachorros latem ao longe. Mio de gatos em cio. Telhados. Nada de eira, nem beira. Matos em telhas.

A cidade acaba de sair da bandeira preta da pandemia. Soma perto de 600 mortos. Famílias em luto. Governo de antas. Uns bostas. Incertezas. Avizinha-se de Manaus a cidade

Orvalho nos meus olhos. Na parte superior de prédio ecoa um som alto dos tempos da discoteca. Ruas vazias. Um segurança atravessa a larga avenida sem pressa. Segue de bicicleta rumo ao trabalho.

Feira da Candilha. Tudo quieto. Silêncio quebrado pelas sirenes de ambulâncias e das viaturas de polícia. O som potente de um carro explode como se bomba fosse. Sertanejo. Uma praga daninha. Danosa. Ao redor, hospitais, laboratórios e delegacia de polícia. Vargas com Silvino Pinto. Encruza. Ah, tem o comércio do senhor Alves e pés de cabaça. Alves vende de tudo, de pão a parafuso.

Espio os postes. Monte de fios em nós. Estranha rede. O advento da fibra ótica transformou as estruturas. Soa como uma intervenção artística. Aquelas que a gente não entende nada. O sentido da coisa.  Tudo entrelaçado. Lembra o cu do diabo ou da gia, diria Mainha.

Frestas de luz no céu da cidade. Passa um pouco das 6h. Caminho sem pressa. O asfalto além de mangas caídas e fezes de garça, guarda os sinais da chuva da madrugada. Uma serenata. Bom para dormir. A chuva da madrugada abole o uso do ventilador. A chuva da madrugada acalenta a alma.

Domingo. A chuva agiganta a preguiça. Espio Ouricuri, documentário sobre João Vale. Comovido. 

 

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