O deputado estadual Fernando Coimbra (PSD) e o prefeito Dirceu Biancardi (PSDB) comandaram a invasão e impediram apresentação de pesquisa
O
deputado estadual Fernando Coimbra (PSD) e Dirceu Biancardi, prefeito do
município de Senador José Porfírio (PSDB), sudoeste do Pará comandaram na tarde
de hoje, 29, de novembro, um grupo de cerca de 30 pessoas que invadiram
auditório da Universidade Federal do Pará (UFPA), e impediram a apresentação de
estudos sobre impactos de projeto de mineração de ouro na Volta Grande do
Xingu.
O
projeto de mineração defendido pelos políticos é da empresa canadense Belo Sun.
A empresa tomou posse de antigos garimpos em negociata considerada suspeita. A região
passa por abissais modificações.
Além
da mineração, a construção da hidrelétrica de Belo Monte reconfigurou e
continua a reconfigurar as feições territoriais, econômicas, políticas, ambientais
e sociais. Altamira, por exemplo, já é considerada uma das cidades mais
violentas do país.
O
deputado e o prefeito incitaram o grupo contra os pesquisadores coordenados
pela doutora Rosa Acevedo Marin. A professora integra o Núcleo de Altos
Amazônicos (NAEA). O núcleo é referência mundial em pesquisa sobre a região, com
mais de 40 anos na formação de educadores e de produção de informação qualificada.
A socióloga natural da Venezuela é doutora
em História e Civilização - École des Hautes Études en Sciences Sociales,
Paris, França; pós doutorado na Université de Québec à Montreal, Canadá e no
Institut des Hautes Études de l'Amérique Latine (IHEAL), França. A professora é
radicada na Amazônia desde a década de 1970. Tem eivado esforços em pesquisas
sobre campesinato, quilombolas e cartografia social.
Os
protagonistas da intolerância em seus perfis declaram-se advogado e o segundo
agricultor nascido na cidade de Altamira, com formação no ensino médio.
Coimbra, diz ter como bandeiras a educação e a cultura. Entre seus projetos, o
parlamentar defende que as escolas de samba da capital sejam declaradas
patrimônios imateriais.
Em
seu perfil na assembleia, consta que Coimbra é especialista em Gestão Pública.
Tanto a graduação, quanto a pós foram realizadas em universidades privadas.
Grandes projetos e expropriações
A
cooptação e a negociata nebulosa integram o cenário que envolve a posse de
terras marcada sob o signo do caos fundiário na Amazônia.
O
projeto de mineração da Belo Sun faz parte de uma agenda de desenvolvimento que
aprofunda a condição colonial da região, como mera exportadora de matéria
prima. Tanto em Carajás, Xingu e no Baixo Amazonas a tendência é o aprofundamento
da base da economia extrativista. A
tendência é a consolidação das regiões como meros corredores de exportação de
commodities.
Os
projetos protagonizados por grandes corporações da economia mundo, entre elas a
Belo Sun, Cargil, Bunge, Xstrata, Alcoa, Vale, Odebrecht, Camargo Correa entre
outras, coloca em oposição a sobrevivência e a reprodução econômica, política e
social das populações locais em duas diferentes formas de uso dos recursos
naturais.
Sem
grandes distensões, os processos desde os tempos coloniais são marcados por
diferentes formas de violência. A atitude de intolerância do parlamentar e do
prefeito integra este caleidoscópio. Sublinhe-se que é recorrente tal atitude
em processos de licenciamento ambiental com tais demandas nas cidades distante
demais de palácios e catedrais.
No
Baixo Amazonas durante reuniões ou audiências públicas para a apresentação dos
precários relatórios de impactos ambientais, tem sido recorrente polarização
entre os afeitos aos projetos, e setores que defendem o meio ambiente, os
direitos humanos e o modo de vida das populações locais.
Carajás,
que experimenta há mais de 30 anos o extrativismo mineral é um dos casos mais emblemáticos
da fase conhecida como grandes projetos. É considerada a região onde mais se
mata pessoas envolvidas na luta pela terra no país, líder em desmatamento,
trabalho escravo, grilagem de terra, vulnerabilidade para as populações jovens,
e por aí vai.
Nos
dias atuais, experimenta mais um pacote de ação de reintegração de posse de
grilos ocupados pelo grande capital, a exemplo da empresa Santa Bárbara, do
banqueiro Daniel Dantas, do Banco Oportunity. Tal atitude desnuda a ação do
Estado em favor do grande capital.
O
judiciário, sempre ágil em expedir medidas reintegração de posses, tende a
demorar décadas até levar a julgamento pistoleiros e fazendeiros envolvidos em
execuções e chacinas de camponeses na Amazônia. A recente chacina de Pau D´arco
evidencia que não se trata de coisa do passado. Outra nuance é a criminalização
de lideranças que defendem o meio ambiente, direitos humanos e os povos ancestrais.
O
ato comandado pelo deputado Coimbra e prefeito Biancardi ultrapassa todos os
limites da falta de respeito ao conhecimento e à diferença de ideias sobre qual
(is) os projetos mais adequados ao desenvolvimento para a região. E não se
configura com o fato isolado.
Tem
sido recorrente a coerção contra servidores públicos do Ibama, Incra, MPs e universidades nas quebradas da Amazônia. Recentemente servidores da Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) passaram por algo similar no
sudeste do Pará.
Com
relação ao modelo baseado e grandes projetos há provas de sobra da sua inadequação
para o uso racional dos recursos, a equidade, a radicalização de serviços básicos
e o pleno direito à vida.
Escrevo
estas obtusas linhas como uma manifestação de solidariedade, afeto e admiração à
emérita educadora e intelectual orgânica Rosa Elizabeth Acevedo Marin.
SAIBA MAIS SOBRE O PROJETO AQUI
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2 comentários:
Só tem uma solução, formar comitês de luta contra o golpe e impedir os fascistas.
Maestri, boa noite. Grato pelo comentário. Urge uma avaliação do processo, e ações enérgicas com relação aos incitadores da violência dentro um ambiente acadêmico.
Att
Rogerio Almeida
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