O professor de Geografia da Unifesspa analisa a conjuntura baseada em exportação de produtos primários, e a indica como um dos vetores de expansão do fascismo do país
Por
Bruno Malheiro
Há
dois anos, após o fim do primeiro turno das eleições de 2018, ficava desenhada
para nós uma geografia do fascismo no Brasil, pela impressionante semelhança de
dois mapas: o da votação do atual anti-presidente que nos governa e o da
expansão de commodities, como a soja, o milho, entre outras! Tínhamos ali a
exata noção que a expansão do capitalismo de fronteira é, também, de um gosto
musical, de um sabor, de um modo de se vestir e se comportar, enfim, de um modo
de vida violento e absolutamente refratário à diferença!
A
expansão do fascismo no Brasil, portanto, tem tudo a ver com a expansão
aviltante das commodities no campo, assim como também tem a ver com a
banalização da violência e a expansão do mercado da morte pelas milícias nas
cidades! A geografia do fascismo coincide com uma certa geografia da destruição
da experiência. Parece mesmo que a tempestade do progresso realmente nos levou
à catástrofe, como já havia alertado Walter Benjamin, como um “aviso de
incêndio”!
Passados
dois anos, novas eleições, agora municipais, e vivemos o momento de
consolidação da institucionalização da necropolítica, que iniciou sua escalada
de corrosão de todas as instituições democráticas brasileiras, nas fatídicas
eleições de 2018. De lá pra cá, mais de 150 mil mortes (que podem ser colocadas
na conta desse governo negligente e absolutamente irresponsável) e todos os
nossos biomas ardendo em chamas, não foram suficientes para uma mudança na
percepção política geral! Pelo contrário, a subjetividade fascista parece se alimentar
de morte, fogo e destruição, e não é que os candidatos que representam o
necrocapitalismo que se instituiu pós-2018, ainda têm força na maioria das
nossas cidades, basta vermos os 118 políticos com multas ambientais que
disputam prefeituras na Amazônia, segundo levantamento da agência pública.
Estamos
diante da possibilidade real de consolidação do que se iniciou em 2018, o que
fica bem claro quando as quatro principais bancadas, que expressam bem nosso
capitalismo rentista de morte, a dos bancos, a da bala, a do boi e a da Bíblia
(isso para não falar da bancada da bula que vem se consolidando pela influência
dos laboratórios farmacêuticos na política institucional), lançam seus
candidatos!
De
forma diferencial, cada bancada se dissemina no territorio a partir de uma
racionalidade que lhe é própria: a bancada dos bancos, que se nutre da
destruição de todos os bens públicos e/ou coletivos, se vê mais presente nas
nossas maiores metrópoles, que são nossos centros financeiros, e haja campanha
financiada; a bancada da bala, que se nutre do mercado da morte e da exploração
rentista das periferias, segue os índices de violência, geralmente em grandes e
médias cidades; a bancada do boi, que ganha com a renda da terra, a renda
mineral..., alimenta-se de um patrimonialismo político que, em alguns casos,
está consolidado em grandes cidades, mas é bem comum em pequenas e médias; e a
bancada da Bíblia, rentista como as outras, surfa no mercado da fé e parece se
pulverizar seguindo os rumos de influência geográfica das igrejas que
representam!
Mas
todas essas bancadas têm nome e número que podemos identificar, seja quando
formos votar para prefeito, seja para vereador.
Segundo
um levantamento do início de 2020 do Congresso em Foco, são os partidos abaixo
listados, com seus respectivos números e porcentagem de fidelidade a esse
governo genocida, que formam a base do nosso necrocapitalismo:
19-
Podemos (92%);
51-
Patriota (90%);
17-
PSL (85,4%);
45-
PSDB (81%);
14-
PTB (78%);
20-
PSC (78%);
15-
MDB (77%);
25-
DEM (77%);
23-
Cidadania (74%);
22-
PL (74%);
55-
PSD (74%);
30-
Novo (71%);
11-
PP (67%); e dá pra colocar mais gente nessa lista:
90-
PROS;
70-
AVANTE.
Sabemos
que existem diferenças e particularidades locais dos partidos, mas,
convenhamos, devemos desconfiar de qualquer candidat@ que continue em tais
legendas, depois de tanta desgraça desse desgoverno, mesmo aceitando
pouquíssimas exceções ainda dignas!
Não
bastasse o atrelamento ao bolsonarismo, a força de muitos desses candidat@s do
necrocapitalismo, também se constrói com o jogo sujo das fake news e pelo seu
atrelamento ao consórcio de mídia hegemônica torpe que só se afunda mais ma
lama, vide o cancelamento de quase todos os debates à prefeitura de São Paulo,
após o crescimento da chapa Boulos/Erundina, os ataques virtuais a Manuela
D’Ávila em Porto Alegre, e as muitas Fakes News já inventadas contra candidatos
que se posicionam no outro extremo político desses grupos, como as já
inventadas contra Edmilson Rodrigues em Belém.
Diríamos,
então, que votar nessas eleições tornou-se um ato para barrar a disseminação da
geografia do fascismo! Temos ferramentas para avaliar se os candidatos fazem
parte dessa engrenagem de morte, e será uma opção de cada um e cada uma votar
ou não nessa máquina de moer gente!
Até
porque várias são as candidaturas que não apenas se colocam na contramão dos
representantes do necrocapitalismo, mas apresentam ideias que conseguem
conviver com a democracia, e nunca foi tão fundamental ouvir, participar e
interferir na política como agora, além, lógico, de votar em quem consegue
conviver com as diferenças, para defender o que ainda nos resta de dignidade
democrática. E nessa direção, o aumento das candidaturas de indígenas, de
lideranças populares femininas e as candidaturas coletivas são um alento!
A
força dos movimentos sociais, das feministas, dos indígenas, das lutas
populares ainda encontra espaço em candidaturas contra à barbárie, e precisamos
procurá-las no meio de tanto lixo e esgoto.
Estamos
enfrentando a catástrofe e, se em 2018, estávamos entre a democracia e o
fascismo (e escolhemos o fascismo), 2020 deixou ainda mais claro as
consequências de nossas escolhas, agora, não que antes não fosse, é vida ou
morte. Em meio ao colapso metabólico e o genocídio da pandemia, não é possível
continuar escolhendo a morte e o fascismo!
Para
não acabar essa reflexão sem uma posição clara - e se ainda importa a posição
de um professor, nesse mundo que prefere notícias falsas a qualquer análise
mais séria - eu sou Edmilson Rodrigues 50 em Belém, cidade que nasci, Rigler
50, em Marabá, lugar que moro, além de nutrir profundo respeito a Guilherme
Boulos 50 em Sampa e Manuela D’Ávila 65 em POA. E não esqueçamos que só se
governa com uma câmara de vereadores séria, então, é preciso evitar os partidos
que formam a base da nossa desgraça e dar chance aos partidos que ainda
carregam dignidade democrática!
Sabemos
que a política partidaria tem muitos límites, por isso preferimos as forças
instituintes, que vêm das lutas dos povos, às instituições e seus vícios. Mas
também sabemos como uma eleição pode interferir na nossa vida, por isso, não dá
para ser negligente, nem por radicalismo bobo, nem por radicalismo
pseudoesclarecido, precisamos devolver aos esgotos as forças milicianas que nos
governam e juntar forças para instituir caminhos alternativos, capazes de
inverter prioridades, democratizar os processos decisórios, caminhos que
estejam não na vanguarda, mas na retaguarda de quem efetivamente inventa um
mundo novo na sua persistência pela vida!
#ForaBolsonaro
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