segunda-feira, 4 de agosto de 2025

O jornalista Alceu Castilho reflete a partida de Ariovaldo Umbelino e o silêncio da mídia corporativa

 

Foto: Alceu Castilho

O professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, do Departamento de Geografia da USP, formou várias gerações de pesquisadores em geografia agrária. A partir de uma linha teórica muito clara, que ressaltava a existência e resistência do campesinato. (Não proletários rurais. Camponeses.)
Sim, ele foi o mais importante geógrafo agrário do país, o que não é pouco em um país agrário. E um país agrário dominado por aristocracias manipuladoras e violentas. Ariovaldo não se cansava de descrever a grilagem como elemento crucial para entendermos este país.
Ele foi um teórico incisivo e decisivo, inspirado na sociologia de José de Souza Martins. E ia a campo. Correndo riscos. E ajudando os movimentos sociais a medir seus territórios. A noção de território costuma ser invisibilizada por nossas elites e era central na práxis de Ariovaldo Umbelino.
Sua morte sem referências na imprensa comercial mostra o quanto este país se tornou estúpido, o mesmo país que menciona com respeito cínico a passagem, também neste sábado, de um dos jornalistas mais inescrupulosos das últimas décadas, um golpista qualquer.
Curiosamente, eu conheci Ariovaldo Umbelino de Oliveira fazendo uma entrevista sobre imprensa e questão agrária, em 2006. Depois fui cursar Geografia e sua disciplina na pós-graduação da USP, "Agricultura e Capitalismo no Brasil", para tentar não escrever muita bobagem em meu livro "Partido da Terra".
E entrei no mestrado sob sua orientação. Cursei de novo a mesma disciplina, enquanto ele se recuperava de um AVC. Sua memória espetacular não era a mesma. Olho retrospectivamente e detecto um certo ar melancólico, alguma frustração por não ter sido realizada a reforma agrária em nosso país.
Uma das coisas que posso dizer em respeito às décadas de trabalho desse pesquisador é que o De Olho Nos Ruralistas tem na linha teórica defendida por Ariovaldo Umbelino uma de suas principais referências. Os dados — os fatos — mostram que ele sempre esteve certo.
A imprensa brasileira invisibilizou Ariovaldo durante todo esse tempo porque a ela interessa invisibilizar o território e os motivos estruturais (a grilagem, a marcha destruidora do capitalismo) da destruição dos biomas, da desigualdade e da violência no campo. Ou, em outras palavras: porque é cúmplice.
A geografia brasileira está em luto e o país deveria estar em luto.

0 comentários: