Massacres e ataques contra sem terra marcam a história de luta pela terra no sudeste do estado, bem como a resistência camponesa
“
A gente é que nem bambu, verga, mas não quebra”. A máxima fazia parte da oratória de
sindicalistas ligados à luta pela terra na bacia do Araguaia-Tocantins. É terra
encharcada de sangue de posseiro. É terra onde mais se matou gente na peleja da
luta pela terra no Brasil desde os anos de 1980. Período considerado o mais
violento.
Passados
mais de 40 anos, a violência se mantém, a exemplo dos ataques de pistoleiros no
acampamento Hugo Chaves, na cidade de Marabá, ocorrido na madrugada do último
dia 27.
Barracos,
lavouras, roupas foram queimados e os sem terra ligados ao MST expulsos. Não é
a primeira vez que o episódio ocorre. Soma-se ao fato, a chacina de Pau D´arco,
ocorrida em maio de 2017, que terminou com o massacre de dez sem terra ligados à
Liga dos Camponeses Pobres.
Ao
se deparar com as presentes ações, soa que estamos a visitar registros de
jornais da burguesia e boletins populares que denunciaram a grilagem de terras,
violência de pistoleiros e policiais da década de 1980, entre eles o Jornal
Resistência e o Grito da PA 150, este último produzido na região de Marabá.
O cenário externaliza a fragilidade da nossa democracia. Sob o caos fundiária,
morosidade e anuência do judiciário, coerção pública e privada, endosso de
cartórios uma imensidão de terras foi grilada. Mas, apesar das adversidades,
parte deste campesinato da fronteira se territorializou.
Tanto
resultado da organização dos “de baixo”, quanto pelo movimento contraditório do
capitalismo, que o cria e recria. Ele
controla mais de 52% de mais de 30 municípios do sul e sudeste do estado Pará.
São mais de 500 projetos de assentamento.
Assim, sob
o decreto de número 3938, no dia 15 de janeiro de 1987, numa área de 5.058.4728
hectares foram assentadas 92 famílias do que veio a ser o primeiro PA da
reforma agrária no sudeste do Pará, o Castanhal Araras, localizado no município
de São João do Araguaia. Dava-se o
início da desconstrução do que ficou conhecido como polígono dos castanhais. Fruto
de atos de ocupação por posseiros da terra indígena do povo gavião e inúmeros
acampamentos em órgãos públicos.
Cupuaçu,
castanha do Pará, pupunha, açaí constavam na flora do lugar. Um experimento de
modelo de organização social e política através de fomento de caixa agrícola,
organização de movimento de mulheres, realização de festival ecológico foram
realizados no PA Araras, 40 km
de Marabá. A ONG Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular
(CEPASP) foi um dos principais animadores no PA.
Pelo
pioneirismo a comunidade acabou por servir de berço a vários dirigentes que
ocuparam e ainda ocupam cargos na Federação dos Trabalhadores na Agricultura do
Pará (Fetagri) e na central de cooperativas da região. Conseguiu eleger
vereadores e até um vice-prefeito. A experiência de Araras se alastrou para os
municípios vizinhos de Nova Ipixuna e Eldorado do Carajás.
O
prognóstico na fronteira não previa a permanência do campesinato. Sucedia
afirmar que o mesmo seguiria em itinerância cedendo lugar à “eficiência
capitalista”. Mas, o que se desnudou no sudeste seguiu o sentido
contrário, partir da mediação de frações
da Igreja Católica, partidos políticos, intelectuais orgânicos, ONGs, e por aí
vai, feito bambu, que verga, mas, não quebra.
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